Luz para iluminar as nações

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Ao iniciar o mês de fevereiro, logo no segundo dia celebramos a festa da Apresentação do Senhor, após quarenta dias do Natal. Ela tem caráter de manifestação – “epifania” –: faz parte dos acontecimentos que revelam o Senhor como Messias e atingem sua completa e decisiva manifestação na cruz. Esta festa, de certa forma, é um marco na metade deste tempo comum que ora vivemos, de tal forma que praticamente encerra as festas natalinas e nos abre o caminho rumo à Páscoa. Já começamos a vislumbrar no horizonte o tempo da Quaresma. 

Simeão e Ana, adiantados na idade e mantendo viva a esperança, se unem para anunciar a notícia da vinda do Senhor, Luz para iluminar as nações e glória do seu povo fiel. A devoção popular dedicou esta festa também a Maria, e em alguns lugares do Brasil é celebrada como festa de Nossa Senhora da Candelária, Nossa Senhora de Belém, Nossa Senhora das Candeias ou Nossa Senhora da Luz. De fato, com a entrada de Jesus no mundo, nova luz resplandeceu para nós e o mundo transformou-se em templo, habitação de Deus. Maria trouxe a luz de Deus ao mundo.

Em Jesus brilhou para toda a humanidade o verdadeiro sentido da vida, de pertencer a Deus e de sermos filhos e filhas da luz. Maria é a porta de entrada de Jesus, nossa Luz ao mundo. Ela também estará de pé, junto à cruz, num gesto corajoso de oferenda do Filho, assumindo o transpassar da espada em seu coração. Por isso, somos convidados neste dia a entrar no templo, ou seja, irmos ao encontro do Senhor, com as velas de nossa fé bem acesas, reconhecendo-O como Cristo, “a luz que vem se revelar às nações” (cf. Lc 2,32) como anunciou, alegre e agradecido, o velho Simeão. E, como Maria, fazer a oferenda de nossa vida, com Cristo, por Cristo e em Cristo ao Pai. Seguindo esta luz, vivamos como filhos e filhas da luz, levando a todas as pessoas a luz de Cristo. Sermos iluminados por Cristo, vivendo o nosso batismo, nos leve sempre mais a termos nosso rosto iluminado e transmitir essa luz aos irmãos e irmãs. Cabe, pois, a nós acolher o Senhor na Liturgia e na vida, com nossas atitudes e ações, como lâmpadas vivas e ardentes, sendo fiéis ao nosso batismo.

A liturgia desta festa quer manifestar, com efeito, que a vida do cristão é como uma oferenda ao Senhor, traduzida na procissão dos círios acesos que se consomem pouco a pouco, enquanto iluminam. Cristo é profetizado como a Luz que tira da escuridão o mundo sumido em trevas (o povo que andava nas trevas viu uma grande luz…). José e Maria no templo maravilharam-se do que se dizia d’Ele. Maria, que guardava no seu coração a mensagem do Anjo e dos pastores, escuta novamente admirada a profecia de Simeão sobre a missão universal do seu Filho: a criança que sustenta nos seus braços é a Luz enviada por Deus Pai para iluminar todas as nações: é a glória do seu povo!

Jesus traz a salvação a todos os homens; no entanto, para alguns será sinal de contradição, porque se obstinam em rejeitá-Lo. O Evangelista São Lucas narra também que Simeão, depois de se referir ao Menino, se dirigiu inesperadamente a Maria, vinculando de certo modo a profecia relativa ao Filho com outra que se relacionava com a mãe: “uma espada atravessará a tua alma”. Com estas palavras do ancião, o nosso olhar desloca-se do Filho para a Mãe, de Jesus para Maria. É admirável o mistério deste vínculo pelo qual Ela se uniu a Cristo, àquele Cristo que é sinal de contradição.

Jesus é “luz para iluminar as nações” (Lc 2,32), mas hoje essa luz chega aos outros através de nós. Que Deus nos purifique constantemente para que estejamos, durante toda a nossa vida, no fogo do Espírito Santo. Dessa maneira, “abrasados” pelo amor de Deus, Jesus Cristo iluminará a todos! 

Apresentemo-nos com Cristo para que Deus se manifeste através das nossas vidas. Deixemos que Deus nos coloque na fornalha do Seu amor, que Ele nos purifique cada vez mais. Que nunca nos acostumemos a viver na escória do pecado. O que Deus quer é que nós, pecadores convencidos de que o somos, lutemos contra tudo aquilo que nos afasta Dele; que nos apresentamos a Ele, no seu Templo.

Na Festa da Apresentação do Senhor, quando também celebramos a festa de Nossa Senhora da “Luz” ou ainda das “Candeias”, e nos ajuda a ver que neste dia, quando muitos levam a vela para serem abençoadas, peçamos para viver o resto do ano conforme a Luz de Cristo, pela intercessão da Virgem Maria.

“Ó Nossa Senhora da Luz, Mãe de Deus, ajuda-nos com a Tua bondade infinita, a enfrentar todos os perigos e tentações, para que, com a Vossa preciosa ajuda, sigamos nosso caminho iluminados com a luz de Teu Filho, Luz do mundo, para vivermos como batizados, longe da escuridão do pecado. Amém”!

Por Cardeal Orani João Tempesta – Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)