A Igreja celebra a solenidade do Sagrado Coração de Jesus na sexta-feira da semana seguinte à Festa de Corpus Christi. É uma das grandes festas depois da retomada do tempo comum pós páscoa. O coração é mostrado como símbolo do amor de Deus. No Calvário o soldado abriu o lado de Cristo com a lança (Jo 19,34). Diz a Liturgia que “aberto o seu Coração divino, foi derramado sobre nós torrentes de graças e de misericórdia”. Jesus é a Encarnação do Amor de Deus, e seu Coração é o símbolo desse Amor. Por isso, encerrando um conjunto de grandes Festas (Páscoa, Ascensão, Pentecostes, Santíssima Trindade, Corpus Christi), a liturgia nos leva a contemplar o Coração de Jesus.
O Sagrado Coração é a imagem do amor de Jesus por cada um de nós. É a expressão daquilo que São Paulo disse: “Eu vivi na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2,20). É o convite a que cada um de nós retribua a Jesus este amor, vivendo segundo a Sua vontade e trabalhando com a Igreja pela salvação das almas.
Vários santos veneraram o Coração de Jesus. Santo Agostinho disse: “Vosso Coração, Jesus, foi ferido, para que na ferida visível contemplássemos a ferida invisível de vosso grande amor”. São João Eudes, grande propagador desta devoção no século XVII, escreveu o primeiro ofício litúrgico em honra do Coração de Jesus, cuja festa se celebrou pela primeira vez na França, em 20 de outubro de 1672.
A revelação particular da religiosa Santa Margarida Maria Alacoque, na França aprofunda o tema do “Coração que tanto amou os homens e é por parte de muitos desprezado”. Santa Margarida teve como diretor espiritual o padre jesuíta São Cláudio de la Colombière, canonizado por São João Paulo II, e que se incumbiu de propagar a grande Festa.
O Papa Clemente XIII aprovou a Missa em honra do Coração de Jesus e Pio X, dia 23 de agosto de 1856, estendeu a Festa para toda a Igreja a ser celebrada na sexta-feira da semana subsequente à festa de Corpus Christi. O papa Leão XIII consagrou o mundo ao Sagrado Coração de Jesus. Paulo VI disse certa vez que ela é garantia de crescimento na vida cristã e garantia da salvação eterna.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem a sua origem na própria Sagrada Escritura. O coração é um dos modos para falar do infinito amor de Deus. Este amor encontra seu ponto alto com a vinda de Jesus. A devoção ao Sagrado Coração de um modo visível aparece em dois acontecimentos fortes do evangelho: o gesto de São João, discípulo amado, encostando a sua cabeça em Jesus durante a última ceia (cf. Jo 13,23); e na cruz, onde o soldado abriu o lado de Jesus com uma lança (cf. Jo 19,34). Em um temos o consolo pela dor da véspera de sua morte, e no outro, o sofrimento causado pelos pecados da humanidade.
O Papa São João Paulo II sempre cultivou esta devoção, e a incentiva a todos que desejam crescer na amizade com Jesus. Em 1980, no dia do Sagrado Coração, afirmou: “Na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a liturgia da Igreja concentra-se, com adoração e amor especial, em torno do mistério do Coração de Cristo. Quero hoje dirigir juntamente convosco o olhar dos nossos corações para o ministério desse Coração. Ele falou-me desde a minha juventude. Cada ano volto a este mistério no ritmo litúrgico do tempo da Igreja”.
Entre as muitas e importante recomendações provindas da revelação particular de Santa Margarida Maria, uma delas é que aos que fossem devotos do Sagrado Coração chamando a atenção para a comunhão nas nove primeiras sextas-feiras de cada mês. Esta devoção, em sua forma atual, deve-se às revelações recebidas por Santa Margarida Maria (1649-1690), sobretudo quando em 16 de junho de 1657, vendo o coração de Jesus: “Eis aqui este Coração que amou tanto aos homens, que não omitiu nada até esgotar-se e consumir-se para manifestar-lhes seu amor, e por todo reconhecimento, não recebe da maior parte mais que ingratidão, desprezo, irreverências e tibieza que têm para mim neste sacramento de amor”.
Jesus deu a sua servidora o encargo de que se tributasse culto a seu Coração e a missão de enriquecer ao mundo inteiro com os tesouros desta devoção santificadora. O objeto e fim desta devoção é honrar o Coração adorável de Jesus Cristo, como símbolo do amor de um Deus para nós; e a vista deste Sagrado Coração, abrasado de amor pelos homens, e ao mesmo tempo desprezado por estes, nos deve mover a amá-lo e a reparar a ingratidão de que é objeto.
Nesta tão sublime solenidade do Coração de Jesus, queremos pedir ao Senhor que de a paz a todos os corações, pois, vivemos num momento onde muitos optam pela violência. A violência vai contra os princípios morais e éticos e ainda religiosos. Deus é amor e paz. Que o nosso coração possa unir ao Coração Sagrado de Jesus.
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)