Ressuscitou e está sempre conosco

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O sentimento da orfandade, da solidão e do abandono expressos por Jesus, o homem das dores, no alto da cruz, continua a ecoar em tantas situações humanas de sofrimento: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (Mt 27,46). Pedem de nós uma solidariedade e uma proximidade misericordiosa. Seria esta a condição humana, condenado a sofrer? É isto o que está no coração de Deus? Fica Ele meramente assistindo impassível o desenrolar das maldades? Não, há uma resposta definitiva: o Crucificado é o Ressuscitado. Ele vive. Ele está sempre conosco. A luz da ressurreição de Cristo e o sopro de vida do seu Espírito são infinitamente maiores do que qualquer violência e mal humanos. Por isso, o contraponto do grito de dor na cruz é a presença do Ressuscitado diante do Pai, como canta a antífona do domingo de Páscoa: “Ressuscitei, ó Pai, e sempre estou contigo” e as palavras do Ressuscitado quando se apresenta aos seus: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Ele está vivo diante do Pai e conosco!

A certeza da presença do Crucificado como o Ressuscitado, vivo, é fonte de esperança. O ser humano nunca está sozinho. Ele não somente deixou um exemplo para toda humanidade, mas ao assumir a condição humana recapitulou em si toda a criação. Ao celebrarmos a Páscoa do Senhor, reafirmamos a certeza que no nosso cotidiano, com suas alegrias e dramas, temos uma companhia. Se abrirmos os olhos da fé, reconheceremos sua presença. Ele se interessa por nós. Aos seus discípulos, medrosos, diz: “Por que estais preocupados e por que tendes dúvidas no coração? Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo!” (Lc 24,39).

Mas, também, ao ressuscitar o Filho, Deus confirma sua vida, suas palavras, sua misericórdia. A ressurreição deu um atestado de credibilidade, que o evangelho vivido e anunciado pelo Nazareno é verdadeiro. Mesmo que, muitas vezes, suas palavras foram duras (cf. Jo 6,61), elas são fonte de vida. Nele se tornou visível a nós o caminho de uma humanidade feliz. Por isso, São João, anuncia: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e nossas mãos apalparam da Palavra da Vida, […] isto que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos, para que estejais em comunhão conosco” (1Jo 1,1-3). Esta vida nova em Cristo, com sua companhia, é a certeza que carregamos conosco para não sucumbirmos diante de um caminho com tantas provações. Afinal, Jesus nos mostrou que o seu seguimento se dá na “cruz de cada dia” (Mt 16,24) e na fidelidade diante das provações.

A experiência cristã da Páscoa, que na Vigília Pascal é cantada como “noite da alegria verdadeira” (Exultet), nos qualifica como testemunhas do Ressuscitado. Logo que o Ressuscitado aparece, após confirmar a fé dos discípulos, envia-os em missão. A vida de ressuscitados com Cristo, pelo nosso batismo, não é ainda a consumação de todas as coisas em Deus. Somos portadores desta vida nova, da luz da esperança aos sofredores de hoje. Levemos a luz do Ressuscitado a todas as trevas do pecado, da exploração das crianças, dos migrantes, dos que não encontram um sentido para viver, da violência que mata mais que uma guerra em nosso país! Esta é nossa missão. Mas não estamos sozinhos, pois o Ressuscitado disse: “Ele vai à vossa frente na Galileia; lá o vereis como vos disse” (Mc 15,7).

Desejo a todos os diocesanos que a luz da Ressurreição de Cristo reanime nossa fé e esperança, infunda alegria em todas as famílias e confirme nosso testemunho cristão. Feliz e abençoada Páscoa do Crucificado-Ressuscitado.

Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta