Amar de verdade não é fácil, porque significa comprometer-se. Podemos citar o caso de duas pessoas que se dizem realmente amar independentemente das situações e problemas que possam aparecer. Mas é um tema muito discutido entre pessoas que tiveram experiências negativas na convivência. No início o amor era tudo, mas que caiu no esvaziamento. Era realmente amor?
Em seus ensinamentos, Jesus diz que o verdadeiro amor significa doação, serviço ao próximo, despojamento de todos os interesses individualistas e prática do que não favorece o outro. O ideal do amor como gratuidade é lindo, mas entra em confronto com a cultura do capitalismo e da violência. Quem ama preserva a vida em todas as suas dimensões e a vê como dom de Deus.
O amor de Deus é providente, porque cuida até dos lírios do campo (Mt 6,30). Valoriza os mínimos detalhes da natureza, porque tudo tem sua finalidade e seu valor. Sinal de que não podemos descartar os dons da criação, principalmente a pessoa humana, porque ela é criada à imagem e semelhança do Criador. Em respeito à gratuidade do amor, toda a natureza merece ser valorizada.
Uma das características do amor é a liberdade, e fomos criados livres. Mas muitas coisas nos aprisionam e nos escravizam. É o caso do apego exagerado ao dinheiro, capaz até de desmoronar a solidez de um amor consolidado. Em vez de confiança no outro, ela fica apoiada na conta bancária e no acúmulo. Acontece uma mudança de valores, porque o ter sacrifica a identidade do ser.
Amor com gratuidade aproxima a pessoa do Criador e a faz feliz, porque vê nos outros a imagem e a semelhança de Deus. A existência de cada pessoa revela a vida como um dom. Tudo isto é fruto do uso correto da liberdade, que consegue enxergar a beleza da criação como fruto da bondade divina e não como propriedade e domínio da criatura humana com suas fraquezas e limites.
Quem realmente pratica a justiça faz sua vida ser pautada pela fraternidade e se deixa conduzir pela providência divina. O amor marcado pela verdadeira gratuidade precisa ser todo entranhado pela sabedoria dos ensinamentos de Deus. Do contrário, ela não passa de ação recheada de orgulho, vazia e não dura muito. O amor na gratuidade não combina com atos de orgulho próprio.
Por Dom Paulo Mendes Peixoto – Arcebispo de Uberaba, MG