A Constituição Gaudium et Spes (Alegria e Esperança) do Concílio Vaticano II é conhecida como “Carta Magna da Pastoral Social”. Muitos problemas que são da ordem do dia foram objeto da leitura pastoral dos Padres Conciliares que, no exercício de seu profetismo, escreveram documentos que evidenciam o vínculo missionário da relação entre a Igreja e o mundo. A atualidade da Gaudium é a confirmação da palavra de Jesus dirigida aos seus discípulos: estar no mundo sem ser do mundo. Essa palavra tem o mesmo significado e contém a mesma exigência para os cristãos nesta segunda década do século 21.
Algumas situações são contempladas na Gaudium et Spes. “Uma tão rápida evolução, muitas vezes processada desordenadamente e, sobretudo, a consciência mais aguda das desigualdades existentes no mundo, gera ou aumenta contradições e desequilíbrios. (…) No seio da família originam-se tensões, quer devido à pressão das condições demográficas, econômicas e sociais, quer pelas dificuldades que surgem entre as diferentes gerações, quer pelo novo tipo de relações sociais entre homens e mulheres. (…) Grandes discrepâncias surgem entre as raças e os diversos grupos sociais; entre as nações ricas, as menos prósperas e as pobres; finalmente, entre as instituições internacionais, nascidas do desejo de paz que os povos têm, e a ambição de propagar a própria ideologia ou os egoísmos coletivos existentes nas nações e em outros grupos. Daqui nascem desconfianças e inimizades mútuas, conflitos e desgraças, das quais o homem é simultaneamente causa e vítima” (GS, n. 8).
Essa Constituição Pastoral mantém a mesma linha diante de outros assuntos que dizem respeito à pessoa, à família, à sociedade: “Entretanto, vai crescendo a convicção de que o gênero humano não só pode e deve aumentar cada vez mais o seu domínio sobre as coisas criadas, mas também lhe compete estabelecer uma ordem política, social e econômica, que o sirva cada vez melhor e ajude indivíduos e grupos a afirmarem e desenvolverem a própria dignidade. Daqui vem a insistência com que muitos reivindicam aqueles bens de que, com uma consciência muito viva, julgam-se privados por injustiça ou por desigual distribuição. As nações em vias de desenvolvimento, e as de recente independência, desejam participar dos bens da civilização, não só no campo político mas também no econômico, e aspiram a desempenhar livremente o seu papel no plano mundial; e, no entanto, aumenta cada dia mais a sua distância, e muitas vezes, simultaneamente, a sua dependência mesmo econômica com relação às outras nações mais ricas e de mais rápido progresso. Os povos oprimidos pela fome interpelam os povos mais ricos. As mulheres reivindicam, onde ainda a não alcançaram, a paridade de direito e de fato com os homens. (…) O mundo atual apresenta-se, assim, simultaneamente poderoso e débil, capaz do melhor e do pior, tendo patente diante de si o caminho da liberdade ou da servidão, do progresso ou da regressão, da fraternidade ou do ódio. E o homem torna-se consciente de que a ele compete dirigir as forças que suscitou, e que tanto o podem esmagar como servir. Por isso se interroga a si mesmo” (GS n. 9).
O olhar dos Bispos no Concílio Vaticano II enxergou a realidade do mundo hoje e, assim, persistirá esse estilo de vida, no futuro, se a sociedade civil e o universo político não procurarem o caminho da justiça e paz nas relações pessoais e institucionais.
Por Dom Genival Saraiva – Administrador Apostólico da arquidiocese da Paraíba