Padres celebram o Dia de Oração pela Santificação dos Sacerdotes

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Os padres da Diocese de Uruaçu rezaram na manhã desta sexta-feira (28) Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, pelo ministério presbiteral e pelos padres do mundo inteiro, neste Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes. (SAIBA MAIS)

A Santa Eucaristia foi presidida pelo nosso Administrador Diocesano, Pe. Francisco Agamenilton Damascena e concelebrada pelo Mons. José Francisco, bispo eleito da Diocese de Ipameri (GO); Mons. Jurandir Antônio de Souza e demais sacerdotes na Catedral Imaculado Coração de Maria, em Uruaçu (GO).

Participaram do momento também os seminaristas, alguns paroquianos, religiosas e consagrados.

HOMILIA NA SOLENIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELA SANTIFICAÇÃO DO CLERO
URUAÇU, 28 DE JUNHO DE 2019

Prezado Mons. José Francisco Rodrigues do Rêgo, bispo eleito de Ipameri, prezados padres, seminaristas, religiosos e religiosas, leigos e leigas a serviço da liturgia, consagrados, leigos e leigas vindos das 35 paróquias desta Diocese, prezados internautas e radiouvintes da Rádio Coração Fiel.

Ao ouvir a Palavra de Deus salta-nos aos olhos a bondade, a ternura e a misericórdia divinas expressadas na figura de Cristo Bom Pastor que tem um coração ardente de amor por nós.

Caros irmãos padres, inúmeras vezes anunciamos e pregamos esta verdade aos fieis! E

hoje o fazemos novamente: “Alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!” (Lc 15,6); “Como o pastor toma conta do rebanho, de dia, quando se encontra no meio das ovelhas dispersas, assim vou cuidar de minhas ovelhas” (Ez 34,12).
Hoje estas ovelhas não são os outros; somos nós sacerdotes. A ovelha perdida sou eu, é você. A jornada de hoje dedicada à Oração pela Santificação do Clero nos põe diante de dois aspectos existenciais da nossa vida sacerdotal: primeiro: somos chamados à plena comunhão com Deus; segundo: somos pecadores. Por isso, somos destinatários do divino pastoreio.

Nós, sacerdotes, também somos objetos especiais da misericórdia deste Pastor e não apenas vocês com quem somos cristãos e para quem somos pastores. Deus ama você, sacerdote. Jesus Cristo é para mim, é também para você, Padre, porque somos pecadores. Ele é o nosso Salvador e Redentor. O perdão de Deus é para você também. No Coração de Jesus há sempre lugar para o seu ministro ordenado.

O cuidado deste Pastor é igualmente para você, presbítero. Continuamente Deus olha para você com olhar terno. Aliás, foi este olhar que nos conquistou quando estávamos em algum lago da vida fazendo nossas pescas. Hoje, em nossos dias presbiterais, Ele nos dispensa seus cuidados de alegria nos dias de tristezas, de presença amiga e certa nos dias de solidão, de consolo nos dias de frustações, de repouso nos dias de cansaço, de perdão nos dias de pecado, de renovada esperança nos dias em que pensamos que nada adiantará, cuidados de paz quando o mundo fora de nós se envenena com o relativismo, hipocrisia e divisões.

Deste amor-perdão doado nasce e renasce o empenho de amar o Senhor como convém. É a dinâmica do amor: amor recebido, amor doado. E a primeira pessoa a ser amada por nós é Deus, fonte do amor ao próximo. Para nós sacerdotes, este movimento santificante se dá no amar o Pai e o seu povo do jeito de Jesus, ou melhor, amar com o amor de Jesus. E isso é tarefa de uma vida inteira. Contemplando a bondade, a misericórdia e a ternura de Jesus Cristo expressados no seu Sagrado Coração somos impulsionados a continuar crescendo nos seus mesmos sentimentos a fim de que as pessoas tenham vida e a tenham em abundância. A solenidade de hoje convida os cristãos católicos a se exercitarem nas virtudes que animaram o Divino Coração, especialmente nós padres. Corresponde-nos amar a Deus, ao próximo e a nós mesmos do jeito de Jesus sacerdote, cabeça e pastor. Este é um elemento do núcleo de nossa identidade sobre o qual se decide a nossa santificação. Hoje é o Dia de Oração pela Santificação dos Sacerdotes. Pensar em nossa santidade é pensar na meta de nossa vida. A meta de nossa vida se refere a nossa vocação. A nossa vocação é questão de ser. Portanto, para ser santo basta ser o que nós somos. É questão de identidade. Isto me faz recordar as palavras do Cardeal Dom Falcão, arcebispo emérito de Brasília, na celebração dos seus 70 anos sacerdotais: “não vou fazer a homilia porque os meus 70 anos de padre já falam de Jesus crucificado”. Eis uma vida configurada a de Jesus Cristo.

O Papa Francisco, referindo-se a nossa identidade, disse na homilia da Missa Crismal, em 2014: “muitos, falando da crise de identidade sacerdotal, não têm em conta que a identidade pressupõe pertença. Não há identidade – e, consequentemente, alegria de viver – sem uma ativa e empenhada pertença ao povo fiel de Deus (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 268). O sacerdote que pretende encontrar a identidade sacerdotal indagando introspectivamente na própria interioridade, talvez não encontre nada mais senão sinais que dizem ‘saída’: sai de ti mesmo, sai em busca de Deus na adoração, sai e dá ao teu povo aquilo que te foi confiado, e o teu povo terá o cuidado de fazer-te sentir e experimentar quem és, como te chamas, qual é a tua identidade e far-te-á rejubilar com aquele cem por um que o Senhor prometeu aos seus servos. Se não sais de ti mesmo, o óleo torna-se rançoso e a unção não pode ser fecunda”.

Ser um padre santo é ser quem nós somos: simplesmente padre; ser padre. Alegremo-nos irmãos por isso. Alegremo-nos por ser padre. Promovamos a nossa autoestima sacerdotal! O mundo não fará isso para nós. Depende somente de nós: reencontrar nossa identidade e se alegrar com ela. Ser padre: ser um sinal visível da presença de Deus e do seu amor pela pessoa humana.

Para algumas pessoas isso não tem mais sentido. Ser padre não parece ser mais viável nesta sociedade. Aliás, na sociedade plural, estão deixando o padre de fora. O Papa Francisco fala dessa situação e nos chama a atenção para a tentação do cansaço da esperança. Em sua homilia na Missa com sacerdotes, consagrados e movimentos leigos, na Catedral-Basílica de Santa Maria la Antigua, no Panamá, em janeiro passado, ele explicou: o cansaço da esperança “surge quando o sol, no pino – como sugere o Evangelho –, irradia a pique os seus raios, tornando as horas insuportáveis, e fá-lo com tal intensidade que não deixa avançar nem olhar para diante. Como se tudo ficasse confuso. […] cansaço que nasce ao olhar o futuro quando a realidade me cai em cima pondo em questão as forças, os recursos e a viabilidade da missão neste mundo, que não cessa de mudar e interpelar. É um cansaço paralisador. Nasce de olhar para a frente e não saber como reagir face à intensidade e incerteza das mudanças que estamos atravessando como sociedade. Tais mudanças parecem não só pôr em questão as nossas modalidades de expressão e compromisso, os nossos hábitos e atitudes ao enfrentar a realidade, mas frequentemente colocam também em dúvida a própria viabilidade da vida religiosa no mundo atual. E a própria velocidade destas mudanças pode levar a imobilizar opções e opiniões e, aquilo que outrora poderia ser significativo e importante, hoje parece que já não tem lugar. Irmãs e irmãos, o cansaço da esperança nasce da constatação duma Igreja ferida pelo seu pecado e que, muitas vezes, não soube escutar tantos gritos nos quais se escondia o grito do Mestre: ‘Meu Deus, porque me abandonaste?’ (Mt 27, 46). Deste modo, podemos habituar-nos a viver com uma esperança cansada perante o futuro incerto e desconhecido, e isto faz com que se instale um pragmatismo cinzento no coração das nossas comunidades.

Aparentemente tudo parece continuar dentro da normalidade, mas na realidade a fé deteriora-se, degenera. Comunidades e presbíteros decepcionados com uma realidade que não compreendemos ou na qual pensamos já não haver lugar para a nossa proposta. E, assim, podemos conferir ‘cidadania’ a uma das piores heresias possíveis no nosso tempo: pensar que o Senhor e as nossas comunidades não têm mais nada para dizer nem dar a este mundo novo em gestação (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 83). Então aquilo que um dia nasceu para ser sal e luz do mundo, acaba por oferecer a sua versão pior. A fadiga da viagem sobrevém e se faz sentir. Quer queiramos quer não, ela existe e será bom termos a mesma coragem que demonstrou o Mestre ao dizer: ‘Dá-Me de beber’. Como aconteceu à Samaritana e pode suceder a cada um de nós, não queremos aplacar a sede com uma água qualquer, mas com aquela ‘fonte de água que dá a vida eterna’ (Jo 4, 14). Como bem sabia a Samaritana que, desde há anos, carregava cântaros vazios de amores falidos, também nós sabemos que nem qualquer palavra pode ajudar a recuperar as forças e a profecia na missão. Nem qualquer novidade, por mais sedutora que pareça, pode aliviar a sede. […] ‘Dá-Me de beber’ é aquilo que pede o Senhor e é o que Ele nos pede para dizer. Ao dizê-lo, abrimos a porta da nossa esperança cansada para voltar, sem medo, ao poço originário do primeiro amor, quando Jesus passou pelo nosso caminho, olhou-nos com misericórdia, escolheu-nos e pediu que O seguíssemos; ao dizê-lo, recuperamos a memória daquele momento em que os seus olhos cruzaram os nossos, o momento em que Ele nos fez sentir que nos amava, que me amava, e não só como indivíduo, mas também como comunidade (cf. Francisco, Homilia na Vigília Pascal, 19/IV/2014)”.

Olhemos novamente para Jesus em seu Sagrado Coração. Deixemo-nos ser reencontrados por Ele para encontrarmos nós mesmos quem somos. Permitamos que Ele nos coloque em seus ombros com alegria e, chegando a casa, reúna os amigos e vizinhos e diga: “alegrai-vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!” (Lc 15,6). Preparemos a mesa e façamos o banquete para juntos cearmos e vocês terem vida e vida em abundância.

Veja as fotos (Fonte: Pascom da Paróquia Sant’Ana – Uruaçu)