A vida é um caminho. Traz consigo a dinamicidade da busca, dos projetos, dos fracassos e realizações. Move-se entre o passado que herdamos, o presente no qual estamos inseridos e o futuro que é nosso projeto e horizonte do caminhar. Como tal, a vida será sempre uma construção pessoal, intransferível. Porém, ao mesmo tempo, somos feitos para a comunhão. Ninguém caminha sozinho. Daí a necessidade de saber partilhar o caminho com alguém. Não se trata somente das pessoas com as quais convivemos em nossa família, profissão, comunidade de fé ou ambientes de lazer. Trata-se da companhia do caminho, de um “irmão mais experiente” com quem partilhamos tudo o que faz parte de nossa vida. Na dimensão profissional está crescendo o número de pessoas que procuram um “profissional de coaching”, este deve ter a capacidade de conduzir seus passos para alcançar as metas que deseja. Tem a missão de ajudar a pessoa a caminhar na direção que ela quer ir. O “coaching” apoia a pessoa para que ela possa tornar-se quem quer ser. Em nossa vida espiritual e cristã também precisamos de um condutor, orientador, mestre (além do introdutor, catequista, grupo e comunidade). Hoje, faz-se mais necessária ainda esta figura, pois o processo de iniciação e formação cristã precisa ser acompanhado, conduzido, orientado, visto que a transmissão cultural da fé praticamente já não existe.
O cristão, em primeiro lugar, caminha na certeza da presença de Deus. O salmista diz: “Ele me guia por bons caminhos, por causa do seu nome. Embora eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal eu temerei, pois junto a mim estás.” (Sl 22). Foi o pedido que Deus fez a Abraão: “E tu, caminha na minha presença.” (Gn 17,1). Todos os dias, como discípulo se coloca à escuta da sua presença que se revela de muitas formas. “A cada manhã o Senhor desperta o meu ouvido para escutar como discípulo”. (Is 50,4). Deus é a primeira e mais importante companhia. Ele nos criou para a comunhão com Ele. Quando o ser humano quer, orgulhosamente, viver sem esta presença, quebra esta harmonia e fere a si próprio.
A Igreja tem uma longa tradição na arte de acompanhar, de ouvir e orientar. Esta figura se chama de orientador espiritual ou mestre espiritual. Uma imagem bíblica para exemplificar é a dos Discípulos de Emaús (Lc 24,13-35). Os dois discípulos falam de si, daquilo que os entristece. Jesus Ressuscitado se aproxima, começa a caminhar com eles, ouve atentamente, se interessa pela sua vida, pelos seus problemas. Depois, com habilidade traz a Palavra da Escritura que serve para iluminar, dar sentido à vida, e, sobretudo, aquece o coração. Ajuda-os a superar sua tristeza. Abrem os olhos e erguem a cabeça. Continuam a caminhar, agora renovados.
Para isto precisamos, em primeiro lugar, procurar a pessoa certa, que saiba “ouvir com o coração”: um padre, um monge, uma religiosa ou um leigo. Depois, a confiança de entregar a vida nas mãos de outrem, reconhecendo-o como irmão maior e orientador. Então, a abertura de si mesmo. Verbalizar os movimentos interiores de alegria, consolo, interrogações, dúvidas, decepções, tristezas e tudo o que tece a vida no cotidiano. Quanto sofrimento pode ser evitado se tivermos a coragem de partilhá-lo com alguém. Quantas famílias poderiam viver em harmonia ou até ter evitado uma separação se tivessem buscado ajuda, em tempo, com pessoas certas.
A grande vantagem deste caminho partilhado é a possibilidade de discernir com mais clareza o projeto de Deus, sua vontade sobre a vida. Assim, através da leitura do presente, pode-se ter uma direção, um sentido que nos orienta no caminhar. Aquele que orienta nunca substitui a liberdade pessoal da pessoa, que sempre tem a última e definitiva palavra.
Por Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta (RS)