Dom Messias dos Reis Silveira

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Origem

Sou Dom Messias dos Reis Silveira e vou lhe contar um pouco de minha história. Nasci em 1958, no dia 25 de dezembro, na cidade de Passos MG. Recebi o nome de Messias porque uma freira aconselhou a minha mãe a dar-me este nome devido à data de meu nascimento, dia de Natal. O meu sobrenome Reis está ligado ao dia do meu Batismo, 06 de janeiro, data em que se comemorava a Epifania do Senhor(Popular Festa de Santos Reis). Fui batizado na Paróquia São Benedito, em Passos MG, pelo padre Daniel, o qual posteriormente deixou o ministério e morreu assassinado. Sou filho de Messias Carlos da Silveira e de Maria Gonçalves de Jesus (Ambos falecidos). Tenho 2 irmãos e 3 irmãs. Todos casados. Vivi a infância, adolescência e início da juventude na zona rural. Sou membro de uma família pobre e simples.

Religiosidade

Sou oriundo de uma família católica, temente a Deus. Minha família tinha o costume rezar o terço todos os dias. Era bonito pais e filhos se colocarem em oração todas as noites. Ao menos uma vez ao ano nós íamos à cidade para participar da Missa dominical, especialmente por ocasião da Páscoa. Mas, quando o meu pai adquiriu um rádio, todos os domingos antes de iniciar qualquer atividade, a família se reunia em torno do rádio para ouvir a Missa. Quando eu era adolescente sempre era chamado para fazer orações nas casas dos vizinhos (reza do terço). Gostava muito destes momentos de orações e os fazia com muito respeito. Para mim era uma grande satisfação ser chamado para rezar o terço em alguma casa. Aprendi a rezar o terço com meu pai. Um dia pedi a ele que me ensinasse a contemplar os mistérios do rosário. Ele escreveu os mistérios em um papel de embrulhar pães e eu os decorei. É uma pena eu não ter guardado aquele pequeno manual de orações escrito por meu pai. O manual tinha uma página somente. O importante é que seu conteúdo está gravado em minha memória e coração.

Vocação

Eu sempre quis ser padre, não sei quando surgiu a minha vocação, pois desde pequeno sentia-me vocacionado. Certamente a inquietação vocacional teve origem no testemunho da minha família. Fui incentivado a ser padre também pela minha professora de primeiras letras, a senhora Aparecida Paim. Queria ingressar-me no seminário quando era pequeno, mas algumas pessoas me desestimularam dizendo que era muito difícil. Também a minha família não possuía recursos financeiros para sustentar-me no seminário. Por esse motivo após cursar a 4ª série parei de estudar e, eu senti que estava encerrada para mim a questão vocacional. Comecei a trabalhar com meu pai exercendo o ofício de balconista.

Mas sempre que ouvia falar do tema vocação um estremecimento interior me movia e eu deseja ardentemente responder àquela inquietação. Um dia encontrei um endereço de seminário dos Franciscanos, em um calendário do Sagrado Coração. Escrevi-lhes manifestando o meu desejo. Penso que minha carta continha a ingenuidade de menino da roça, não merecia crédito e por isso nunca recebi a resposta. O tempo foi passando e o desejo vocacional passeava por dentro de mim.

Infância e adolescência

Fui um menino da roça. O bairro rural onde os meus pais residiam era bastante simples. Era uma vila habitada por muitas pessoas humildes, analfabetas e na maioria negras. Os meus colegas de infância na maioria eram negros e, creio que por esse motivo nunca tive sentimentos racistas. Aprendi a valorizar a cultura da raça negra.

A casa onde eu vivia era de taipa e depois passou a ser de adobe, não tinha piso, os bancos eram pequenos caixotes ou latas, tudo improvisado. Cheguei até mesmo dormir em camas improvisadas feitas de madeira cortada nas matas da redondeza, o colchão era de palha. Meu pai além de pequeno comerciante era pedreiro, lavrador e cisterneiro. Era com o exercício de pesados trabalhos que ele sustentava o nosso humilde lar.

Eu sempre me esforçava para cultivar a piedade. No início da adolescência li a História Sagrada e fiquei encantado com a revelação de Deus, mas tive também, naquela época, a minha primeira crise de fé, pois ficava me perguntando se todos aqueles milagres eram verdadeiros.

Mais tarde conheci a vida de São Geraldo Majella, gostei muito do seu exemplo, e o tomei como modelo de vida. Não tive catequese. Meu pai me ensinou alguns princípios religiosos e eu fui me confessar. Consegui me confessar, mas na hora do comunhão o padre não quis me dar a hóstia, pois achou que eu era muito pequeno. Olhei como as pessoas saiam diante do padre após comungarem e então, coloquei minhas postas, encurvei-me um pouco e voltei para junto de meus pais. Esperei mais alguns meses confessei novamente e então, consegui comungar. Recordo-me que uma vez fui para a igreja descalço porque não tinha sapatos. As pessoas me olhavam muito, especialmente para os meus pés brancos, mas eu procurava me concentrar na Missa. Fui incentivado por meu pai a fazer as nove primeiras sextas feiras do mês.

Nesse dia ia da roça para a cidade, fazia a minha confissão, participava da Missa e comungava. Foi uma devoção que me deu sustento espiritual por um bom período de minha infância.

Zelo Pastoral

Quando eu era jovem, em 1977, após ter feito um encontro vocacional, em Aparecida SP, reuni as pessoas, meus vizinhos e dinamizei uma comunidade que existia lá roça. Passamos a nos reunir para rezarmos e meditar a palavra de Deus. Existia uma capela no bairro, mas nela não se fazia nenhuma ação pastoral. Foi ali que aconteceu a minha primeira ação pastoral enquanto comunidade, depois das rezas dos terços nas casas.

Duas vezes por semana nos reuníamos para os nossos momentos de espiritualidade. Aos domingos começamos a fazer a celebração da Palavra de Deus. O povo participava com muita devoção.

Encaminhamentos Vocacionais

Quando completei dezoito anos achava que não tinha mais possibilidade de levar adiante o meu sonho vocacional, mas um tio me incentivou e então, comecei a corresponder com o seminário. Encontrei um endereço de seminário no livrinho “Fé e Vida”, escrito pelos Missionários Redentoristas, fiquei animado e fiz contato. O meu contato com o Seminário era secreto de forma que meus pais não o soubessem. Passado algum tempo recebi uma carta do padre promotor vocacional dizendo que iria visitar-me, fiquei preocupado e então decidi contar aos meus pais os quais a partir daquele momento me ofereceram muito apoio. A visita do padre promotor vocacional nunca aconteceu. Em 1977 fui fazer um encontro vocacional em Aparecida SP. Sabia que não tinha os estudos suficientes para iniciar os estudos para ser padre e então, pensei em ser irmão religioso. Mas durante o encontro senti que minha vocação era ser padre e por isso precisava lutar. Voltei para casa decidido a reiniciar os estudos. Assim o fiz viajando todos os dias cerca de 10 quilômetros para frequentar ao colégio, às vezes ia de ônibus e outras vezes pegava corona. Frequentei aquele colégio durante um ano. Neste mesmo tempo fiz contato com o Seminário Santíssimo Redentor, dos Missionários Redentoristas, em Sacramento – MG. Ali eles aceitavam-me com grau de estudos que possuía. Em janeiro de 1978 participei do encontro vocacional, fui aprovado e então iniciei os preparativos para ingressar no seminário.

Seminário

No dia 11 de fevereiro de 1978 ingressei-me no Seminário Santíssimo Redentor, em Sacramento – MG, para cursar a 6a série (O seminário era dos padres Redentoristas). Aquele foi uma dia que marcou a minha história. Viajei um dia inteiro para chegar ao Seminário. Eu era muito tímido, mas dentro de mim existia algo que me impulsionava e por isso fui vencendo a timidez. Ali fiquei até a conclusão do Ensino Médio. Foi uma etapa muito bonita de minha vida. Depois fui transferido para Campinas – SP, onde cursei Filosofia na PUCCAMP. O meu tempo de Filosofia foi meio conturbado. Tive algumas crises. Em meados de 1986 decidi interromper os estudos, deixei a Congregação dos Missionários Redentoristas e voltei para a casa de minha família. Fui viver novamente lá na roça, na simplicidade de um lar amoroso. Aos poucos fui me organizando para o trabalho. Fui ser representante comercial, vendendo alumínio e confecção infantil. Viajei pelo Triângulo Mineiro, Sul de Goiás, Sul de Minas e Zona da Mata, em Minas Gerais. Os recursos para essas viagem eram precários. Algumas vezes ia de ônibus e posteriormente comprei um fusca velho para viajar. À noite parava nos postos de abastecimento de combustível e dormia dentro do fusca. Após um ano e meio de trabalho e estando já mais estabilizado, sentindo que a vocação permanecia deixei o emprego e, em 1988 ingressei no Seminário da Diocese de Guaxupé, minha diocese de origem, fui morar no Seminário Maria Imaculada em Brodowski – SP, onde estudavam os seminaristas da Diocese. A luz vocacional estava novamente acesa e rasgava a escuridão do meu caminho. Cursei Teologia no CEARP (Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto) pela diocese de Guaxupé. Ali fiquei quatro anos e nos finais de semana viajava para Passos – MG, onde na Paróquia Senhor Bom Jesus dos Passos fazia o meu estágio pastoral.

Ministérios e Ordenações

As responsabilidades foram chegando. Recebi os ministério de Leitor e Acólito no dia 12 de dezembro de 1990, na comunidade São Bento, município de Alpinópolis MG, onde reside minha família. Foi um dia de Graça Divina em minha vida. Concluí os estudos teológicos em 1991. Aos 02 de agosto de 1991 fui ordenado diácono na paróquia Senhor Bom Jesus dos Passos, em Passos – MG. A pedido do bispo fiz estágio pastoral passando um mês em várias paróquias da diocese. No dia 11 de agosto de 1992 fui ordenado presbítero na igreja matriz S. Sebastião, em Alpinópolis MG. A celebração aconteceu numa terça feira. Muitos sacerdotes e fiéis superlotaram aquela igreja. Era a conclusão de uma importante etapa em minha vida. Eu passava a viver como sacerdote. A partir daquele momento me coloquei a disposição da Diocese de Guaxupé para servir onde fosse necessário. A maior parte do meu ministério presbiteral foi exercida na formação dos seminaristas, entretanto, auxiliei em vários outros trabalhos na diocese. Desde que fui ordenado diácono até o momento de minha nomeação episcopal trabalhei em 16 paróquias. Exerci vários cargos na minha diocese de origem tais como: administrador paroquial, pároco, membro do colégio de consultores, conselho de presbíteros, reitor e ecônomo de seminário, professor no seminário e coordenador da pastoral presbiteral.

Chamado ao Episcopado

No dia 18 de dezembro de 2006 recebi um telefonema do senhor Núncio Apostólico, Dom Lorenzo Baldisseri que me pediu que fosse à Brasília para tratar de um assunto importante. No dia 20 de dezembro encontrei-me com o Núncio Apostólico o qual me comunicou ser portador de uma notícia que iria mudar o rumo de minha vida e me marcaria para sempre, tratava-se do comunicado de que o Santo Padre, o Papa Bento XVI, me havia nomeado bispo da diocese de Uruaçu – GO, era preciso que fosse apresentado o meu assentimento por escrito e a notícia ficaria protegida pelo sigilo pontifício até o dia 03 de janeiro, data escolhida para a publicação oficial. Eu poderia renunciar, mas ficaria também com uma marca negativa em minha vida, no sentido de ter dito não ao pedido da Igreja. Sem conhecer para onde estava sendo enviando, eu disse o meu sim e aguardei no silêncio o dia da publicação. Assim vivi um tempo de recolhimento e oração me preparando para a minha nova missão até que no dia 03 de janeiro de 2007 a notícia se espalhou rapidamente.

A minha Ordenação Episcopal aconteceu no dia 11 de março de 2007, em Guaxupé – MG, no ginásio de esportes daquela cidade. Fui ordenado por Dom José Geraldo Oliveira do Valle, o qual na época era Bispo Emérito de Guaxupé. Foi ele quem me conferiu os ministérios de leitor e acólito, ordenou-me diácono e padre. Na homilia ele me recordou que eu havia chegado ao episcopado não por mérito meu, mas por graça de Cristo que havia me chamado e confiado aquela missão, através da Igreja. Foram Bispos Co-ordenantes Dom José Silva Chaves que na ocasião era Administrador Apostólico de Uruaçu e Dom João Braz de Aviz que era Arcebispo de Brasília.

A minha posse canônica na Diocese de Uruaçu aconteceu no dia 25 de março de 2007, no Ginásio de esportes do Seminário São José. Houve a participação de muitos fiéis leigos, seminaristas, religiosos, consagrados, sacerdotes e bispos inclusive do senhor Núncio

Apostólico, Dom Lorenzo Baldisseri. Assim, com alegria, esperança, mas também com temor e tremor iniciou-se o meu ministério episcopal.

Ministério Episcopal

Do exercício de meu ministério episcopal na Diocese de Uruaçu destaco: a implantação da pastoral presbiteral, do fundo de solidariedade entre o clero para ajudar no sustento dos padres que trabalham em paróquias menores sem recursos financeiros, o apoio à promoção vocacional, formação dos seminaristas, ordenação de vários sacerdotes, a elaboração de um plano de pastoral, o apoio às pastorais e movimentos, a implantação do diaconato permanente, a realização de visitas pastorais em todas as paróquias, o atendimento curial, o incentivo ao envolvimento dos leigos nas pastorais e movimentos, a implementação da comunicação diocesana, a administração do patrimônio diocesano, construção da Cúria Diocesana e do Centro Vocacional, as reformas da residência episcopal e do centro de treinamento de líderes, o apoio à construção e reforma de várias igrejas na diocese, a criação de oito paróquias, a grande realização do Bote Fé o qual reuniu cerca de 25.000 pessoas, a realização de minha primeira Visita Ad Limina durante a qual me encontrei com o Santo Padre, o Papa Bento XVI, a realização de um retiro espiritual na Terra Santa com todo o clero da diocese, o apoio às romarias realizadas nos santuários diocesanos e muitos outros eventos, encontros, congressos, celebrações, visitas e ações sociais realizadas em comunhão com todo o clero e o povo de Deus presente no território diocesano.

Regional Centro Oeste da CNBB

Em nível do Regional Centro Oeste além de ser membro ativo do mesmo fui chamado a oferecer a minha contribuição enquanto bispo referencial da Comissão Pastoral da Terra e atualmente como o bispo referencial da comunicação. Ainda neste sentido de serviço no dia nove de julho de 2014, fui eleito Presidente do Regional Centro Oeste da CNBB.

Publicações

Neste tempo de episcopado escrevi muitos artigos os quais foram publicados no jornal diocesano e em outros meios de comunicação. Minhas obras de maior destaque são a minha carta pastoral “Sete Cestos Cheios” e o meu livro “Superar a Dor do Luto”, ambos publicados em 2014. A carta pastoral é comemorativa dos meus sete anos de episcopado. Ela é composta de sete partes e trata de assuntos pastorais, doutrinários ligados ao número sete como por exemplo: o significado de sete na Bíblia, sete sacramentos, sete dons do Espírito Santo, sete dores e sete alegrias de Nossa Senhora e os sete pedidos do Pai Nosso.

O livro “Superar da Dor do Luto” foi publicado pela Editora Paulinas e traz uma reflexão confortadora para as pessoas que estão vivendo a situação do luto. São trinta meditações para serem rezadas permitindo que a realidade do luto seja iluminada pela fé. Escrevi este livro pensando nas muitas pessoas que procuram uma orientação quando estão em grande sofrimento devido a morte de um ente querido.

Lema episcopal

Ao ser nomeado bispo iniciei também os preparativos para a ordenação. Dentre esses preparativos estava o da escolha do meu lema episcopal o qual foi tirado do Evangelho de João “Permanecei em mim” (Jo 15,4). Permanecer em Cristo deve ser o esforço de quem é chamado a servi-lo. Não é um lema de proteção, no sentido de encolhimento dentro da vida de Cristo, mas trata-se do desafio de segui-lo onde quer que Ele vá, se necessário até à Cruz. Ir com Cristo até o fim, sem buscar recompensas, trabalhando incansavelmente pelo Reino de Deus, esse é meu desejo. Quero assim permanecer sempre Nele. Assim meu lema me leva a ter uma história aberta nas sendas de Cristo. Sei que a minha história não é só isso que partilhei e não tem seu ponto final aqui, mas está em construção. Rezo pedindo a Deus a graça de estar sempre disponível para Ele que me deixe, ou leve onde for necessário.

Brasão de Armas de Dom Messias Reis Silveira

Descrição: Escudo eclesiástico partido. O primeiro de argente com três faixas de goles – Armas dos Silveiras. O segundo de blau com uma flor-de-lis de argente sobre um crescente do mesmo. O escudo está assente em tarja branca. O conjunto pousado sobre uma cruz trevolada de ouro. O todo encimado pelo chapéu eclesiástico verde, forrado de vermelho, com seus cordões em cada flanco, terminados por seis borlas cada um, tudo de verde. Brocante sob a ponta da cruz um listel de goles com a legenda: MANETE IN ME, em letras de argente.

Interpretação: No primeiro, estão representadas as armas familiares paternas de Dom Messias, os Silveiras. Os esmaltes e metais obedecem às regras heráldicas. O campo de argente (prata) simboliza a inocência, a castidade, a pureza e a eloqüência, virtudes essenciais num sacerdote. As faixas de goles (vermelho), simbolizam o fogo da caridade inflamada no coração do Bispo, pelo Divino Espírito Santo, bem como, valor e socorro aos necessitados. O segundo campo, de blau (azul) representa o manto de Maria Santíssima sob cuja proteção o Bispo pôs toda a sua vida sacerdotal, sendo que este esmalte significa: justiça, serenidade, fortaleza, boa fama e nobreza; e a flor-de-lis sobre o crescente representam Nossa Senhora da Conceição, sendo que, por seu metal argente (prata), tem o significado acima descrito. A cruz e o chapéu representam a dignidade episcopal. O ouro da cruz simboliza: nobreza, autoridade, premência, generosidade, ardor e descortínio. O listel tira seu lema da frase do Evangelho de São João (Jo. 15, 4): “Permanecei em Mim”, sendo uma afirmação da confiança do Bispo de que quem permanece unido a Cristo dará muito fruto.