É preciso manter a esperança mesmo diante da crise política e econômica
O amargor da falência das esperanças pesa forte sobre os ombros da humanidade. As derrocadas políticas com reflexos nas relações e nos funcionamentos em diferentes segmentos das civilizações obscurecem horizontes. Os fracassos na economia – com tiranos mecanismos que provocam o empobrecimento – e nas relações interpessoais, apagam a luz da esperança. E essa luminosidade, quando perdida, inviabiliza as reações. A escuridão prevalece, impossibilitando encontrar caminhos novos. Mas para ir em frente e fazer a travessia dos vales da sombra, é imprescindível cultivar a esperança, capaz de nutrir os corações e as inteligências com a realidade do amor e do bem que transformam o mundo.
Esperança que pode ser recuperada com a força e a fascinante facilidade da comunicação na partilha, em tempo real, dos acontecimentos mundo afora. A capilaridade dessa rede de informações reúne a sociedade, grupos e segmentos em torno das mesmas questões, desafios e preocupações. Também aponta para uma exigente tarefa: a responsabilidade e o desafio posto à cidadania de como lidar com as notícias boas, más, verdadeiras ou falsas.
Singular contribuição para refletir sobre esse desafio está na mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações, celebrado no último domingo de maio, Festa Litúrgica da Ascensão do Senhor. O Papa se refere aos antigos pais na fé, que comparavam a mente humana à mó de azenha – tipo de moinho movido pela força da água que não se podia parar. Ao moleiro cabia decidir se moeria na azenha o trigo ou o joio, e escolher o fermento que leveda a massa, dando-lhe forma e gosto ou o contrário, aquele que a estraga. A referência à mó de azenha é para remeter à enorme responsabilidade que está na condução e na conformação da mente humana que nunca para, está sempre em ação. Importa a atenção e a responsabilidade moral que determinam o material que a fornecemos, minuto a minuto.
O “alimento” fornecido à mente pode produzir luzes de esperança que alargam horizontes com realismo, ou a precipitação da sociedade, de suas instituições e de seus funcionamentos na vala do fracasso. O propósito, pois, é investir em uma comunicação construtiva ao “moer” as informações, conforme diz o Papa Francisco, para oferecer um “pão perfumado e bom”. Assim, de modo qualificado, constroem-se compreensões. São favorecidos os discernimentos para as decisões que determinam os rumos da vida de cada pessoa e de toda a sociedade. É, pois, grave e urgente a responsabilidade cidadã de investir em uma comunicação construtiva, pela rejeição de preconceitos contra outras pessoas. O vetor permanente, indica o Papa Francisco, deve ser a promoção da cultura do encontro, para que o brilho do olhar da esperança permita ler, interpretar e tratar a realidade com confiança, altruísmo e competente sabedoria. Assim é possível descobrir e trilhar rumos novos e superar fracassos.
Obviamente, isso não significa promover desinformação ou fazer “vista grossa” ante os cenários de dramas humanos, adotando otimismo ingênuo e isentando-se, por insensibilidade ou indiferença, da tarefa de vencer o mal. Situar-se nos horizontes da esperança é iluminar o caminho que precisa ser percorrido para avançar. Permite reconfigurar mecanismos de funcionamentos governamentais, sociais, administrativos e culturais. Sublinha o Papa Francisco: “Para um tempo novo de esperanças, é preciso superar o mau humor e a resignação, que lançam a pessoa na apatia, produzem medos e a incompetência que advém da convicção falsa de que não é possível impor limites ao mal.” Diante da responsabilidade de reconstruir a sociedade, nenhum cidadão tem o direito de abdicar-se do esforço necessário para acender em si a chama da esperança. Também precisa assumir o compromisso de contribuir para iluminar o coração, a mente e a consciência do próximo com a chama da esperança. O passo primeiro, na avalanche de tantas informações ruins, é narrar boas notícias.
Para os cristãos, o ponto de partida e a fonte perene da esperança é Jesus Cristo, a Boa Nova que tem força para mudar o mundo, alimentando a alegria de servir e promover a vida. Ninguém tem o direito de aparar as chamas da esperança, valendo-se de lamúrias, maledicências, apatias, preguiças e mesmo da projeção de negatividades que forjam leituras pessimistas da realidade. Que a chama da esperança acesa em cada cidadão, pelas boas notícias que encantam e curam, possibilite novas dinâmicas e solidariedades, necessárias para se alcançar a almejada paz mundial e dissipar a corrupção que encharca a sociedade brasileira. Sejam alargados os horizontes de esperança.
Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo – Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte