Hoje, estava lembrando da minha pequenininha. Na lembrança, ela estava tão linda, com um lacinho cor-de-rosa, blusinha e sapatinho da mesma cor. Enquanto ela esteve em meus braços, o céu azul se abriu novamente para mim. Meus olhos se depararam com a imensa ternura daquele pedacinho de gente, aquelas mãozinhas lindas, com dedos longos e firmes. Seus olhos estavam pesados, pois acabara de mamar, como se tivesse acabado de ouvir durante horas sons de violino.
Ainda assim, pude sentir o cheirinho de bebê, a mãozinha que apertava o último dedo da minha mão direita. Se juntarmos essa sequência de fatos, posso anunciar que descobri a matemática da felicidade. São pequenas lembranças formadas em momentos breves, porem únicos; são incontáveis sentimentos, como em uma tempestade que enxuga a alma do meu coração tristonho.
Algumas vezes dava para vê-la sorrindo. Entre uma e outra abertura de olhos, a chupeta arriscava sair da boca, mas retornava. Por alguns instantes, minha solidão, meu desassossego, minha canção do exílio foram tiradas de mim.
Meu peito enchia-se de alegria, pois havia ali um amor maior que a minha existência. Eu necessariamente vivi para entender e compreender que ainda não sei amar: minha filha sim. Nos trinta minutos seguintes, minha família se uniu, fizemos planos rasos sob o rosto um do outro.
Nunca ignorei o fato de que a existência daquelas orelhinhas que agora estavam usando brincos, eram fruto de um pensamento que foi se materializando em uma pretensão de raios de luz, paz e carinhos. Já não conseguia mais identificar outra forma de externar minha gratidão a Deus, senão através dos meus olhos cheios d`água. Talvez minhas lágrimas fossem um desejo inconsciente da minha princesa de conhecer o mar como vira em mim, sob uma completa serenidade, que dava até para dormir.
Caminhando ao redor da sala, fiz com que as pisadas acompanhassem a respiração da minha bonequinha, que não chorou, só queria estar quentinha, pertinho dos meus braços, como se ainda estivesse no ventre da mãe. Naquele instante, vi que tudo que fiz na vida era tão insignificante e que por mais que as ciências tentassem explicar o que eu sentia, jamais haveria outro barulhinho de gatinho ou cabelinho de anjo que extraisse de mim tanto amor.
Agradeço mais uma vez ao meu grande pai que me permitiu estar aqui para presenciar todos os detalhes inclinados da experiência divina, cuja missão somos predestinados na condição de pais. Mais que isso, admiro a coragem daqueles que entendem tal dádiva como um presente, falo sobre as pessoas que em sua profissão auxiliam, orientam e ajudam pessoas em desespero a encontrarem a paz no coração.
Tenho grande apreço por aqueles que se mantêm firmes na tarefa de serem bons, educadores, porque de críticos o mundo está cheio. A minha filha se tornou uma grande professora, me ensinando lições sobre nobreza, paciência, entrega, liberdade e amizade, institutos familiares que perdem sentindo ante as palavras e ideias erradas que julgamos entender nos livros. Ela me mostrou que a saudade é o pior sentimento do mundo.
Hoje tornou-se importante para mim, todos os dias reconhecer a dureza e suavidade da existência: tornei-me mais humano por causa da minha vida. Para que serve a vida, senão para nos fazer merecedores de coisas grandiosas?
Analisando o que me ocorreu hoje, entendo que há grandeza em ser bom, contudo, a bondade em si não é privilégio dos nobres, pois todos a possuem. Percebo que a vontade de fazer tudo na vida dar certo, não tem grande diferença quando nos deparamos com os imprevistos.Planos se desfazem e projeções melhores de repente acontecem..
E quando acordamos, o sol voltou mostrando seu brilho para as coisas importantes, nesse ciclo infinito de beleza e sinceridade que nos esquecemos. Os cálculos, toda a gama de princípios aprendidos, de nada valem quando a maior emoção da vida é apenas o querer bem das pessoas amadas.
Aprendi novamente isso hoje. Talvez amanhã eu aprenda sobre créditos de carbono. O fato é que, nesse dia, me dispus a interpretar todo o conhecimento que me foi ensinado por uma criança. E quantas crianças, sejam novas ou idosas existem no mundo que podem nos ensinar algo de bom e valioso?
Termino minha dissertação com uma teoria quântica bem simples: Amor¹ + Amor² = Família³.
Por Obvious via Aleteia