Homilia na íntegra do Dia de Oração pela Santificação do Clero

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O sacerdote é um ser pequeno diante da grandeza da santidade de Deus. Mas Deus conta com os pequenos para realizar grandes maravilhas no mundo. Ele mesmo no mistério da encarnação se tornou pequeno para abrir o caminho da santificação da humanidade. Nesta manhã estamos clamando ao nosso Deus Santo e Forte que nos chamou ao sacerdócio para que nos ajude a não abandonarmos o caminho da santidade. No coração de Cristo encontra-se o coração dos sacerdotes quer estejam bem, ou passando por alguma dificuldade. Ele convida a quem está cansado e fatigado a se aproximar dele, pois nele está o descanso. Sabemos que o ministério se não for amado provoca cansaço e crises. Cumprir tarefas sem amar gera cansaço e desânimo. O Papa Francisco tem nos alertado sobre o perigo do ativismo que esvazia. O ativismo é uma espécie de desamor e de auto promoção. O sacerdote precisa descansar um pouco no seu dia junto ao coração de Jesus. Precisa reclinar-se sobre o peito de Jesus como fez o discípulo amado. Temos muito que aprender com o Coração santo e humilde de Cristo.
“Jesus manso e humilde de coração fazei o nosso coração semelhante ao vosso”, assim rezam piedosamente os que desejam crescer na participação da vida de Cristo. É preciso recuperar a humildade de saber que o crescimento da Igreja não depende do nosso ativismo, mas do amor que colocamos nas coisas que Deus nos pede para realizarmos. Nem sempre Deus deseja que façamos tudo o que fazemos na nossa correria do dia a dia. Não adianta fazer muitas coisas descuidando da nossa saúde espiritual. Todo padre na Diocese tem um plano de saúde para cuidar da sua saúde física, faz consultas, exames e até cirurgias se necessário. Todo padre precisa também de um plano de saúde espiritual para ajudá-lo no cuidado de sua santificação. E precis fazer uso deste plano de saúde espiritual. Quando nossa santificação está em crescimento a comunidade cresce junto conosco. Neste caso a saúde espiritual se difunde na comunidade e Deus revela mistérios que não podem ser descobertos através da sabedoria do mundo.
É bela a oração de Jesus no Evangelho que ouvimos. “Eu te louvo ó Pai, Senhor do céu e da terra porque escondeste estas coisas aos Sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11,25). Hoje a Igreja se reúne para rezar pelos pequenos de Deus. Normalmente se vê o sacerdote como o homem grande nas dimensões: espiritual, intelectual, administrativa e social. Ele é visto como o expoente na comunidade. Muitas vezes ele é cobrado para que seja grande. Outras vezes as pessoas o fazem grande para além da suas capacidades.
A Liturgia da solenidade de hoje nos faz pensar no pequeno, no menor que é sempre o escolhido para que Deus se manifeste. A humildade do sacerdote o leva muitas vezes a se perguntar: “Por que sou eu o escolhido do Senhor, e não outro que tem mais dons do que eu”? Deus que conhece a pessoa por dentro e por fora chama os colaboradores na sua Igreja e os forma com dons especiais. Ele capacita os chamados. A santidade é um dom de Deus. É preciso permitir que sejamos capacitados por Deus na santidade. Somos um mistério a ser trabalhado por Deus. Deus sabe que nossa santidade é necessária na sua Igreja, por isso ele a planta em nossas vidas, mas cultivá-la depende de nós.
Recordemos o início da primeira leitura de hoje e procuremos aplicar essa santa palavra a nossa vida e missão.
“Tu és um povo consagrado ao Senhor teu Deus. O Senhor teu Deus te escolheu dentre todos os povos da terra, para seres o seu povo preferido. O Senhor se afeiçoou a vós e vos escolheu, não por serdes mais numerosos que os outros povos – na verdade sois o menor de todos -, mas sim porque o Senhor vos amou e quis cumprir o juramento que fez a vossos pais” (Dt 7,6-8). Deus escolheu um povo menor e naquele povo pequeno fez cumprir sua promessa.
Para crescer na santidade se faz necessário sentir-se necessitado desta graça e buscá-la constantemente.
A mensagem do Presidente da Comissão para os Ministérios Ordenados e Vida Consagrada nos ajuda a pensar na nossa santificação em vista das nossas ações pastorais. Por que fazer pastoral? Vejamos o que nos diz dom Pedro Brito:
 “A santidade, além de ser um projeto pessoal de vida, deve ser também um projeto pastoral. São João Paulo II, no ano 2000, assim se expressou: “em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para onde deve tender todo o caminho pastoral é a santidade” (NMI 30). E o apóstolo Paulo: “A vontade de Deus é que sejais santos” (1 Ts 4,3). Tudo na vida e na missão de um sacerdote deve ter a marca da santidade. Sem santidade, estamos sem horizonte, não somos nada, não valemos nada e não fazemos nada de bom.
 No Cenáculo, durante a Última Ceia, ao instituir a Eucaristia, o mandamento do amor fraterno e o sacerdócio ministerial, Jesus, o Santo e a fonte de toda santidade, revelou aos seus discípulos um dos seus desejos mais profundos: “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanece na videira, assim também vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, e vós, os ramos” (cf. Jo 15,4-5). Permanecer em Jesus é a alegria verdadeira de nossa vida. Sem Ele, tudo em nossa vida emudece e perde sentido. Pois, foi Ele mesmo quem disse: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5). Decorrem desta íntima união com Jesus Cristo a conversão pessoal e pastoral, a solicitude pastoral pelos pobres e sofredores e o ardor missionário. Em outras palavras, a santidade.
 Hoje, mais do que em tempos passados, o sacerdote deve ser o homem de Deus. Aquele que não se mantiver firme na fé, alegre na esperança, perseverante na oração e firme nas tribulações (cf. Rm 12,12), terá vida breve e estéril” (Mensagem de Dom Pedro Brito, Presidente da Comissão para Ministérios Ordenados e Vida Consagrada).
A santificação da nossa vida faz parte da nossa qualificação enquanto ministros de Cristo. Desejo que nosso presbitério seja cada dia mais humano, feliz e santo. As pessoas da comunidade e os próprios irmãos no ministério podem e devem ajudar nosso presbitério a prosseguir na santificação de vida: rezando, dando o bom testemunho, sendo uma presença cristã, fraterna e solidária na vida dos sacerdotes. Um sacerdote santo será um bem imenso para a Igreja. Continuem a rezar pela santificação de nosso presbitério e rezem também por minha santificação. Tenho muito que andar nesta estrada da santidade. Não quero parar nesta etapa em que me encontro. Se eu parar neste estágio vou prejudicar a mim e a Igreja. Deus quer mais de mim e de todos nós. O Sagrado Coração de Jesus nos encha de confiança na capacitação que Deus está realizando em nossa vida. Permitamos sermos capacitados por Deus, na santidade.
Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo Diocesano
Diocese de Uruaçu