Dom Messias despede-se do Clero de Uruaçu

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Em sua última reunião com o Clero da Diocese de Uruaçu, realizada no dia 3 de dezembro, Dom Messias participou com alegria, diálogo, oração e fraternidade, como sempre fez em seu ministério nesta Igreja particular. Abaixo, o texto na íntegra em que ele se despede do clero e deseja que o novo bispo tenha a mesma unidade que ele teve com o presbitério de Uruaçu.

Despedida do Clero de Uruaçu

Esta é a minha última reunião com vocês.

Hoje não trago uma palavra de orientação pastoral, mas uma palavra de gratidão começando por rememorar a dinâmica destas próprias reuniões.
Todos os meses tínhamos um encontro marcado.

Recordo-me da primeira reunião que participei foi em Rialma. Eu disse uma breve palavra e depois me afastei para que continuassem a reunião da Associação do Clero. Senti-me meio estranho invadindo o espaço da Associação do Clero. Depois acertamos que seria uma reunião do Bispo com os padres. A parte da manhã seria de encontro, formação, comunicação e depois a parte da tarde seria de lazer. Assim participei de inúmeras reuniões.

Essa é uma experiência que vou levar comigo para o resto da vida. Embora em Teófilo Otoni descobri que as reuniões são bimestrais com duração de dois dias. Assim acontece ali também a Atualização do Clero sempre com algum especialista tratando de algum tema.
Desde o dia de minha nomeação para TO teve início uma série de despedidas. Em todo lugar que vou acontece uma despedida. Isso tem dado visibilidade ao amor. Já vi muitas pessoas chorando dando-me o abraço do envio.

Aqui quero expressar o meu agradecimento aos senhores. Quando cheguei encontrei um clero muito bom. Seminário com um bom número de seminaristas. Uma Diocese bem estruturada. Economicamente equilibrada.

As minhas impressões foram de um clero muito respeitoso e com certo temor. Parecia tudo muito certinho. A imagem que me passava era a de um clero quase imaculado. Alguns chegavam a dizer que aqui não tinha os problemas de outras dioceses. Cheguei a pensar, mas será que não tem nenhum pecadinho. Aqui estou eu pecador no meio de um clero santo. Assim posso crescer. Eu queria ser alguém que veio para ajudar, embora estivesse consciente de minhas limitações.

Com o tempo as dificuldades foram aparecendo no meio da muitas virtudes. Descobri que era um clero gente, pessoa. Humano e creio que o próprio clero se sentiu assim. Viu que era humano com possibilidade de errar e acertar.

Fui dando abertura, pois queria correr o risco de sair, machucar e empoeirar como disse o Papa Francisco revelando as suas preferências por um jeito de ser Igreja. Algumas atitudes minhas espantaram como algumas reuniões com os padres.

A primeira reunião em minha casa. Chegaram todos no mesmo horário. Eu convidei para um aperitivo com cerveja, refrigerante e algumas coisas para comer. Um disse, aqui ninguém bebe. Somos todos abstêmios. E ficavam inquietos. Um me perguntou quando vai começar a reunião? Eu disse já começou. Eu os convidei para vir a minha casa. Para convivermos. Para estarmos juntos.

Outro susto foi quando liberei o celular para uso dos seminaristas.

Quando os convidava para ir à minha casa e alguns se perguntavam se eu não estava correndo o risco deles me influenciarem.

Quando disse que filhos de pais solteiros podiam ser batizados. Era um susto atrás do outro.

Quando acolhia, acompanhava os que estavam deixando o ministério e até oferecia uma ajuda financeira para recomeçarem a vida.

Quando confiei alguns cargos a padres mais novos.

Aqui encontrei a solidariedade de muitos padres que no particular me procuraram para expressar o apoio.

O clero de Uruaçu é muito bom. Esteve ao meu lado. Assumiu comigo a minha missão nesta Diocese.

O Bispo sozinho não consegue fazer nada. Os primeiros com os quais o bispo deve contar é com os sacerdotes. Contei com os senhores e recebi o apoio. Gosto a música de Moacyr Franco homenageando o pai do Pelé. “Não sei como aconteceu. Quando acordei eu já era eu. Não sei se foi por encanto e nem sei se mereço tanto. Mais da metade da vida já está cumprida. Agora a vida mudou. Outro jogo vai começar. Sozinho não sou ninguém.

Agradeço a você também. Você que me incentivou, você que me criticou. Missão está cumprida. Tudo pronto para a partida. Sozinho não sou ninguém. Deus vai ajudar também”.
Nossas últimas palavras são quase sempre recordadas. Elas soam como testamento.
Quero dizer que me entristecia quando alguém dizia que o Bispo é como o sol. Não se pode aproximar muito que se queima. Eu sempre quis ser próximo e percebi que os padres tem liberdade para estarem perto de mim. Na verdade existem muitas outras queimaduras não porque se aproxima, mas porque se afasta do Bispo.

Façam todo esforço para nunca perderem a comunhão com o Bispo. Acredito muito na Eucaristia como Pão da unidade. Sempre que percebia algum distanciamento de algum sacerdote por algum acidente do percurso pastoral, o trazia mais profundamente para a Eucaristia. A unidade acontecia, mesmo que demorasse um pouco. Quando apresentei ao Papa Bento, na Visita Ad Limina, uma situação complicada que estava vivendo na Diocese, ele não deu resposta, mas disse “Deus vai nos ajudar a resolver os problemas na sua Igreja”. Isso me bastou. Foi e é um conforto para mim.

Vai chegar um novo Pastor. Acolha aquele que vem em nome do Senhor. Ele é um enviado.
A transferência do bispo para alguns pode soar como oportunidade de se relaxar, pois pode entender que assumiu o compromisso de obediência com quem o ordenou. A obediência é com os sucessores também. Espero que continue a história bonita de relacionamento deste clero com o bispo.

O administrador será eleito pelo colégio de consultores. No dia da eleição eles vão se reunir para uma manhã de oração. Seria muito bom que todas as paróquias também tivessem uma manhã de vigília. Creio que a eleição será muito rápida.

Seria interessante que vocês dissessem na próxima reunião não o nome do candidato, mas o perfil do Administrador esperado para ajudar aos Consultores a tomarem a decisão.
Sei que vou sentir saudades do clero de Uruaçu. Sei que vou, pois é um clero que amei e amo. É um clero que esteve ao meu lado nas horas boas e difíceis.

O Imaculado Coração de Maria derrame suas bênçãos sobre nós.

Tudo o que fiz foi feito por amor. Dom Alberto Taveira me aconselhou no dia de minha ordenação. O segredo é amar. Guardei isso comigo. O segredo para um bom ministério é amar.

Enfim peço orações por mim e convido a irem a Teófilo Otoni quando puderem.
Muito obrigado.