Estamos no tempo comum. Após a Festa do Batismo do Senhor iniciamos a primeira semana. Agora vivemos já o segundo domingo desta primeira parte desse tempo que vai, neste ano, da segunda-feira após o domingo do Batismo do Senhor até à terça-feira antes da Quaresma. Como viver o Mistério da Encarnação recentemente celebrado no mundo atual anunciando permanentemente o Reino Deus? Estamos, portanto, iniciando a segunda semana desse tempo em que a cor predominante da liturgia é a verde: verde de quem caminha no dia-a-dia cheio de esperança, porque sabe que o Filho de Deus veio habitar entre nós, entrou nos nossos tempos para santificar os pequenos e aparentemente insignificantes momentos de nossa vida: “O Verbo se fez carne e armou sua tenda entre nós” (cf. Jo 1,14). Para nós, nunca mais o tempo, a vida e a história humana serão a mesma coisa! Agora, tudo tem o gosto da presença de Deus, nossos tempos têm sabor de eternidade, gostinho da vida de Deus, do companheirismo misericordioso de Deus. Então, que este Tempo Comum seja, para todos quantos, tempo de graça, tempo de vigilância amorosa, tempo de esperança invencível!
Na segunda leitura deste domingo, São Paulo (cf. 1Cor 1, 1-3) lembra a sua vocação a Apóstolo e a vocação de todos à santidade. Continua o Apóstolo: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação…” (cf. 1Ts 4, 3). O próprio Jesus ordena: “Sede perfeitos, assim como o Pai celeste é perfeito” (cf. Mt 5, 48). Como prova concreta desses sentimentos do Senhor, contamos com a o sacramento do perdão (confissão – reconciliação), que nos concede as graças necessárias para lutarmos e vencermos os defeitos que talvez estejam arraigados no nosso caráter, e que são muitas vezes a causa do nosso desalento. No sacramento da confissão renovamos as forças e nos é dada a graça perdida pelo pecado. Peçamos ao Senhor: Senhor, ensinai-me a arrepender-me, indicai-me o caminho do amor! Movei-me com a vossa graça à contrição quando eu tropeçar! Que as minhas fraquezas me levem a amar-vos cada vez mais!
O Evangelho (cf. Jo 1, 29-34) mostra o início da missão de Jesus. João Batista O apresenta: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (cf. Jo 1,29). Ele é o ungido do Senhor. Ele batizará no Espírito. Ele é o Filho de Deus. Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado mundo, anuncia São João Batista; e este pecado do mundo engloba todo o gênero de pecado: o original, que em Adão afetou também os seus descendentes, e os pessoais, dos homens de todos os tempos. No Cordeiro de Deus está a nossa esperança de salvação.
João Batista reconheceu em Jesus este Messias, tão humilde e tão grande: ele é o próprio Deus: “passou à minha frente porque existia antes de mim!” (cf. Jo 1,30) E como Deus feito homem, ele é o único e absoluto Salvador de todos – e não há salvação sem ele ou fora dele! João Batista reconhece nele o ungido, aquele sobre quem o Espírito “desceu e permaneceu” (cf. Jo 1,32). O próprio Jesus dará testemunho desta realidade: “O Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4,18-19). João reconhece Nele ainda aquele que, cheio do Espírito Santo, batizará no Espírito Santo: “Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer, este é o que batiza com o Espírito Santo” (cf. Jo 1,33). Batizando-nos no Espírito, este Santíssimo Jesus-Messias dá-nos o perdão dos pecados, a sua própria vida divina e a graça de, um dia, ressuscitar dos mortos!
“Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (cf. Jo 1,29). Essas palavras soam aos nossos ouvidos em cada Santa Missa ao aproximar-se um dos momentos mais sublimes do sacrifício eucarístico, a comunhão. E nós respondemos: “Senhor, eu não sou digno (…)”. Jesus Cristo vem a nós em cada celebração eucarística. Não nos esqueçamos, no entanto, de que a graça da comunicação de Deus conosco passa pelo sacrifício do seu filho, Cordeiro oferecido ao Pai que, com a sua obediência e com o seu amor, tira o pecado do mundo. De fato, essas palavras do Evangelho segundo S. João aludem ao sacrifício redentor de Jesus Cristo.
O sacrifício está presente em toda a Sagrada Escritura; também o está nas diversas religiões. O ser humano sempre sentiu o desejo de oferecer dons a Deus. A universalidade desse fato nos mostra que é uma tendência natural do ser humano dirigir-se à divindade ofertando-lhe algo. Nas pessoas há tendências universais, independentemente da cultura na qual estejam integradas: a consciência de limitação e de culpa; a intuição de que existe um ser que está acima de todos, criador e providente (= Deus).
Jesus entrou no céu com todos os méritos conseguidos na sua vida terrena. Esses méritos são infinitos porque são os méritos do Filho de Deus, que é Deus. Apresentando-se ao Pai com o seu Mistério Pascal, Jesus envia desde o santuário celeste esse mesmo Mistério, a sua Páscoa, à humanidade. Como? Através da Missa, que é a atualização dos Mistérios de Cristo, cujo central é a Cruz gloriosa, isto é, a sua Morte e Ressurreição, que mereceu também o envio do Espírito Santo. Em cada Missa, faz-se presente, atual, o Mistério da Cruz gloriosa e, ao entrarmos nesses raios divino-humanos da Eucaristia, somos redimidos, salvados, santificados e glorificados antecipadamente.
No dia seguinte a esse domingo, 20 de janeiro, iremos celebrar o nosso excelso padroeiro São Sebastião. Convido a todos os fiéis para a Missa na Basílica de São Sebastião, dos freis capuchinhos, às 10hs. No mesmo local, às 15hs nos reuniremos para o Terço da Misericórdia, sendo que às 16hs sairá a procissão desta Basílica para a Catedral Metropolitana, na Avenida Chile, aonde, também, presidirei Santa Missa, onde o nosso futuro Bispo Auxiliar, Mons. Tiago Estanislau fará seus compromissos públicos de obediência à Igreja, unidade profissão de Fé como pedem os documentos da Igreja quando alguém recebe um ofício eclesiástico. Nestes dias de trezena aprendemos que São Sebastião é um ardoroso missionário: vamos nos espelhar nele para, como discípulos-missionários de Jesus nós possamos, até mesmo dar a nossa própria vida para anunciar e testemunhar o Redentor. Que o Santo protetor contra a peste, a fome e a guerra interceda por nós e pela almejada paz para a nossa cidade!
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro