Centesimus Annus e a ética social cristã na era digital

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“Governar as novas tecnologias para preservar o valor autêntico das relações humanas”. É o que diz, em síntese, a mensagem final da recente Conferência promovida pelo grupo alemão da Fundação Centesimus Annus-pro Pontifice, realizada em Berlim nos dias 15 e 16 de novembro, sobre o tema “Ética Social cristã na era digital”.

Cientistas de renome internacional de várias disciplinas transcorreram dois dias trocando pareceres e propostas sobre as oportunidades e os desafios para “a ética social cristã na era digital”.

Em particular, a Conferência concentrou-se sobre que  tipo de respostas o ensino social cristão pode dar hoje ao “progresso do paradigma tecnocrático” na era da digitalização, como informou a Agência de notícias KNA.

Era digital pode reduzir humanidade a um objeto?

O Presidente da Fundação Centesimus Annus-pro Pontifice, Domingo Sugranyes Bickel, especificou que a reflexão conduzida pela Fundação sobre este tema, não se preocupa somente em analisar as novas oportunidades e potencialidades de crescimento, mas também dos aspectos culturais, antropológicos e da organização total da sociedade, em relação à revolução tecnológica em andamento, advertindo que “a humanidade corre o risco de ser considerada dentro das dinâmicas da era digital somente como um objeto”.

Não depender da digitalização, mas governá-la

Já o responsável pelo Centro de Pesquisa Web da Universidade de Ciências Aplicadas Niederrhein, Gerrit Heineman, alertou para a necessidade de não se depender da digitalização, mas de agir de forma a governá-la.

A Europa recém começou a considerar os progressos que estão ocorrendo na Ásia: a China com seus 750 milhões de usuários, representa o mercado mais importante. Aqueles que não enfrentarem o desafio, estarão entre os perdedores.

Heineman também enfatizou que com cerca de 1,3 bilhões de usuários, os cristãos formam a maior comunidade e que da geração nascida após a virada do milênio, 90% utiliza as redes sociais.

Evitar que smarthphone substitua as relações

Para o Arcebispo de Berlim, Dom Heiner Koch, a ética social cristã deve preservar a dignidade do homem no processo de progressiva digitalização, evitando correr o risco de que o smarthphone se sobreponha às relações e a um verdadeiro diálogo interpessoal.

Paradoxos do mundo digital

“A digitalização, já há tempos, diz respeito a todos os âmbitos da vida, do mundo do trabalho à religião, dos hospitais ao tráfegos nas estradas. Por isto, requer também critérios éticos para a aplicação e a interação”, disse por sua vez Dom Everard J. de jong, bispo auxiliar de Roermond.

O prelado disse ainda – referindo-se aos paradoxos da digitalização – que por um lado, as redes sociais têm permissão de relacionar-se com o mundo inteiro, mas ao mesmo tempo, o indivíduo encontra-se solitário.

Smarthphone, tablete, I-phone, I-pad, redes sociais, são instrumentos que permitem colocar o mundo inteiro em contato direto, mas têm também um grande poder sedutor, fazendo a pessoas fugirem da realidade da vida.

As redes sociais permitem participar dos destinos dos outros, mas ao mesmo tempo, podem fazer perceber o sofrimento dos outros como algo distante, sem nenhuma empatia, determinando assim um homem dividido entre “onipresença e solidão”.

De fato, a tecnologia plasma o acesso à realidade e portanto, à ação ética.

Um pensamento de “resistência”

Por fim, citando a “Laudato Si”, Dom De Jong convidou a promover um modo novo de pensar: “deveria haver um ponto de vista diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que formam uma resistência contra o avanço do paradigma tecnocrático”.

Um animado debate desenvolveu-se a seguir entre os conferencistas e participantes, sobre o tema “Inteligência Artificial e sobre o uso ético ou não ético que se pode fazer da mesma”. Pronunciaram-se a este respeito o prof. Jürgen Schmidhuber, codiretor do Instituto de Pesquisa Suíço para a Inteligência Artificial Idsia.

Por Rádio Vaticano