Começou nesta segunda-feira, 20, a visita Ad Limina Apostolorum dos Regionais Noroeste e Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Pode-se dizer que a visita começou com o momento principal, pois depois de celebrar a Eucaristia junto ao túmulo do apóstolo Pedro, os 17 bispos presentes e o administrador da diocese de Roraima se encontraram com o Papa Francisco, o sucessor de Pedro. Até então, a visita ao Sucessor de Pedro era um dos últimos momentos da agenda das visitas Ad Limina do Brasil.
O recém nomeado cardeal e arcebispo de Manaus (AM), dom Leonardo Steiner, definiu o encontro com o Santo Padre como um: “momento para viver a catolicidade, um momento de alegria”. Aos pés do túmulo onde está sepultado o primeiro Papa, dom Leonardo expressou a alegria das Igrejas dos regionais Norte 1 e Noroeste, destacando, a partir da sua experiência em Manaus, o carinho enorme que o Povo de Deus tem pelo Papa; “Nós nos alegramos com nossas comunidades”, disse.
Segundo o arcebispo de Manaus “o túmulo de Pedro, para nós bispos, tem o significado não apenas do primado”, destacando o caráter extraordinário da figura de Pedro, “porque tem muitas fragilidades, tem muitas fugas, muitas pedras, mas um homem de fidelidade”. Dom Leonardo Steiner afirmou, se dirigindo aos bispos, que “na figura de Pedro, nós nos vemos, nos entendemos e compreendemos como pessoas, mas nos vemos, nos entendemos e nos compreendemos também como bispos”, ressaltando que fazem parte desse ministério de séculos.
Diante do túmulo de Pedro, o “cardeal do Amazonas” insistiu aos bispos que peçam a graça da fidelidade e da gratidão “por podermos exercer na Igreja esse ministério ao serviço das nossas comunidades”. Dom Leonardo, fazendo um elo com as palavras de São Paulo, disse que “a força não está em nós mesmos, a força está no ministério recebido”. Diante da tentação de centrar tudo em si próprio, chamou a perceber que “a força do Espírito, a força do Reino de Deus, esteja a guiar as nossas Igrejas e a guiar nosso próprio ministério”.
O arcebispo de Manaus chamou os bispos a descobrirem “a nossa finitude, que é cheia de fragilidade, fraqueza, sendo o próprio ministério que liberta, na medida em que vamos retornando, nos entusiasmando, buscando, servindo, nos entregando, fazendo ver a necessidade de sair das amarras de si mesmos e das amarras do sistema”.
Diante do túmulo de Pedro, dom Leonardo agradeceu aos papas que o nomearam, insistindo em que não se trata de promoção, mas de uma graça dada por Deus. Ele ressaltou ainda que é um serviço à Igreja, que tem que ser feito com alegria.
Momento inesquecível e memorável
A celebração eucarística foi seguida por “um encontro inesquecível e memorável”, segundo o bispo de São Gabriel da Cachoeira (AM) e presidente do regional Norte 1 da CNBB, dom Edson Tasquetto Damian. A audiência com o Santo Padre durou mais de duas horas, tendo início com a saudação pessoal a cada um dos membros da Visita ad Limina. O Papa foi recebendo e se interessando pelos presentes de cada uma das igrejas particulares.
Ainda emocionado, o presidente do regional Norte1 insistiu em que o Papa Francisco disse logo no início: “aqui eu quero que vocês digam tudo o que quiserem, perguntem tudo o que quiserem, façam críticas também, aqui precisa liberdade, porque quando não há liberdade, não existe diálogo”. Palavras que, segundo dom Edson, deram passo a um longo diálogo em que o Papa “foi ouvindo as perguntas, as colocações de cada um”.
O Bispo de São Gabriel da Cachoeira agradeceu ao Papa Francisco pelo Sínodo para a Amazônia e o Sínodo sobre a Sinodalidade. Ele, que é bispo da diocese com a maior porcentagem de população indígena do Brasil, expressou ao Santo Padre o grande agradecimento dos povos indígenas “porque pela primeira vez, são escutados, e eles se sentiam tão felizes”, destacando o trabalho fantástico de escuta feito no processo sinodal do Sínodo para a Amazônia, algo que está sendo repetido com o Sínodo atual, mostrando o Papa aos povos indígenas, “como ele os leva a sério”.
O Papa pediu aos bispos que “escutem os povos indígenas, escutem as comunidades de base. Que o Espírito Santo age através dessas pessoas, dos pobres da Igreja, e vocês estão na fronteira, vocês estão com os mais pobres, vocês estão onde eu gostaria de estar”.
Em relação com o Sínodo atual, dom Edson Damian afirmou que “este Sínodo é colocar em prática as intuições mais profundas do Concílio Vaticano II, é voltar àquilo que a Igreja sempre devia ser e ela acabou perdendo, a sinodalidade, onde a Igreja é o Povo de Deus, unido com seus pastores, todos caminhando juntos”.
O presidente do Regional Norte1, falando da Praedicate Evangelium, ressaltou que segundo o Papa Francisco “é o resultado de 9 anos de trabalho da Igreja, com aquele grupo de cardeais que me ajudaram muito, e já dá para sentir esse espírito todo, que é a nossa Igreja que está predicando o Evangelho, o Evangelho acima de tudo, anunciar o Evangelho, e o Evangelho deve chegar a todos os povos, a começar pelos pobres, pelos migrantes, por aqueles que estão nas fronteiras”.
Finalmente, o bispo de São Gabriel da Cachoeira destacou das palavras do Papa, que ele disse que “mesmo sendo dois regionais, vocês são profundamente unidos, estão sintonizados. Todas as perguntas que vocês fizeram foram complementando o nosso diálogo, esclarecendo esse encontro que me deixa profundamente feliz”.
Um encontro em um ambiente tranquilo, como ficou comprovado no último momento, quando o Papa Francisco recebeu de dom Edson Damian um cocar, confeccionado pelas mulheres indígenas, em nome dos povos indígenas da Amazônia. Brincando, o Papa Francisco perguntou sorrindo se era uma mitra, e logo disse: “vocês imaginam se eu aparecesse em São Pedro com isto?”, provocando a risada dos bispos.
Com informações de Luis Miguel Modino - Regional Norte 1 CNBB
Fonte: CNBB