Abraão foi obediente a Deus e saiu de sua terra para ir a um lugar novo e distante. Desinstalou-se para cumprir missão importante, não só para estar em nova terra, mas para aí começar a instituir um novo povo, do qual nasceria o Salvador (Cf. Gênesis 12,11-4). Todo ser humano recebe também a missão divina de utilizar sua caminhada para fazer de seu contexto ambiental a produção de vida de sentido. Para isso, toda pessoa é instada a se desinstalar de seu egocentrismo para sair em busca de boa convivência com o semelhante e a natureza. Assim vai criar ambiente de promoção do bem de todos, respeitando os valores dos mesmos, até à custa de dar de si pelo bem comum.
A caminhada existencial é como um subir a montanha de um ideal de uso e conquista de valores que dignificam o ser de cada um. Vislumbra-se, então, uma meta a ser conquistada. Marcam-se os passos com o bem produzido, como o cuidado com a natureza e o cultivo das virtudes humanas.
Jesus convidou três discípulos para subirem a montanha com Ele. Aí se transfigurou, deixando-os perplexos, por verem o esplendor do Mestre, bem como Moisés e Elias falando com Ele (Cf. Mateus 17,1-9). A importância de fazer da vida uma subida da montanha com Cristo é focalizada na quaresma, em que nos preparamos para celebrar também a subida da sepultura de Cristo, que ressuscitou dos mortos. A Páscoa de Jesus é vivenciada em nosso batismo, quando subimos do mergulho da água para termos a vida nova do amor ou da graça de Deus. Na celebração da Eucaristia, fazemos justamente a revivescência da ressurreição de Cristo, aplicando para nós, aqui e agora, o que Ele fez na cruz e no voltar à vida, salvando-nos. Mas, de nossa parte, é preciso aceitar o desafio de querer também fazer o mesmo processo em nós, mesmo tendo que experimentar a cruz, o sacrifício e a renúncia ao egoísmo. Subimos a montanha que nos dá o esplendor da vida nova de ressuscitados com e como o Cristo.
A quaresma nos propicia a aceitar o desafio de Jesus, o de irmos com Ele para a conquista do ideal de vida de sentido. Assim, usamos de todo o nosso potencial para promovermos a vida do planeta, como imagem e semelhança de Deus, que cria e promove a vida para tudo e para todos. Saindo de nosso egoísmo subimos ao patamar do amor de Deus para o levarmos ao semelhante, na vida familiar harmoniosa e na convivência social. Colaboramos com a promoção da vida e dignidade de todos, na cooperação com a política de real serviço ao bem comum.
Na prática do Evangelho somos estimulados a sair de nós mesmos, como diz o Papa Francisco, para sermos pessoas e Igreja “em saída” e vivermos como missionários que levam a Boa-nova de Jesus aos outros e promovem a vida plena para todos!
Por Dom José Alberto Moura – Arcebispo Metropolitano de Montes Claros, MG