O 27º Curso Anual dos Bispos do Brasil, que acontece desde segunda-feira, 22, na Arquidiocese do Rio de Janeiro, e será encerrado nesta sexta-feira, 26, segue com reflexões do tema “O Ateísmo – Formas atuais e desafios à evangelização”. Segundo o bispo referencial para a Pastoral Familiar e participante do curso, Dom Antônio Augusto Dias, é importante debater o tema para que a Igreja permaneça atualizada e em sintonia com as mudanças que ocorrem no mundo.
Para Dom Antônio, o ateísmo atinge, primeiramente, à família, que é um dos principais pilares da sociedade. “A família é o primeiro contato social e vai formando uma qualidade que é imprescindível para se viver em sociedade: a cidadania, isto é, quando eu não estou pensando em mim mesmo, mas no bem de todos. E o ateísmo faz com que a família perca sua identidade”, afirmou o bispo.
A temática da família foi trabalhada durante o curso nos respectivas palestras: “Uma redefinição da pessoa humana”, pelo doutor em Teologia e vigário geral da Opus Dei, monsenhor Fernando Ocáriz; “Laicidade e laicismo”, pelo também doutor em Teologia, padre Rafael José Stanziona de Moraes; e “Secularização”, pelo vice-reitor da Universidade Católica de Milão, Francesco Botturi.
Panorama do marxismo
Em sua palestra, monsenhor Ocáriz refletiu sobre a atualidade do marxismo e suas origens imediatas, falou sobre o marxismo original – Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) –, pontuou o revisionismo marxista, o neomarxismo, e ressaltou o ateísmo marxista. “Rejeitar o marxismo em suas diversas manifestações não significa, como é obvio, desconhecer ou permanecer indiferentes perante os problemas e injustiças sociais: como a história demonstrou, o marxismo não conseguiu, nem chegou a resolver, muitos desses problemas e injustiças, mas sim os perpetuou, e inclusive os tornou mais agudos”, afirmou.
Segundo o Monsenhor, Papa Francisco tem encorajado os cristãos e pastores, a escutarem o clamor dos pobres, e recordou as orientações do Concílio Vaticano II, que adverte não competir à Hierarquia da Igreja promover soluções técnicas ou estratégias políticas para a solução dos problemas econômicos e sociais. “É tarefa específica dos fiéis leigos configurar à luz do Evangelho as estruturas políticas, sociais e econômicas nas comunidades às quais pertencem”, suscitou o monsenhor.
De acordo com monsenhor Ocáriz, os fiéis leigos necessitam receber de seus Pastores, junto à assistência sacramental, uma formação cristã adequada à sua situação pessoal ou ao papel que desempenha na vida social, no sentido de despertar uma responsabilidade social. E, com palavras de São Josemaría Escrivá — fundador do Opus Dei —, o vigário encerrou: “Um homem ou uma sociedade que não reaja diante das tribulações ou das injustiças, e que não se esforce por aliviá-las, não são um homem ou uma sociedade à medida do amor do Coração de Cristo”.
Laicidade e laicismo
Sobre a laicidade, padre Rafael José Stanziona, declarou: “Contrariando o que muitas vezes se imagina, a Igreja Católica, nos dias de hoje, vê com bons olhos a laicidade do Estado”. O sacerdote explicou que a laicidade do Estado abrange três aspectos essenciais, sendo eles, a separação entre o poder do Estado e as confissões religiosas – o que afasta o governo das decisões das igrejas e vice-versa –, a garantia, por parte do Estado, de que todos terão direito à liberdade religiosa e a neutralidade do Estado com relação às diferentes crenças religiosas.
Após fazer um apanhado histórico, ele explicou que laicidade é complicada quando se trata de temas que tangem tanto à religiosidade quanto à civilidade enquanto constitucional. Padre Rafael citou três temas que atualmente estão sendo debatidos pelo Ministério Público para fins de criação de novas leis, que são: a união entre pessoas do mesmo sexo – ele acredita que houve falha na caracterização de família como união de pessoas do mesmo sexo ou de sexos opostos –, o ensino religioso confessional – para ele, apenas o ensino religioso confessional de acordo com a escolha dos pais respeita o direito à liberdade religiosa garantido por lei pelo Estado –, e a questão dos símbolos religiosos em órgãos públicos, que considera como um tema delicado e dependente de muitas variáveis, tais como qual o significado de um determinado símbolo no local em que se encontra.
“Ao se tratar, nesse curso de bispos, do ateísmo e também do laicismo, trata-se também da família, pois ela está no centro, como se fosse o olho do furacão”, ressaltou Dom Antônio. Para o bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio, Dom Paulo Alves Romão, é importante para os bispos conhecer, aprofundar e retomar certos pensamentos filosóficos que norteiam as diferentes culturas da atualidade. “É um desafio ao trabalho pastoral. Ter conhecimento dessas coisas nos ajuda, inclusive, a ir mais a fundo, também, na nossa fé, para responder aos desafios do nosso tempo”, afirmou.
Secularização
Botturi, em sua conferência, explicou a diferença entre “secularização”, que é o afastamento da sacralidade, e “secularismo”, a separação entre instituições governamentais e instituições religiosas. Segundo ele, a secularização tem início quando prevalece a percepção que “certos bens da vida podem realizar-se mais plenamente se são encaminhados para fontes não teísticas”, especialmente a fontes não cristãs.
A secularização não é uma doutrina ou um acontecimento, de acordo com Botturi, mas um longo e complexo processo de elaboração de ideias, feita de momentos diferentes mas relacionados entre si. É resultado de um processo. “Cristo não mais é ‘sacramento’ de salvação para o homem, mas ‘figura’ de um humanismo sucessivo e substitutivo, nos quais conteúdos da tradição cristã são traduzidos em uma nova linguagem e em um novo sistema de pensamento”, disse ele, explicando que o homem entende a religião como uma forma de obter benefícios e não como um meio de chegar a Deus.
Para o bispo emérito da Diocese de Cajazeiras, na Paraíba, Dom José Gonzáles Alonso, é importante entender o movimento de secularização para estar preparado, como bispo para agir e dar respostas aos fiéis no que diz respeito à Evangelização. “Caminhamos para um mundo secularizado. Portanto, temos que tomar consciência das mudanças do mundo e, como leigos ou pastores, devemos evangelizar também este mundo, respeitando as pluralidades, mas sem medo”, disse.
Por Canção Nova, com Arquidiocese do Rio de Janeiro