Cristo, nossa Páscoa e nossa Paz

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A violência cria um muro de separação entre “nós” e “os outros”. Será isto o que Deus quer para a humanidade? Claro que não! “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), disse Jesus. A grande notícia que celebramos no tríduo pascal (Paixão-Morte-Ressurreição de Jesus Cristo) é que Ele “quis criar em si mesmo um homem novo, estabelecendo a paz” (Ef 2,15). Sim, “Cristo é a nossa paz” (Ef 2,14). São Paulo explica que esta paz é fruto da cruz de Jesus Cristo: “Quis reconciliá-los (judeus e pagãos) com Deus num só corpo, por meio da cruz; foi nela que Cristo matou o ódio” (Ef 2,16). A cruz de Cristo é fonte de paz para a humanidade, pois nela o ódio foi morto! Jesus nos ensinou, por todo seu sofrimento inocente, que o único remédio para superar o ódio é o amor.Anunciamos a esperança de um modo de viver diferente, pois em Cristo o bem é infinitamente maior do que o mal, por mais terrível que se apresente. A Páscoa nos convoca a vivermos como pessoas novas, reconciliadas, pacificadas e pacificadoras.

Nos dias da Semana Santa, sobretudo na Sexta-feira da Paixão, mais uma vez, os católicos ouvem os relatos da violência que se desencadeou sobre o inocente, o “Servo Sofredor” (cf. Is 52,13-53,12).Neste último Cântico do Servo Sofredor, Isaías profetizou o que aconteceria a Jesus. Parece uma descrição da cena da crucificação: “Ele não tinha nem aparência nem beleza para atrair o nosso olhar, nem simpatia para que pudéssemos apreciá-lo” (Is 53,2). Jesus foi condenado e crucificado como nocivo para o povo. “Ela (a Luz) veio para a sua casa, mas os seus não a receberam” (Jo 1,11). A humanidade de ontem e de hoje tem dificuldade de acolher o inocente e justo. Este é o verdadeiro pecado, não acolher aquele que nos salva, que nos traz a paz. Na sua Paixão, sobre ele se abateunossas maldades. Maspelas suas chagas fomos salvos (cf. Is 53,5). Aceita estar nas mãos dos perseguidores. Não responde à violência, nem com a violência e nem com palavras. Fica em silêncio. É entregue de mão em mão, mas livremente faz sua entrega interior. Renuncia à defesa, ao direito de dizer “eu sou inocente” e mostrar a injustiça da sua paixão. Renuncia recorrer a Deus. Não pede a Deus para intervir. Silencia. Não escolhe o caminho da violência (cf. Is 53,7). Uma ovelha mansa. Como o Profeta Jeremias parece dizer: “A ti confio minha causa” (Jr 20,20). Somente um grande silêncio. Será que o mal, a violência, a injustiça, o pecado e a opressão haverão de triunfar sempre?

Mas “o meu servo vai ter sucesso” (Is 52,13). “Por meio dele, o projeto do Senhor triunfará. Pelas amarguras sofridas, ele verá a luz. […] O meu servo justo devolverá a muitos a verdadeira justiça, pois carregou o crime deles” (Is53,10.11). Sua entrega fiel e unicamente vivida no amor, recebeu do Pai a confirmação na sua Ressurreição. Ele introduziu na humanidade uma “luz”, a reconciliação com Deus, pelo perdão redentor, e a possibilidade da reconciliação como caminho de fraternidade. “Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa notícia, que anuncia a salvação” (Is 52,7).

Toda vez que somos promotores da paz, permitimos que a força do Ressuscitado, que vive entre nós, triunfe e Ele continue, nos difíceis dias de hoje, a reconciliar, perdoar e pacificar. O Senhor Ressuscitado diz a todos nós, como aos seus discípulos: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19). Feliz e Abençoada Páscoa a todos. Cristo, nossa Páscoa, é a nossa paz!

Por Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta