O tema parece bastante abrangente, mas pode ser visto de diversos ângulos e interpretado na ótica de quem o faz. Se for numa visão de fé, dizemos que tudo está nas mãos de Deus e ganha um significado de caminho de salvação do ser humano. Tudo que existe na história foi criado em função da pessoa humana, que também foi criada, mas à imagem e semelhança de seu Criador.
Se Deus é o autor e o criador do tempo e da história, e quer a salvação da humanidade, Ele pode realizar sua vontade até mesmo através de caminhos tortuosos. No campo da moral cristã, o ser humano não pode usar do mal para conquistar o bem. Pior ainda quando explora o bem público, que deveria estar a serviço da coletividade, direcionando-o para práticas egoístas e injustas.
A história da humanidade tem percorrido caminhos que vão à contramão dos indicativos de Deus. Isso acontece tanto no campo político como no religioso. Não é respeitado o princípio jurídico bíblico do “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). Nem se sabe se é justo o alto valor cobrado nos impostos exigidos pelas autoridades brasileiras, e nem para onde vai!
No campo religioso, o tipo de prosperidade proclamada fere o sentido da vida cristã. Cai na mesma atitude dos políticos corruptos, porque os objetivos não são coletivos, facilitando a prática da corrupção e do enriquecimento ilícito. O pior é que isso é feito em nome de Deus, atuação que não passa de uma perfeita idolatria. Deus é instrumentalizado em benefício de atos escusos e desonestos.
Existe um projeto divino, que ninguém é capaz de impedir, como instância última de toda a história da humanidade. Mesmo no meio de situações incongruentes, o plano infinito de Deus não vai deixar de ser realizado. É uma promessa profética, que não falha e está acima de qualquer sentimento subjetivamente pessoal. É a humanidade deixando de ser histórica para ter a plenitude em Deus.
Na vida prática, a fé é um modo de a pessoa viver, podendo contribuir com a ação libertadora de Deus. O plano universal não depende de nossa fé, mas conta com a colaboração de todos até chegar à eternidade. É um caminho de liberdade pessoal, e quem usa bem desse instrumento, lucra benesses em sua trajetória histórica. Fazer o bem oportuniza também receber o bem.
Por Dom Paulo Mendes Peixoto – Arcebispo de Uberaba (MG)