“Perseguição aos cristãos e martírio”: tema do Ratzinger Schülerkreis 2017

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“Perseguição aos cristãos e martírio”. Este será o tema da próxima reunião do Ratzinger Schülerkreis – o círculo de ex-alunos de Bento XVI – que terá início em setembro.

O tema foi antecipado à ACI Stampa por Stephan Horn, que foi assistente do Professor Ratzinger e atualmente coordena o circuito de ex-alunos, assim como o Novo Schülerkreis, um grupo de jovens que tem dedicado estudos e teses ao pensamento de Bento XVI.

O Papa emérito não estará presente, naturalmente, como tem acontecido desde que decidiu se retirar para se dedicar inteiramente à oração. Mas, um pequeno grupo irá visitá-lo na conclusão do encontro, dando a conhecer a ele o tema das conferências e dos debates.

Os relatores

Como no ano precedente, também em 2017 serão dois os palestrantes. O primeiro será Monsenhor Helmut Moll, que já é membro do Ratzinger Schülerkreis. Foi ele que compilou o “Martirológio alemão”, o livro da Conferência Episcopal Alemã publicado em memória aos mártires do século XX.

O teólogo alemão recolheu testemunhos de cem mártires e vítimas do século passado, reunindo-os em um livro que teve várias edições. A quinta remonta a 2010. Entre as biografias, estão a de alemães assassinados em Papua Nova Guiné, Filipinas e América Central.

Um trabalho que envolveu 160 especialistas, dioceses e Ordens religiosas, que no total recolheram 900 biografias de mártires alemães, reunidos em quatro categorias: vítimas do nazismo, vítimas do comunismo, martyrium purtatis de jovens, mulheres e religiosas; missionários mortos. Por este trabalho, iniciado em 1994, Monsenhor Moll foi chamado como palestrante à Schülerkreis.

O outro palestrante é o Bispo Manfred Scheuer, de Linz. Ele foi postulador da Causa de Beatificação de Franz Jägerstätter (1897 – 1943), o cidadão e sacristão da Diocese de Linz, que havia rejeitado qualquer colaboração e apoio aos nazistas quando haviam tomado o poder em 1938. Para ele, cristianismo e nacional-socialismo eram incompatíveis e inconciliáveis e por isto não queria fazer parte da Wermacht. Foi condenado à morte e decapitado em 9 de agosto de 1943, em Brandeburg Havel.

Este, precisamente, será um dos temas, ao lado de outra Causa de Beatificação da sua diocese: a de Johann “Papà” Gruber, sacerdote diocesano de Linz, que havia administrado antes de ser preso – e depois do Campo de Mathausen – uma organização de socorro e informação, que distribuía refeições e roupas de forma escondida, salvando assim a vida de muitos prisioneiros com aquela que ficou conhecida como “a sopa Gruber”, até seu martírio, em 7 de abril de 1944, após intermináveis torturas. Era uma Sexta-feira Santa.

Continuidade de temas

O percurso iniciado pelos membros do Ratzinger Schülerkreis é um percurso de continuidade. De fato, falou-se da “Eclipse de Deus na História”, depois da crise da Europa, e neste ano, o martírio dos cristãos.

A Eclipse de Deus na história, cria a crise atual. Uma crise que se abate sobre a Europa, que perdeu as suas raízes e com isso, a capacidade de ser “comunidade de destino”, na definição do Professor Weiler, um dos palestrantes do Schülerkreis em 2016.

E porque é precisamente na Europa sem raízes que tem lugar uma perseguição sutil, que toca a consciência e a própria essência do ser humano, enquanto no Oriente Médio e em outras áreas de conflito os cristãos são mortos pelo simples fato de serem cristãos.

Os temas de Bento XVI

São os temas que Bento XVI desenvolveu, no decorrer de sua carreira acadêmica, com extraordinária lucidez, e que hoje aqueles que estudam seu pensamento levam em frente, conscientes de que é ali que se jogam os maiores desafios.

E não seria a primeira vez que do Schülerkreis emergem sinais premonitórios. Por exemplo, em 2012 – o último com Bento XVI Papa – falou-se de “Resultados e questões ecumênicas no diálogo com o luteranismo e o anglicanismo”, já percebendo aquelas sementes de diálogo que se desenvolveriam com o tempo.

Nascimento do Schülerkreis

Bento XVI gostava de estar atualizado sobre tudo, sendo ele mesmo a escolher a cada ano o tema do encontro, aprovando também os seus palestrantes.

Foi assim desde 1977, quando o Professor Ratzinger foi nomeado Arcebispo de Munique-Frisinga. Os encontros continuaram quando Joseph Ratzinger foi nomeado em 1983 Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.

Quando foi eleito Papa em 2015, os seus ex-alunos chegaram a pensar que estes encontros se interromperiam. Se equivocaram. Bento XVI quis continuar. E os encontros continuaram mesmo após a renúncia, se bem que Bento XVI preferiu não participar dos debates, mas simplesmente celebrar uma Missa conclusiva junto com os membros do Schülerkreis e do jovem Schülerkreis, jovens estudiosos da obra teológica de Jospeh Ratzinger, que neste tempo haviam se unido ao grupo.

Os membros do Schülerkreis

Entre os participantes do encontro, estão, por exemplo o Padre Cornelio del Zotto, o único italiano, que vem da Tanzânia,  e escreveu sob a supervisão de Ratzinger uma tese sobre teologia da imagem em São Boaventura, objeto de estudo também do próprio Ratzinger, quando era estudante. Publicado em 1977, o livro de del Zotto teve o Prefácio escrito pelo Cardeal da Baviera.

Entre os ex-alunos do Papa emérito, encontra-se o Cardeal Arcebispo de Viena, Cristoph Schönborn, convidado para participar dos encontros desde que tomou parte na redação do Catecismo da Igreja Católica, que em 2017 completa 25 anos.

Presentes ainda o Bispo Auxiliar de Hamburgo, Dom Hans-Jochen Jaschke, o Secretário do Pontifício Conselho para a Cultura, Arcebispo Barthélémy Adoukonou, junto com docentes, párocos, religiosos, religiosas e leigos.

Repassando a lista de mais de 50 nomes, é possível encontrar o redentorista Rèal Tremblay, o teólogo moralista Vincent Twomey e a coreana Jung-Hi Victoria Kim, que nos anos de estudo em Regensburg escreveu – sob a supervisão de Ratzinger – uma tese em que confrontou a “caritas” em Tomás de Aquino e o “jen”, conceito central no confucionismo; mas também Padre Joseph Fessio – que não participa mais –  jesuíta, editor de Ignatius Press, formado em Regensburg com Ratzinger, em 1975, com uma tese sobre “Eclesiologia de von Balthasar”.

Os jovens do Schülerkreis

Participam desta “família teológica” os membros do “Novo Schülerkreis”, ou seja, um círculo de 31 jovens teólogos, formados em 2008. É um “laboratório ecumênico”, pois entre eles estão também jovens ortodoxos, que podem assim desfrutar da orientação de teólogos que trabalharam com Bento XVI, sobre quem se multiplicam as teses de mestrado e doutorado, a tal ponto que a Fundação Ratzinger passou a reunir grupos de doutorandos que estudam o pensamento de Bento XVI.

Por Rádio Vaticano