Quaresma com Francisco

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Há muitos anos os Papas escrevem uma mensagem na Quaresma; na verdade, é uma palavra paterna aos católicos, em vista de sua preparação espiritual, pastoral e social para a Páscoa. Com a iluminação da liturgia da Palavra de Deus e com a contribuição da mensagem do Papa, o olhar dos cristãos volta-se para Deus e para o próximo. Nesse sentido, em 2017, o Papa Francisco escreveu sua mensagem que expressa sua sensibilidade humana e sua experiência pastoral. “A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja propõe-nos: o jejum, a oração e a esmola. Na base de tudo isso, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31). Deixemo-nos inspirar por esta página tão significativa, que nos dá a chave para compreender como temos de agir para alcançarmos a verdadeira felicidade e a vida eterna, incitando-nos a uma sincera conversão”.

Em seguida, o Papa apresenta o próximo como “um dom”: “A parábola inicia com a apresentação dos dois personagens principais, mas quem aparece descrito de forma mais detalhada é o pobre: encontra-se numa condição desesperada e sem forças para se solevar, jaz à porta do rico na esperança de comer as migalhas que caem da mesa dele, tem o corpo coberto de chagas, que os cães vem lamber (cf. vv. 20-21). Enfim, o quadro é sombrio, com o homem degradado e humilhado. A cena revela-se ainda mais dramática quando se considera que o pobre chama-se Lázaro, um nome muito promissor pois significa, literalmente, ‘Deus ajuda’. Não se trata duma pessoa anônima; antes, tem traços muito concretos e aparece como um indivíduo a quem podemos atribuir uma história pessoal. Enquanto Lázaro é como que invisível para o rico, a nossos olhos aparece como um ser conhecido e quase de família, torna-se um rosto; e, como tal, é um dom, uma riqueza inestimável, um ser querido, amado, recordado por Deus, apesar da sua condição concreta ser a duma escória humana (cf. Homilia na Santa Missa, 8 de janeiro de 2016).

Lázaro ensina-nos que o outro é um dom. A justa relação com as pessoas consiste em reconhecer, com gratidão, o seu valor. O próprio pobre à porta do rico não é um empecilho fastidioso, mas um apelo a se converter e mudar de vida. O primeiro convite que nos faz esta parábola é o de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido. A Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós o encontra no próprio caminho. Cada vida que se cruza conosco é um dom e merece aceitação, respeito, amor. A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil. Mas, para se poder fazer isto, é necessário tomar a sério também aquilo que o Evangelho revela-nos a propósito do homem rico”.

O Papa apresenta a Palavra de Deus como “um dom”: “o Evangelho do homem rico e do pobre Lázaro ajuda a nos prepararmos bem para a Páscoa que se aproxima. (…) A Palavra de Deus é uma força viva, capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa para Deus. Fechar o coração ao dom de Deus que fala tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão”.

Os cristãos estarão preparando-se para a celebração da Páscoa, dignamente, na medida em que tenham seu olhar voltado para Deus e seu coração aberto ao próximo, durante a Quaresma, que é considerada um “momento favorável”, “um tempo propício” à conversão.

Por Dom Genival Saraiva – Administrador Apostólico da Arquidiocese da Paraíba