A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém mostra o rei pobre que vem apresentar uma nova ordem social. O Rei não vem para governar de cima para baixo, ou seja, não vem impor fardo pesado de impostos, de comando do poder para massacrar e tirar o sono dos sem nada. Ele quer fazer um reino diferente, em que a pessoa humana é o maior tesouro, que deve ser respeitado. O Rei vai julgar e condenar os sem misericórdia com o semelhante. Quem tem mais deve servir mais. Os possuidores de fortunas têm grande responsabilidade em contribuir com a maioria empobrecida. O maior diante de Deus não é o que possui mais e sim quem dá mais de si pelo bem do semelhante!
Os ramos jogados à passagem do Rei não podem ter efeito de homenagem ao Rei se não forem para cada um comprometer-se com a nova mentalidade de ajudar a implantar um reinado da justiça, do entendimento, da superação da violência, da solidariedade e da paz. Só deve louvar aquele que vem com o novo reinado e quem estiver disposto a se despir do egoísmo, da atitude de se julgar superior aos outros, de deixar de ostentar vaidade e falta de compromisso com a promoção do bem comum.
O Rei pobre oferece sua vida para implantar nova ordem social, em que cada um dá de si pela promoção de quem é deserdado da vida digna. O profeta lembra sobre sua atitude: “Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba” (Isaías 50, 6). A petulância de quem se julga com o direito de escarnecer do Rei sofredor mostra a insanidade do ser humano que judia dos pequenos, pensando que ficará impune sua atitude diante do julgamento de Deus. Essa atitude continua a se efetivar com os poderosos que não deixam os pobres se erguerem de sua vida segregada e injustiçada. Jesus continua a sofrer vexames em inúmeras pessoas que não são atendidas adequadamente em suas necessidades mais elementares. Assim não sobra dinheiro para o atendimento da saúde, da educação, da segurança, do transporte e tantas outras carências de grandes parcelas da população. A fome ainda grassa um quarto da população terrestre, enquanto o desperdício de alimento se verifica.
As guerras matam muito no planeta; talvez não mais que no Brasil, onde mais de sessenta mil pessoas são assassinadas por ano e mais de cinquenta mil morrem no trânsito! O Filho de Deus quer entrar no coração de quem trabalha para superar as agressões à vida. Ele é o Deus da vida e não da morte. Veio para dar vida. Seu reinado é o da vida. Ele morreu na cruz para dizer-nos que também nós devemos dar a nossa para a promoção do reinado da vida no planeta. Nós o aclamamos bendito porque não veio tirar nada do que é nosso e sim dar-nos a base de sustentação da vida, que é o amor. Este nos faz doar-nos para a promoção de quem mais precisa de suporte para ter vida digna e de sentido!
A aclamar o Filho de Deus como nosso Rei comprometemo-nos em implantar os valores de sua pessoa e se seus ensinamentos em nossa convivência. Assim teremos mais promoção do bem comum. Implantaremos mais solidariedade. Conforme o lema da Campanha da Fraternidade, reconhecemos que “somos todos irmãos”.
Por Dom José Alberto Moura – Arcebispo Metropolitano de Montes Claros (MG)