O centro da quaresma é o Coração misericordioso de Jesus Cristo

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Com a celebração da quarta-feira de cinzas, se deu início em toda a Igreja ao tempo quaresmal, marcado pelo convite insistente do Senhor à conversão e à penitência (Mc 1,15). As cinzas, recebidas na fronte por nós católicos, fazem-nos lembrar que “somos pó e ao pó retornaremos” (Gn 3,19). Durante este tempo, a Igreja é ornada pela cor roxa, os sinos são silenciados e as flores retiradas do culto litúrgico, pois o ambiente celebrativo torna-se mais simples e mais sóbrio, tendo em vista a celebração futura da Ressurreição do Senhor. Jesus, autor e consumador de nossa fé (Hb 12, 2), continua vivo em nosso meio, atuante em nossas comunidades, mas somos convidados a mergulhar no mistério da sua Paixão, a vivermos intensamente Sua entrega de Amor na Cruz, a experimentarmos a graça da Sua misericórdia que jorra do Seu lado aberto (Jo 19, 34).

          Ainda que a quaresma seja marcada por sinais externos e internos de penitência, este não é um tempo fúnebre, de luto, de tristeza e amargor em nossos corações. Na verdade, não existe tempo na Igreja onde tristeza e luto são fomentados, pois em todos e quaisquer momentos “a alegria do Senhor será a nossa força” (Ne 8,10); o Apóstolo Paulo nos orienta de forma imperativa: “alegrai-vos sempre” (1Ts 5,16). Estar perto de Jesus Cristo, o qual é a graça mais sublime desta quaresma, causa em nós uma alegria inexprimível. A quaresma é tempo de uma alegre esperança que fecunda o coração do cristão, pois nunca este tempo é vivido por ele mesmo, fechado em si mesmo, mas é um tempo forte de preparação para a celebração do mistério mais importante da vida de todo cristão: a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. A luz da ressurreição do Senhor perpassa todos os dias quaresmais, inclusive a sexta-feira da paixão; os raios da Ressurreição brotam das chagas do Crucificado, pois a morte não tem poder sobre Ele (Rm 6,9). O nosso olhar para a cruz do Senhor já nos faz antever que o sepulcro está vazio (Mt 28, 5-7), que a paz do Ressuscitado já consola os nossos corações aflitos (Jo 20, 19.21), que suas palavras já aquecem e fazem arder os nossos corações desolados pela dor do calvário (Lc 24, 32).

           Quaresma é, na sua essência, tempo de encontro com a misericórdia de Deus, de sentir-se acolhido nos braços do Pai, momento de se reconhecer simples criatura pecadora dependente de Deus, mas profundamente amada e esperada pelo Pai das misericórdias que nunca se cansa de perdoar (Lc 15, 11-32). A Igreja nos propõe, em sua pedagogia quaresmal, a tomada de consciência gradativa da nossa condição humana decaída (Sl 50, 7), marcada pelo pecado das origens (Rm 5, 18-19), pela concupiscência, pela fraqueza que nos leva a cometer o mal que não desejamos praticar (Rm 7, 19)… Porém, tomar consciência do pecado é apenas o início de nosso caminho para Deus; o coração do nosso encontro com Cristo, onde nos deparamos com aquilo que é insubstituível em nossa caminhada de fé, é fazermos a experiência de Sua Infinita Misericórdia, pois, como afirma o Papa Francisco “Ele é o rosto da misericórdia do Pai”.

Jesus Cristo, de forma mais eminente nesta quaresma, revela para nós o amor de Deus pelo pecador, pela ovelha transviada, pelo doente de alma abatida e chagada pelo pecado, por todos aqueles que perderam o sentido de viver, por aqueles que desviaram de Sua Santa Igreja, enfim, por aqueles e por aquelas que desejam fazer o caminho de volta para casa (Igreja). Não tenhais medo! O Pai das misericórdias, o Deus de toda consolação (2Cor 1, 3), deseja colocar em cada um de nós “anel no dedo, sandália nos pés e uma nova túnica” restituindo nossa dignidade de filhos de Deus. Onde o pecado foi grande, muito maior continua sendo a Sua graça (Rm 5,20).

Pe. Franciel L. da Silva