Caros amigos, o homem foi criado por Deus como um ser social, capaz de conhecer e amar os seus semelhantes. Assim ensina o Catecismo da Igreja Católica: “A pessoa humana tem necessidade da vida social. Esta não constitui para ela algo de acessório, mas uma exigência da sua natureza. Graças ao contato com os demais, ao serviço mútuo e ao diálogo com os seus irmãos, o homem desenvolve as suas capacidades, e assim responde à sua vocação” (n. 1879).
Esta fraternidade tem sua raiz mais íntima na unidade das Pessoas Divinas – Pai, Filho e Espírito Santo (Cfr. Catecismo, 1878). Da mesma forma, o ser humano também necessita de relações espirituais, tais como: amizade, aprendizagem, confiança, misericórdia e, sobretudo, amor. Certamente, o caminho para a realização humana é o amor, concretizado nos principais mandamentos da lei do Senhor: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Cfr. Mt 22, 36-39 e IJo 4, 20-21). Por isso, na Quaresma, somos convidados a refletir sobre nossa vida de amor efetivo para com Deus e nossos semelhantes, com todas as suas consequências.
Sabemos que as exigências do amor ao próximo muitas vezes impedem o homem moderno de viver sem conflitos, pois o amor pede iniciativas e renúncias que custam. Felizmente, a atual sociedade tem avançado no diálogo, abrindo espaços de convivência e compreensão mútuas em meio à diversidade de pensamentos vigentes. Por outro lado, isto não significa, como temos percebido, a demolição de valores que constituem os pilares fundamentais de uma sociedade sadia.
A consequência deste quadro é o esfriamento das relações com nossos semelhantes e uma grande crise no sentido da vida. A este respeito, diz o Papa Francisco: “Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe” (EG, 54).
Infelizmente, a indiferença sempre fez parte da trajetória humana. Porém, agora você está atuando na história e pode contribuir para a mudança deste quadro. Para isso, é preciso uma decisão resoluta pela conversão. Diz a Palavra de Deus: “Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!” (1Jo 3, 18).
Assim, qual tem sido seu gesto concreto de caridade nesta Quaresma? Desejo que ele seja o princípio de uma vida mais plena de amor e que marque toda a sua existência, apesar das possíveis consequências.
Por Dom Edney Gouvêa Mattoso – Bispo de Nova Friburgo (RJ)