Confira na íntegra a Carta da Juventude de Dom Eduardo Pinheiro da Silva, sdb, Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB, para os responsáveis pela evangelização da juventude no Brasil.
Brasília, 1º de Outubro de 2014.
CJ Nº 0790/14
Caros párocos e demais responsáveis pela evangelização da juventude no Brasil.
“Vós sois o sal da terra… Vós sois a luz do mundo” (Mt 5,13-14)
No final do mês passado fui convidado para deixar uma mensagem aos jovens de uma Paróquia, a partir desta afirmação de Jesus acima, registrada no Evangelho de Mateus, no contexto do Sermão da Montanha. Ela não se dirige somente aos adultos, mas a todos os filhos e filhas de Deus. E, portanto, aos nossos adolescentes e jovens, de todas as paróquias brasileiras.
Ser “sal e luz” não é, em primeiro lugar, uma conquista nossa. É dom, graça, presente de Deus! Ele não diz que nós “seremos” isto, um dia; ele afirma que já o “somos”, mesmo se ainda de maneira limitada, não plena. Saber disto é motivo de felicidade. Esta identidade não decorre de nosso mérito próprio, mas a recebemos do amor de Deus que é, sempre, gratuidade e abundância, independentemente de nosso merecimento.
Ser “sal e luz” é graça de Deus e, ao mesmo tempo, compromisso nosso. Exige-se empenho em manter o “sal” com sabor e a “luz” na sua função de iluminar. O descuido gera, portanto, ineficácia e inutilidade destes elementos.
“Sal e luz” são dois conceitos que nos remetem a elementos fundamentais, tão presentes, principalmente, na fase de nossa juventude: “sentido de vida”, “alegria”, “prazer”, “valor”, “sabor” “discernimento”, “clareza de direção”, “segurança”.
Se por um lado o verbo ser conjugado – “vós sois!” – nos dá a certeza da nossa identidade, por outro, carrega em si uma convocação: a de “ser” hoje, no meio dos outros e para os outros, protagonistas de uma nova história e da Civilização do Amor! Portanto, é um compromisso!
Estamos entrando em outubro, mês Missionário, rico em memórias e celebrações que nos ajudam a fortalecer nosso coração de entrega radical ao amor de Deus e do próximo! Bebamos do testemunho de Santa Teresinha do Menino Jesus (dia 1º) que, mesmo sem ter deixado o Carmelo, tornou-se a padroeira das Missões pelas suas orações e sintonia aos desafios da evangelização no mundo. Além de nos proteger, os Santos Anjos da Guarda (dia 2) nos recordam que também nós somos, por vocação, mensageiros de Deus e guardiões das pessoas. Os mártires missionários da Igreja, recordados neste mês, nos entusiasmam pela sua coragem evangelizadora e nos animam a entregar a própria vida como fiéis discípulos do Senhor: Beatos André e Ambrósio, no Rio Grande do Norte (3), São Dionísio (9), São Calisto (14), Santo Inácio de Antioquia (17), São Lucas (18), São Simão e São Judas Tadeu (28).
E quem não se encanta com a forte figura despojada e simpática de São Francisco de Assis (dia 4), provocando-nos a promover fraternidade entre as pessoas e respeitar a natureza? E o que não dizer da força carismática daqueles santos que sentiram a necessidade de fundarem Congregações e Institutos, perpetuando, assim, a missão de levar a Palavra de Deus e condições mais dignas às pessoas? São Francisco de Assis e as Ordens Franciscanas (4), São Bruno e a Ordem Cartuxa (6), São João Calábria e a Obra Calabriana (8), São João Leonardi e a Ordem dos Clérigos da Mãe de Deus (9), São Daniel e as Ordens Missionárias Combonianas (10), Santo Antônio Maria Claret e a Congregação dos Claretianos (24). Outros deram a vida pela causa da Igreja, servindo-a, purificando-a, fortalecendo-a e defendendo-a: Santa Tereza de Jesus (15), Santa Edviges (16), São João de Capistrano (23), Santo Antônio Galvão, nosso primeiro santo brasileiro (25).
Aproveitemos do testemunho destes muitos santos e santas para encherem os olhos e o coração dos nossos adolescentes e jovens de entusiasmo missionário! Confiram se nos encontros de catequese e na programação dos grupos e movimentos juvenis existentes em sua Paróquia, há momentos formativos ao redor destas figuras emblemáticas que marcam nossa história cristã e desinstalam as pessoas para servir a Deus e ao próximo. “A leitura da vida dos santos e de seus escritos pode contribuir enormemente para despertar e alimentar a vida dos jovens que hoje, mais do que nunca, sentem necessidade de modelos, líderes, testemunhos” (Doc. 85, n. 128).
A Paróquia, com suas diversas comunidades e projetos, é o ambiente mais propício e completo para o conhecimento e a experiência do significado do “sal” e da “luz”, anunciado por Jesus Cristo. Os adolescentes e jovens que Deus nos confia para amar e servir merecem e desejam encontrar na Paróquia as condições favoráveis para o desenvolvimento de sua identidade cristã e de sua vocação missionária. Que pena contemplar tantos jovens que não se abrem à experiência gostosa e enriquecedora de nossas Comunidades eclesiais! Que pena contemplar paróquias que não apostam nos jovens! “Que lamentável é a existência de uma comunidade que não atrai os jovens!”, pois, “sem o rosto jovem a Igreja se apresentaria desfigurada” (Doc. 100 da CNBB, n. 222)
Queridos irmãos e irmãs, adultos, vamos melhorar nossa missionariedade em direção aos nossos adolescentes e jovens que se encontram em nossos ambientes eclesiais! Ouvi-los, acolhê-los, valorizá-los, auxiliá-los, promovê-los, oportunizando lhes condições de desenvolvimento de sua vocação e de seus dons! Vamos ajudá-los no desenvolvimento de sua vocação missionária para que se tornem, cada vez mais, alegres apóstolos de outros tantos jovens! Não sejamos mesquinhos no tempo e nos recursos gastos com as novas gerações! O investimento nelas é ganho para todos.
A devoção a Nossa Senhora Aparecida nos empolga a todos. Nossa Padroeira nacional (12), nos ajuda a refletir sobre a simplicidade, a atenção aos mais pobres e esquecidos, o valor da família, os sacrifícios de nossa vida peregrina, a pequenez de nossa vida, a grandeza do amor de Deus. Recorramos a ela em nossa busca de fidelidade à vocação missionária que Deus nos concede! Aproveitemos, também, da festa de Nossa Senhora do Rosário, no próximo dia 7, para renovar a prática tão familiar e carinhosa de rezarmos cotidianamente o santo terço. A simplicidade do terço nos conduz à simplicidade da vivência cotidiana de nossa vida que, nas mãos de Deus e sob os olhares de Maria, é chamada à felicidade e à proteção. Quem sabe, com novos meios e linguagens, cativemos as novas gerações para a alegre e constante prática desta devoção popular?
Que o olhar diferenciado para as novas gerações, favorecendo lhes caminhos formativos mais atraentes, envolventes e comprometedores, faça parte da dinâmica pastoral de sua Paróquia e demais iniciativas evangelizadoras.
Tenham todos, um abençoado mês missionário e um marcante momento de celebração do “Dia Nacional da Juventude” que, organizado pela Coordenação da Pastoral Juvenil Nacional, convoca-nos a uma retomada da problemática do tráfico humano, abordado pela Campanha da Fraternidade deste ano (cf. www.jovensconectados.org.br). “Feitos para sermos livres, não escravos!” Com este lema do DNJ 2014, renovemos nosso compromisso de evangelizadores da juventude, chamados a auxiliá-la em sua dignidade de filiação divina. Que nenhum jovem viva em contexto de escravidão, violência e morte! E que nossos jovens, em compromisso missionário pessoal e coletivo, sejam, cada vez mais, “sal e luz” de vida e liberdade no meio de seus irmãos e irmãs.
Com estima,
Dom Eduardo Pinheiro da Silva, sdb
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB