Dom Paulo Evaristo Arns foi bispo e arcebispo de São Paulo entre os anos 60 e 70. Na Zona Norte da cidade, teve uma atuação marcante. Desenvolveu inúmeros projetos voltados para a população de baixa renda, entre 1966 e 1970, como auxiliar da Arquidiocese.
Em Santana começou trabalho orgânico e integrado com padres, religiosos e leigos, preocupado com a formação permanente do clero e do povo. Criou a “Missão do Povo de Deus’, passando um tempo em cada paróquia da região com uma equipe para multiplicar os ensinos do Concílio Ecumênico Vaticano II. Dessa missão, surgiram Ministros da Palavra que levaram a “Semana da Palavra”, em 8 etapas, para as ruas da arquidiocese, evangelizando a cidade, formando comunidades eclesiais de base (CEBs) e multiplicando grupos de rua.
Em 1998, aos 76 anos, apresentou a renúncia. Chegou à Arquidiocese outro franciscano, Dom Cláudio Hummes, que assim recorda o seu antecessor e confrade:
Era um homem de ação, não só de palavras
“Foi um grande pastor da Arquidiocese de SP e teve sempre uma liderança muito forte na Igreja do Brasil inteiro. Era admirado também no mundo afora, era uma figura internacional, como Dom Helder Câmara. Sua morte é uma grande perda para todos nós, mas hoje o lembramos também com alegria pelo que ele significou para o Brasil, a sociedade brasileira e a Igreja de modo particular. Se destacou no tempo da ditadura militar, quando foi bispo. Nos tempos do Presidente Médici, auge da repressão, ele o enfrentou pessoalmente para denunciar, reclamar, para pedir a cessação das torturas, das prisões, enfim… Sempre teve muita coragem, sempre o admiramos pela coragem e a lucidez. Ninguém o silenciava. Ele denunciava e fazia também. Não era só homem que falava, ele fazia, ia visitar as prisões, ira à procura dos que foram mortos e estavam desaparecidos… enfim, uma figura que o mundo conhece como grande defensor dos perseguidos”.
Levou a Igreja às periferias e esteve com os pobres
“Era também um homem das periferias. Ele começou um grande trabalho nas periferias da Arquidiocese de SP. Naquele tempo, a Arquidiocese era muito maior do que hoje… depois ela foi dividida. Havia enormes periferias e as favelas eram ainda muito mais miseráveis do que hoje. Ele começou a orientar a sua Igreja (de SP) para ir às favelas, a estar lá, junto com os pobres, trabalhar com eles, defende-los, solidarizar-se com os pobres, com os favelados, dos desempregados. Foi um homem muito dos pobres, com os pobres e para os pobres. Ele sabia que era necessário trabalhar com eles, fazer deles também sujeitos de sua própria história, acompanhando-os, apoiando-os, encorajando-os”.
A convivência amigável em SP
“No dia a dia era um homem muito agradável, muito fraterno. Convivi muito com ele, éramos franciscanos… Naquela época, eu estava no ABC e ele começou uns três anos antes aqui em SP. De uma certa forma trabalhamos juntos nos 21 anos em que estive em Santo André. Encontrava-me muitas vezes com ele, era muito querido, muito fraterno, muito amigo. Sabia rir juntos, sabia conviver… como um confrade franciscano. Tenho esta lembrança muito forte. Também quando eu vim para SP, indicado para sucedê-lo aqui, ele sempre me apoiou. Ele sabia que eu não era como ele nem ele era como eu… éramos pessoas diferentes e nem deveríamos tentar imitar um ao outro. Ele certamente me inspirou muito no trabalho, e ele sabia disso. Suas grandes linhas, no entanto, sempre ficaram e ficarão aqui dentro da nossa Arquidiocese de SP”. “Foi um homem que inspirou e vai continuar inspirando nós todos. Não podemos esquecê-lo”.
Lúcido e feliz com o Papa Francisco
“Estava muito feliz com o Pontificado do Papa Francisco. Todas as vezes que fui visita-lo, depois da eleição do Papa Francisco, ele sempre queria falar sobre o Papa; saber como estava. Acompanhava muito de perto”.
Por Rádio Vaticano