Familiarmente falando, uma das coisas mais bonitas é contemplar a alegria da criança quando ela recebe um presente de Natal, pouco importando o seu valor. A satisfação da criança quando toma nas mãos o brinquedo que acabou de ganhar, que transparece em todo o seu semblante, seja ela rica ou pobre, dá na gente a maior emoção. Não há retribuição mais gratificante do que esta. Para a criança o que importa é o brinquedo aí presente diante de si mesma. Ainda que não muito tempo depois ela se enjoe dele e o abandone junto aos outros brinquedos, fica na sua memória infantil a lembrança para sempre. Nós conhecemos isso muito bem. Porque o que acontece com as crianças é o que aconteceu quando a gente foi criança. Com o passar dos anos, nós crescemos e amadurecemos de tal maneira que os presentes recebidos nos remetem agora às pessoas que nos presentearam: os pais, os avós, os tios, os padrinhos. Estes é que passam a ser mais importantes, porque são uma presença viva para sempre. Crescendo, fomos aprendendo a valorizar a presença destas pessoas na nossa vida. “Presença e presente” têm a mesma raiz. Só com a maturidade é que entendemos que é mais importante a presença da pessoa do que o seu presente. Liturgicamente, diz-se que o objeto presenteado é um sinal sacramental da pessoa presenteadora. Por isso algum carrinho ou alguma boneca acabaram guardados porque se transformaram em lembranças vivas de pessoas muito queridas. Têm um valor afetivo que não tem preço.
No Evangelho da Missa de hoje – Mt 1, 18-24 – São Mateus fala a respeito da origem de Jesus Cristo, recolhendo da tradição e da crença geral dos fiéis das primeiras comunidades cristãs o que ele passa a contar. Desse relato ficamos sabendo que Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José. Que o anjo disse em sonho a José, filho de Davi, para não ter medo de receber Maria como a sua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo, e que ele deveria dar à criança o nome de Jesus que significa salvador. Segundo Mateus, tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco”. E que, depois disso tudo, José recebeu Maria como sua esposa e se tornou pai adotivo de Jesus, garantindo-lhe a descendência de Davi.
Deus não presenteou a humanidade com um bem da terra ou do céu por mais valioso que fosse senão com a sua própria presença divina. Deus mesmo veio até nós em pessoa. Ele é o próprio presente que tomou o nosso corpo, carne, sangue, mente e alma humana, e veio morar entre nós. Em Jesus Cristo Deus é presente e presença.
Há pessoas que cresceram, mas por incrível que pareça continuam infantis, imaturas. São aquelas que ainda desejam ganhar coisas, quanto mais valiosas melhor. Se dão presentes é porque desejam também receber e fazer trocas que sejam compensadoras ou então ganhar amigos que possam retribuir-lhes amanhã. Tudo na base do interesse, do levar vantagem. O Natal para essa gente não passa de festa do consumo, do negócio em vista de aprofundar e construir relações que prometam ganhos no futuro. Não se dão conta de que o importante é a presença da pessoa que oferece o presente. Até mesmo os melhores presentes são mandados entregar na casa destes tais amigos preferenciais nem fazendo questão de suas presenças na festa familiar feita em casa com porta fechada para quem não tem nada para dar. Porque, para esses, importante não é a pessoa, mas o presente.
No próximo domingo será Natal. O Menino Jesus é Deus-conosco. São Francisco dizia que o Natal é a festa das festas. Reconhecendo que a Páscoa é a mais importante das festas, porque nela contemplamos o amor de Deus que deu a vida por nós, no entanto, ele dizia que se Jesus não tivesse nascido não teria acontecido a sua morte e ressurreição. Três mistérios de Cristo são particularmente caros à espiritualidade franciscana: Encarnação, Paixão e Eucaristia. Tudo fala do amor de Deus, de sua presença e do seu presente à humanidade, a salvação. A Eucaristia é presença, presente e amor do Deus encarnado, morto e ressuscitado, e vivo entre nós.
Não posso deixar de prestar minha homenagem a Dom Paulo Evaristo Arns, OFM, meu confrade franciscano, amigo e irmão, sentindo com profundo pesar a sua morte. No ano passado celebramos juntos com outros confrades o jubileu de vida franciscana, eu, 50 anos e ele, 75 anos. Rendo graças a Deus pela vida de Dom Paulo, o Cardeal da esperança, o líder religioso mais importante na luta contra as violências da ditadura, pela redemocratização do país, e em defesa dos direitos humanos, sobretudo, dos pobres, excluídos e sofredores. Que o Senhor o acolha na sua glória e viva alegremente na comunhão dos santos.
Por Dom Caetano Ferrari – Diocese de Bauru, SP