O acidente aéreo com o time da Chapecoense e outros que os acompanhavam, causou comoção no Brasil e no mundo. Os próximos dos falecidos, por certo, se perguntam como viver, sem eles. Um trauma como este estanca emoções positivas. No entanto, desperta outras, expressas nas condolências e preces e nos belos exemplos do clube concorrente que propôs dar o título de campeão à equipe dizimada, e de outros clubes oferecendo jogadores para recompor o time.
Em meio à cultura da competição, emerge a cultura da solidariedade. Em meio ao luto ressurge o sentimento de que é preciso recomeçar. Esse sentimento nos faz pensar no ano que se finda e no novo começo representado pelo Advento, tempo no qual a Igreja se prepara para celebrar a festa da primeira vinda de Jesus, ou seja, seu nascimento, bem como sua parusia, ou seja, sua segunda vinda, pela qual resgatará completamente a humanidade.
O Advento é um tempo de revisão de vida pessoal e coletiva. Como vivemos em 2016? Quais foram nossos acertos e equívocos? Por certo, não contávamos com dores e perdas, nem desentendimentos e tantas frustrações em nossa vida social e política, tampouco em nossos relacionamentos e conosco mesmo. Almejamos sucesso, mas tivemos que enfrentar desafios, como bem o retrata um pensador desconhecido:
“Eu pedi força e Deus me deu dificuldades para me fazer forte. Eu pedi sabedoria e Deus me deu problemas para resolver. Eu pedi prosperidade e Deus me deu cérebro e músculos para trabalhar. Eu pedi amor e Deus me deu pessoas com problemas para ajudar. Eu pedi favores e Deus me deu oportunidades. Eu não recebi nada do que pedi, mas recebi tudo o que precisava.”
Esse belo texto confirma o que Deus diz por meio do profeta Isaías: “Os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os meus caminhos” (Is 55,8). Muitas dificuldades que enfrentamos podem nos ter paralisado ou nos cansado. Mas, como diz um outro pensador desconhecido, “não importa onde você parou, em que momento você cansou, o que importa é que, sempre, é possível e necessário recomeçar”.
Recomecemos, portanto, a vida com novos propósitos e confiança. Confiemos a Deus nossos familiares, irmãos de comunidade, colegas de estudo e companheiros de trabalho e de luta. Confiemos a Deus nós próprios, para que sejamos permanentemente vigilantes, pois, conforme diz o evangelista Mateus, não sabemos a hora e a forma que vem o ladrão. Aliás, ladrões não faltam. Eles podem aparecer disfarçados de bons administradores.
Estejamos sobretudo de prontidão, pois “o Dia do Senhor chegará”, conforme diz o apóstolo Paulo aos Tessalonicenses, exortando-nos a estar acordados: “vocês, irmãos, não vivam em trevas, de tal modo que esse dia possa surpreendê-los, porque vocês são filhos da luz e filhos do dia” (1 Ts 5,4-5). Estejamos despertos, na luta pelo “Reino de Deus e a sua justiça!” (Mt 6,33). Nossa espera deve, portanto, ser ativa, fazendo o novo acontecer.
Por isso, necessitamos recomeçar sempre, com a mesma convicção de quem começa a luta, a exemplo de Isaías, encorajado por Deus: “Não temas, porque eu estou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, te ajudo e te sustento” (Isaías 41,10); contando com a inspiração de quem a conclui, a exemplo do apóstolo Paulo: “combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2 Tm 4,7).
Por Dom Reginaldo Andrietta – Bispo Diocesano de Jales, SP