Os avós podem ter grande influência na educação dos netos

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Aqui em casa, há uma placa que ganhei da minha irmã: “Na casa dos avós tudo pode!”. No início, pensei que seria deseducador, mas, com o tempo, senti que os meus netos se sentiam orgulhosos com o grau da sua importância para nós. Tudo pode quando eles vêm apenas para passear e não temos a função de educá-los; justamente por isso, fica fácil ser conselheiro, companheiro e contribuir para o desenvolvimento emocional e espiritual. O “domingo” para os netos é dia de diversão, quando podem experimentar e misturar alimentos, tais como batata com leite condensado e comer apenas arroz, porque é o que gostam, mas sem valor nutritivo.

 

Num mundo conturbado, onde os pais precisam trabalhar para garantir o “melhor” para seus filhos, muitos avós assumem a responsabilidade de ficar com os netos durante a jornada de trabalho de seus filhos.

O tempo de convivência diária e o tipo de relação definem a forma de relacionamento. A responsabilidade cotidiana tem uma forma de tratamento diferente de quem ajuda temporariamente, porque, nesses casos, os avós assumem o papel de educadores. É preciso também ter regras diferentes, para os casos de apoio enquanto os pais trabalham ou quando os avós assumem integralmente a responsabilidade parenteral, em caso de morte ou abandono dos pais.

 

Efeitos positivos e negativos

Para os avós, os efeitos positivos dessa convivência é que rejuvenescem, sentem-se alegres, reencontram sua utilidade e objetivos de vida. Os efeitos negativos aparecem quando se sentem explorados e sobrecarregados física e economicamente. Em alguns casos, os conflitos entre modelos educacionais causam crises entre os pais e avós, que requer um diálogo para definir as bases da educação.

Para estudar ou trabalhar, deixar os filhos com pessoas que confiam, com laços de parentesco e amor, propicia tranquilidade na maioria dos casos. Os impactos negativos surgem quando as culturas das famílias são muito diferentes e conflitantes ou por imaturidade dos avós que querem competir com os pais pelo amor da criança.

As crianças são beneficiadas, porque convivem com gerações diferentes, aprendem a valorizar os idosos, mantêm o sentimento de pertença familiar, sentem facilidade de negociação com os avós, pois, teoricamente, pela idade, já estão mais maduros para definir as prioridades do que podem ceder ou não. Os estudos mostram que os avós, mesmo que não possuam formação escolar adequada, fornecem valores sólidos, apoio emocional e se esforçam para garantir a felicidade dos netos, o que impacta positivamente na vida escolar e afetiva deles. Por outro lado, é preciso um alerta para não ter uma educação permissiva, conflitiva, mimada ou de compensação pela falta dos pais.

 

Manter a harmonia entre pais e avós

Quando os avós dividem com os pais a responsabilidade pela educação, alguns cuidados precisam ser tomados, tais como, definir em conjunto a rotina infantil, respeitar os princípios educacionais dos pais, não criticar os pais diante das crianças. Alguns pais se preocupam se os avós podem deseducar netos, a resposta é sim quando: eles não cumprem o seu papel de pais, os avós discordam e agem diferente dos princípios dos pais e estes não encontram disponibilidade de tempo para introjetar os valores e comportamentos que acreditam serem certos.

Em síntese, nesta convivência entre avós e netos, a família pode se beneficiar se as crianças percebem os pais como responsáveis pela educação e o acolhimento, e os avós como apoiadores que oferecem carinho. Entretanto, pode ser prejudicada quando, nesta relação, existe conflito de papéis e princípios, disputa de poder e falta de amor. É preciso discernimento para os avós estarem perto quando precisam e longe quando pais e filhos estão num momento que pertence só a eles. Ou seja, aquilo que ficar combinado num diálogo franco terá de ser cumprido para não sair caro para a família no final.

Por Ângela Abdo