O crescimento espiritual

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Iniciação à vida cristã significa ser iniciado no modo de viver de Cristo, em conformidade com Ele. Trata-se de um caminho, que tem conteúdos específicos e uma meta: “Até que Cristo esteja formado em vocês” (Gl 4,19). Paulo indica que o caminho deve levar “ao estado de adultos, à estatura do Cristo em sua plenitude” (Ef 4,13). Um caminho que tende à maturidade do amor.

Mais importante do que atingir a meta, se trata de compreender que a partir do encontro com Jesus Cristo, sempre renovado, nos colocamos a caminho. É uma busca contínua e diária de crescimento, superando toda forma superficial e epidérmica da fé. Ninguém pode se considerar pronto, já maduro na fé, mas “enraizados nele e edificados sobre ele” (Cl 2,7), abre-se um horizonte que empenha toda a existência. “Continuo correndo para conquistá-lo, porque eu também fui conquistado por Jesus Cristo” (Fl 3, 12), diz Paulo, a partir de sua experiência pessoal.A consciência sentida de pertencer a Cristo move-nos a buscar, a “correr” para “conhecer a Cristo” (Fl 3,10). É típico de Paulo o termo “forma”, que significa o “sentir interior”. Nas ações, nos pensamentos e nos sentimentos de Paulo transparece a santidade, a “forma interior” de Jesus Cristo.

Por isso, Paulo fala de lançar-se em direção à meta (cf. Fl 3,14) “para tornar-me semelhante a ele em sua morte, a fim de alcançar, se possívela ressurreição dos mortos” (Fl 3,11). A santidade deve ser buscada com ousadia, com determinação. Precisamos ser capazes de sonhar o máximo. Não podemos nos contentar com adesões parciais e seletivas dos ensinamentos do Evangelho. A fé cristã não é um caminho separado da vida, mas engloba toda nossa existência no nível pessoal, comunitário e social. O ressuscitado que já está conosco, pelo batismo, pede, como em Paulo, para crescer sempre mais.

Importante ressaltar que este caminho não é uma mera introspecção, mas sempre um diálogo. O recolhimento interior facilita o encontro com o Ressuscitado. Isto porque a fé é resposta a Deus que vem constantemente ao nosso encontro. Neste diálogo, sempre renovado pelo encontro com a Palavra, a Eucaristia e a comunidade, o protagonista não é o fiel, mas o Espírito Santo. Não se trata de uma conquista pessoal, realizada por meio da luta interior para viver as virtudes, mas da abertura humilde à ação do Espírito Santo. Ele é o escultor que vai nos moldando à imagem do Filho, para sermos conformes a Ele. Este processo de conversão permanente encontra um auxílio importante numa comunidade de fé e, especificamente, num irmão de caminhada com quem partilhamos o projeto de vida, um orientador espiritual.

Porém, a prova definitiva da maturidade da fé é a capacidade de amar, pois “se vocês tiverem amor uns aos outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos” (Jo 13,35). A capacidade de estabelecer relações fraternas, solidárias e misericordiosas são características essenciais de uma pessoa com fé madura.

Enfim, as famílias, as comunidades e a sociedade atual esperam dos batizados um compromisso verdadeiro com a fé que professamos. Somente assim, seremos “sal da terra” e “luz do mundo”.

Por Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta (RS)