Na complexidade do momento histórico, vale a pena perguntar: o que significa o chamado ao discipulado de Jesus para um professor, operário, militar, político, pessoa de negócios, banqueiro, agricultor, estudante, pessoa engajada nos diferentes movimentos sociais? Não seria a questão do discipulado de Jesus uma questão para um número reduzido de pessoas? Ou seja, para aquelas pessoas que assumiriam um modo de vida especial?
A resposta a tais questões nem sempre foi fácil, recebendo as mais variadas interpretações.
Para procurar compreender o projeto de Jesus, decisivo é empenhar-se por captar o que Ele pedia das pessoas que acolhiam o convite de lançar-se no seu seguimento. Isso pressupõe o esforço para ultrapassar tradicionalismos, leis e práticas meramente humanas, ou seja, elementos demasiadamente humanos, institucionais e até mesmo doutrinais que talvez não encontrem reflexo no Evangelho. Ao mesmo tempo, porém, é necessário salvaguardar o esforço realizado por muitos ao longo da história para atualizar a mensagem de salvação anunciada pelo Homem de Nazaré.
O discipulado de Jesus é caminho de libertação do ser humano de todos os preceitos meramente humanos, de tudo o que oprime, provoca preocupações e tormentos à consciência. Não se pode esquecer o que diz o próprio Jesus: “O meu jugo é suave e o meu peso é leve” (Mt 11,30).
Compreende o que significa ser discípulo quem fez a experiência do encontro com o Senhor. A pessoa então escuta a sua Palavra, da qual nasce e se alimenta a fé. Na atenção à Palavra do Senhor e Mestre a pessoa se torna capaz de avaliar as decisões corretas em sua consciência para agir de acordo com Deus. Da escuta atenta, deriva o seguimento, ou seja, se passa a agir como discípulo, pois após ter escutado e acolhido interiormente o que o Mestre ensina, se empenha por viver de forma consequente.
Quando a pessoa se sente atingido por Jesus e seu Evangelho, percebe que “os seus mandamentos não são pesados” (1 Jo 5,3) e que Ele jamais pretende destruir a vida, mas, sim, conserva-la, promove-la, fortalece-la e cura-la.
O discipulado é alegria! É por isso que o Papa Francisco no início de sua primeira exortação apostólica afirmava que “a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos que se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”.
Redescobrir a alegria do Evangelho, e consequentemente do ser discípulo do Senhor, é o grande desafio que o tempo da Quaresma lança a todos que se sentem necessitados de vida e vida em abundância (cf. Jo 10,10). Este tempo provoca e convoca a cultivar de forma ainda mais determinada o caminho do seguimento de Jesus Cristo. Trata-se de um caminho com reflexos na vida pessoal, comunitária e social. Por isso, a cada ano, a Igreja do Brasil apresenta a Campanha da Fraternidade como caminho de conversão quaresmal. O Evangelho – versão de Deus para a humanidade de todos os tempos – pressupõe a conversão pessoal e repercute na vida comunitária e social.
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre