A missão é constitutiva da identidade da Igreja chamada pelo Senhor a evangelizar todos os povos. Sua razão de ser e agir como fermento e como alma da sociedade, que deve renovar-se em Cristo e transformar-se em família de Deus. Neste ano em que comemoramos o 10º aniversário da V Conferência do Episcopado Latino Americano e Caribenho em Aparecida recordamos a importância da “missão permanente” dos discípulos missionários para que nossos povos em Cristo tenham vida. É o momento de animar a vocação missionária dos cristãos, fortalecer as raízes de sua fé e despertar sua responsabilidade para que todas as comunidades cristãs ponham-se em estado dessa missão permanente. Trata-se de despertar, nos cristãos, a alegria do Evangelho para uma igreja em saída e a fecundidade de serem discípulos de Jesus Cristo, celebrando com verdadeiro gozo o “estar-com-Ele” e o “amar-com-Ele”, para serem enviados para a missão.
A missão nos leva a viver o encontro com Jesus num dinamismo de conversão pessoal, pastoral e eclesial, capaz de impulsionar à santidade e ao apostolado os batizados e de atrair pelo contágio os que abandonaram a caminho, os que estão distantes do influxo do Evangelho e os que ainda não experimentaram o dom da fé. Outubro é o mês missionário, um dos meses temáticos, assim como o mês de agosto é dedicado às vocações e setembro à Bíblia. Depois de termos iniciado no hemisfério sul a primavera, outubro é um tempo forte para se intensificar as orações e os trabalhos de missão. A dimensão missionária é a mais profunda identidade da Igreja, ou como recorda o Papa Francisco em sua mensagem para o Dia Mundial das missões: “A missão no coração da fé cristã”. A Igreja existe para continuar a missão de Cristo aqui na terra. No primeiro dia do mês a Igreja celebramos o dia de Santa Terezinha do Menino Jesus, a padroeira das missões. Uma santa doutora da Igreja que faleceu aos 24 anos, no convento, conhecida por ser uma santa com vida simples sem feitos extraordinários, mas que caminhou pela “pequena via” da missão evangelizadora. Por ser a padroeira das missões, o exemplo da vida de Santa Terezinha faz com que todos os cristãos se sintam compromissados com a evangelização, em levar a Palavra de Deus a todos os lugares e a todas as pessoas sendo o “coração da Igreja”.
A intenção em outubro é promover uma conscientização para entusiasmar os fiéis cristãos na missão de cada um. Os religiosos, religiosas, sacerdotes, membros de novas comunidades, são missionários e assim denominados, mas os leigos também têm o dever de evangelizar.
Devido este caráter missionário da Igreja, no Brasil este ano temos como tema do mês missionário: A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída” e o lema: “Juntos na missão permanente “A Missão do Messias vem do Deus da vida e por isso, traz libertação para quem sofre algum tipo de escravidão. Hoje, Jesus nos desafia a assumirmos essa mesma Missão”, complementa.
Quando falamos da atividade missionária da comunidade eclesial, precisamos passar da missão à missionariedade, do objeto (o que fazer) ao sujeito (quem vai fazer) do mandato missionário. Não é suficiente perceber a necessidade da missão, mas é fundamental tomar consciência de que toda a Igreja, e nela cada batizado ou batizada, é o sujeito da missão. Fica, pois, muito claro que toda a Igreja é por sua natureza missionária.
Os cristãos não podem permanecer passivos, reduzindo, muitas vezes, sua pertença eclesial a momentos rituais. É preciso colocar toda a Igreja em “estado permanente de missão”. A Igreja é toda missionária em seus membros que agem de diversos modos, de acordo com a multiplicidade e a variedade dos carismas e dons. É em cada um de seus membros que a comunidade cristã coloca-se a serviço da evangelização e é enviada para pregar o Evangelho a toda a criatura.
A Igreja missionária a serviço do Evangelho faz dela uma de suas características fundamentais. Optar pelo pobre “é condição necessária e irrenunciável do caráter evangélico da ação da Igreja.” (CNBB Diretrizes Gerais da ação Evangelizadora, 194) É claro que assumir, sem meios termos, a causa dos excluídos e excluídas exige uma verdadeira reviravolta na própria vida. É preciso entrar naquele processo de “metânoia” (mudança de mentalidade) do qual fala o Evangelho.
Todas as famílias e comunidades são convidadas a viverem com maior intensidade o Mês das Missões. Com isso, a nossa Igreja no Brasil se fortalece e se abre com maior generosidade para a Missão Universal além-fronteiras. Conforme o apelo do papa Francisco, “não nos deixemos roubar o entusiasmo missionário!” (EG 80).
Rezemos a oração do mês missionário 2017: “Deus de misericórdia, que enviaste o Teu Filho Jesus Cristo e nos sustentas com a força do Espírito Santo, ensina-nos a caminhar juntos e, a exemplo de Maria, nossa Mãe Aparecida, na celebração dos 300 anos do encontro da imagem, sejamos, em toda a parte, testemunhas proféticas da alegria do Evangelho para uma Igreja em saída. Amém”.
Por Cardeal Orani João Tempesta – Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ