O que significa professar a fé cristã ou se apresentar como católico no contexto sócio-político-econômico brasileiro?
A atenção dos centros de poder e de decisão se concentra no “reino da Terra”, nos avanços científicos, na economia de mercado, no conforto e bem estar dos que têm acesso aos bens econômicos. Surgem, porém, sinais preocupantes! Os adolescentes estão se automutilando; um número expressivo de jovens comete suicídio; há uma multidão de adolescentes e jovens órfãos de pais vivos; a dependência química e eletrônica avança de forma implacável. Poder-se-ia elencar ainda outros elementos que expressam a fragilidade do tecido social e a precariedade preocupante das relações familiares.
É desafiador a missão de manter acesa a esperança de uma sociedade sadia. Se perde-se a esperança, a sociedade não tem futuro. Uma sociedade que não considera e promove a dignidade da família é uma sociedade fadada à sua dissolução.
A fé cristã ensina que Deus criou o ser humano, homem e mulher, com igual dignidade, mas também com características próprias e complementares, para que os dois fossem dom um para o outro, se valorizassem reciprocamente e realizassem uma comunidade de amor e de vida.
A vida familiar requer o empenho decisivo do homem e da mulher. O amor que os une é fecundo, antes de mais nada, para as pessoas envolvidas, pois o desejo primordial não pode ser outro se não o bem um do outro, experimentando a alegria do receber e do dar. É fecundo na procriação responsável dos filhos, na solicitude carinhosa por eles e na educação cuidadosa e sábia. O amor do casal é fecundo para a sociedade, porque a vida familiar é a primeira e insubstituível escola das virtudes sociais, tais como o respeito pelas pessoas, a gratuidade, a confiança, a responsabilidade, a solidariedade, a cooperação.
A vocação à vida familiar é nobre e bela. A realidade do amor é maravilhosa. A vida familiar construída no amor é força que pode transformar o universo, o mundo e a sociedade.
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre