É difícil saber se as crianças de hoje são mais estressadas do que as das gerações passadas. Mas o que parece evidente é que as fontes potenciais de estresse se multiplicam a altas velocidades na sociedade atual.
Estresse ligado ao ambiente
O estresse que uma criança sente pode ser proveniente de fatores ambientais, como a ameaça terrorista, a mudança climática, a contaminação (um menino me disse – e argumentou que estava certo – que correr era perigoso para a saúde por causa da respiração em excesso de poluição!); fatores contra os quais não se pode fazer nada, além de tranquilizar as crianças e evitar falar sobre eles muito frequentemente diante delas ou mostrar-lhes documentos alarmantes.
Estresse ligado à família
O estresse também pode ser sentido no seio familiar, devido a problemas como o desemprego, o subemprego, a desintegração do núcleo familiar, a violência de gênero. Um estresse especialmente nocivo, já que a ameaça está perto da criança.
Estresse ligado a fatores sociais
Por último, o estresse pode ser fruto de elementos sobre os quais temos controle: agenda sobrecarregada, pressão escolar, pressão consumista (vestir determinada marca, ter determinado videogame), pressão dos companheiros por fazer outras coisas.
Um reflexo
O estresse é uma reação psicológica e fisiológica do organismo, que responde a um estímulo de menor (uma reprovação no colégio) ou de maior importância (uma mudança), positivo (uma festa) ou negativo (um conflito), raro (uma cirurgia) ou constante (jornada sobrecarregada), previsto (um exame) ou imprevisto (um acidente).
Céline Alvares, em Les lois naturelles de l’enfant (As leis naturais da criança, um livro em que relata sua experiência pedagógica inspirada em Maria Montessori em uma sala da maternidade de Gennevilliers, França, e em que decifra os grandes princípios científicos que permeiam a aprendizagem e o desenvolvimento), explica que, em princípio, o estresse é uma reação saudável do organismo, que nos permite enfrentar uma situação difícil.
A produção de cortisol e de adrenalina pelo organismo é mais eficiente quando o estresse é de curta duração.
No entanto, as causas de estresse são tantas que a criança, cujo córtex pré-frontal ainda não está maduro, e, portanto, é incapaz de administrar sua reação emocional (ao contrário de um adulto), pode enfrentar as autênticas “tempestades emocionais”.
O cortisol produzido de maneira contínua e em grande quantidade prejudica os circuitos fundamentas e destrói neurônios (sobretudo os localizados no hipocampo, uma região da memória, e no córtex pré-frontal, que é a área da memória, análise e autocontrole).
A autora, baseada em estudos de Neurociência, adverte que o estresse é nocivo para o desenvolvimento do cérebro da criança.
Como proteger nossos filhos?
(Respostas extraídas de Lois naturelles de l’enfant)
Evitar colocá-los em situações violentas, sejam físicas ou verbais: gritos, humilhações, insultos, brigas diante deles, ainda mais se são situações recorrentes.
Ajudá-los a administrar o estresse: Como? Comece tranquilizando-os com sua presença carinhosa e reconfortante, tomando-os nos braços ou segurando suas mãos. O contato físico libera a produção de oxitocina (hormônio do amor), que, por sua vez, impede a produção do cortisol. Eliminar desta forma o estresse faz aumentar também a produção de endorfina, serotonina e dopamina – hormônios que geram bem-estar, serenidade e entusiasmo.
Quando a criança estiver calma, ajude-a a identificar suas emoções: é ira, tristeza, frustração ou medo? Identificar o que se sente tranquiliza. Portanto, proponha uma solução ao problema que causa o estresse.
Nossas responsabilidades em relação ao estresse de nossos filhos são ainda maiores, uma vez que, de acordo com recentes estudos da Neurociência, o estresse infantil pode ter reflexos na idade adulta.
Segundo a doutora Catherine Guéguen, “um estresse significativo na primeira infância atua sobre o córtex pré-frontal e pode resultar na destruição de neurônios. Também dificulta o amadurecimento destas células e provoca a diminuição do volume delas.”
Como consequência, o ser humano adulto teria grandes dificuldades para apaziguar suas emoções e seus impulsos e para administrar seu estresse.
Por Mathilde De Robien, via Aleteia Espanha