O maior mandamento

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No Evangelho da santa missa do domingo passado, ouvimos Jesus discutindo com as autoridades judaicas sobre a questão do pagamento de imposto, se é lícito pagar imposto a César ou não. Jesus deixou uma resposta que até hoje é paradigmática: “Dai a César o que é de César, dai a Deus o que é de Deus”. Na sequência do Evangelho lido na Liturgia de hoje São Mateus narra outro debate provocado pelos fariseus – Mt 22,34-40. Ouvindo dizer que Jesus fechara a boca dos saduceus, os fariseus decidiram, eles também, pôr Jesus à prova. Um deles lhe perguntou: “Mestre, qual é o maior mandamento da lei?” Jesus respondeu unindo dois mandamentos, o primeiro que está no “Shemá Israel” (Dt 6,4ss): “amar a Deus acima de tudo”, e o segundo que está no Levítico 19: “amar ao próximo”. Jesus, então, assim, se expressou: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento! Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. E concluiu sua fala, dizendo: “Toda a lei e os profetas dependem desses dois mandamentos”.

A pergunta era oportuna naquela época, quando Jesus sabia que todo judeu, a cada dia, de manhã e de tarde, devia proclamar o “Shemá (Escuta) Israel? A resposta é sim. É sempre oportuno, em primeiro lugar para que não se caia na rotina e na repetição mecânica de palavras que vão se tornando vazias de sentido, distantes do cotidiano, sem pegada para influenciar os comportamentos e para dar cor, sabor e valor à vida. Em segundo lugar, porque os próprios escribas falavam existir no judaísmo uns seiscentos e treze mandamentos como preceitos e proibições que se ajuntaram ao longo do tempo e que não vieram diretamente de Deus, mas foram criados por eles mesmos, e tudo isso era igualmente importante. E que, portanto, no meio de uma religião misturada confusamente com tantas normas e regras e leis e mandamentos, as pessoas simples acabavam perdidas, sem saber ao certo o que é o essencial da religião e qual o mandamento mais importante. Por isso, a pergunta era mais do que pertinente.

Também para nós hoje pode acontecer de igual modo a mesma coisa. Não é assim que todo domingo, na Missa, juntos, rezamos a oração do “Credo”, o resumo de nossa fé, mas depois, no dia a dia, mais de uma vez, nem bem nos lembramos do conteúdo daquilo em que acreditamos nem sabemos dar a razão da nossa fé quando provocados?

Não é a toa que hoje se ouve dizer com frequência que nós, católicos, precisamos voltar aos fundamentos da nossa fé católica, ao básico do nosso Catecismo, aos mandamentos de Deus, à Sagrada Escritura, ao Magistério da Igreja, aos Sacramentos, às verdades sobre Jesus, a Igreja e o ser humano, à oração, à liturgia, aos sacramentos, à devoção a Maria e aos Santos. É por isso que a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) publicou, em 2007, um livro chamado “Sou Católico”, exatamente com a finalidade de nos lembrar os pontos essenciais da nossa fé católica e assim nos ajudar a viver a nossa fé. Esse livrinho, de fácil leitura, está disponível em qualquer livraria católica.

Para falar sobre o básico do básico, podemos nos lembrar de ao menos dois grandes santos. Primeiro, de Santo Agostinho, que resumiu toda a fé e moral no amor. São célebres estas suas palavras: “Ame e faça o que quiser”. Pode-se ver em Agostinho uma síntese da síntese de Jesus no Evangelho de hoje. Segundo, de Santa Teresa d’Ávila, que deixou estas palavras lapidares, resumo de sua experiência mística: “Que nada te perturbe. Que nada te apavore. Tudo passa. Só Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem tem a Deus nada lhe falta. Só Deus basta”.

Veja como o nosso estimado Papa Francisco expressa a sua compreensão mais profunda de Deus. Segundo ele diz, “O nome de Deus é misericórdia”, e também, “A misericórdia é a ‘carteira de identidade’ de Deus”. São Francisco de Assis, inspirador do nosso Papa, em certa ocasião fez a seguinte oração: “Senhor, quem sois vós e quem sou eu? Vós sois o Altíssimo Senhor, Criador do céu e da terra, e eu um simples vermezinho, ínfimo servo vosso”.  Por isso, ele gostava de, constantemente, pedir a Deus: “Dai-me uma fé íntegra, uma esperança firme, uma caridade perfeita! Concedei-me, meu Deus, que eu vos conheça muito, para poder agir sempre segundo os vossos ensinamentos e de acordo com a vossa santíssima vontade”.

Por Dom Caetano Ferrari – Bispo de Bauru