Novena de Natal

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Estamos vivendo um tempo em que nossas famílias se encontram “distantes dos próximos”, de modo especial pelas mídias digitais, mas também não tendo tempo para o culto a Deus, seja por motivo de trabalho ou dos afazeres domésticos, os filhos na televisão ou no celular ou no computador. Perdemos o hábito de nos desligar por um momento, seja antes do jantar ou antes de dormir para rezarmos juntos em família, lendo a Palavra de Deus ou rezando o Santo Rosário. Até mesmo perdemos o hábito de conversar sobre o dia de cada um, o que viveu naquele dia, sejam as alegrias ou as tristezas. Estamos numa vida muito corrida onde não conseguimos mais “nos reunirmos à mesa” para as refeições, muitas vezes o esposo toma refeição em frente à TV, os filhos diante do computador ou do videogame e, muitas vezes, a esposa acaba se alimentando sozinha na cozinha, além de ficar com os outros afazeres.

A Família de Nazaré vem nos ensinar a importância da oração em família. José, que era um homem “justo” e fiel à lei de Deus, antes de começar os seus afazeres do dia ou após terminá-los, reunia-se com Maria e Jesus para rezar. E Jesus aprendeu bem isso, porque quantas vezes nós podemos observar na Sagrada Escritura Jesus em Oração, a sós ou com os discípulos, mesmo antes de sua morte, na Quinta Feira Santa, antes de ser preso, Jesus estava em constante oração com os discípulos, entoando os Salmos — e tudo o que Jesus realizava, Ele estava em plena comunhão com o Pai. Maria também era a plena de graça e sempre em sintonia com o plano de amor de Deus para a sua vida. Deve ter sido a primeira catequista de Jesus, ensinando a Ele os preceitos judaicos e a Palavra de Deus. Era a “mulher do silêncio” que conservava tudo em seu coração.

Os primeiros catequistas dos filhos são os pais. As crianças deveriam aprender em casa as primeiras orações cristãs, mas, muitas vezes, as crianças chegam na catequese paroquial, sem saber nem as mais simples orações. Devemos, sobretudo, neste mundo de hoje, rezar em família, ensinar os nossos filhos a rezar ao acordar ou antes de dormir.

Por isso, nossas famílias, neste Natal, devem se inspirar na família de Nazaré e, juntas, diante da Manjedoura de Jesus, preparar o nosso lar, a nossa vida e o nosso coração para a chegada d’Ele. E ter a possibilidade de chamar mais pessoas para participar desse momento, outras famílias se juntarem a nossa, para fazer um grande grupo de oração preparando a chegada de Jesus. A Novena de Natal pode ser tão rica, que essas mesmas famílias que se reunem para rezar, não se reúnam apenas para preparar o Natal, mas também em outros momentos, a começar em nossa própria casa.

A Novena de Natal nos coloca no Espírito do Natal, nos faz entender que o Natal não é apenas a troca de presentes, como muitas vezes o comércio, a televisão e outros meios nos mostram. Não é apenas mais um feriado para curtir, para viajar. O Natal é muito mais do que isso: é a celebração do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Com a Novena de Natal, conhecemos melhor a Sagrada Família de Nazaré, conhecemos melhor o “sim” de Maria, observamos como podemos ser fiéis à Lei de Deus, como José foi. Podemos ver a maternidade de Maria e a paternidade de José, que inteiramente se doaram para educar Jesus.

Através da Novena de Natal podemos observar as dificuldades que Maria e José passaram logo que Jesus nasceu. Foram refugiados para o Egito, para, só depois da morte de Herodes, poderem voltar para sua terra. E, assim, durante os encontros da Novena de Natal, podemos trazer para a nossa vida presente, esses fatos que aconteceram com a Família de Nazaré. E ver que a vida da nossa família, mesmo em meio às dificuldades, está abençoada por Deus.

Portanto, a Novena de Natal tem uma grande importância na vida de nossa família, nos ajuda ver o verdadeiro sentido do Natal, a nos reunir para rezar como família cristã e a partilhar aquilo que temos a mais com aqueles que menos tem. Podemos propor como gesto concreto da nossa Novena de Natal, arrecadar alimentos e doar para famílias carentes — muitas poderão ter um Natal “diferente” com a nossa ajuda. O Natal nos ensina isso: a sermos mais solidários e fraternos com aqueles que pouco ou nada têm.

Da apresentação da Novena de Natal da Arquidiocese do Rio de Janeiro, de 2019, ressaltamos: “Com Jesus no presépio, a Festa do Natal nos faz contemplar aquele que o mundo não pôde conter e, no entanto, coube no ventre de Maria e veio assumir uma vida humana, com todas as suas limitações e finitudes. Aquele que esperamos e finalmente chega, nos revela o mistério de Deus, que agora se faz próximo a ponto de podermos contemplá-lo na indefesa figura de um bebê recém-nascido. O Papa Francisco tem insistido em sermos uma Igreja missionária, cada vez mais “em saída”. Aproveitemos essa novena para assumirmos uma atitude missionária, ou seja, celebrarmos cada dia em uma casa, principalmente daqueles que não aprenderem sobre a beleza do amor de Deus, que enviou o Menino Jesus para nós. Se para elas as reflexões forem difíceis de entender, as dinâmicas, ao contrário, serão interessantes”.

Que neste Natal, o Menino Jesus possa nascer em cada lar, em cada coração, para cada vez mais termos um coração solidário, fraterno, disponível em ajudar o próximo. E que dentro de nossos lares predominem o diálogo, a vida de oração e o amor mútuo.

“Naquele tempo, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’ Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse-lhe: ‘Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim’. Maria perguntou ao anjo: ‘Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?’ O anjo respondeu: ‘O Espírito virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível’. Maria, então, disse: ‘Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!’ E o anjo retirou-se” (cf. Lc 1,26-38).

Convido, portanto, todos os fiéis de nossa Arquidiocese para a celebração da Novena de Natal, nas famílias, nos comércios, nas ruas, nas comunidades, nas Capelas e nas Paróquias. Que da celebração da Novena de Natal brotem em nossos corações um novo ardor missionário de anúncio e de testemunho do Evangelho, como nos pede o Papa Francisco, de uma Igreja em saída ao encontro de todas as gentes. Que os grupos da novena de Natal sejam sementes de comunidades eclesiais missioárias que sejam a igreja capilarmente presente em todo o seu território.

Que este texto nos ajude a iniciar bem nossa preparação para a Novena de Natal em família e que o sim de Maria nos inspire.

Cardeal Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)