A Cáritas Internacional lançou nesta quarta-feira, 27, a campanha “Compartilhe a viagem”, para promover a acolhida de migrantes e refugiados. A iniciativa teve um forte impulso sendo lançada também pelo Papa Francisco no Vaticano durante a tradicional audiência geral.
“Somos todos filhos e filhas do mesmo Deus, estamos no planeta terra, numa casa em comum, e todos temos direito de ir e vir”. Esta frase de Francisco, é segundo a vice-presidente da Cáritas Brasileira, Irmã Lourdes Maria Staudt Dill, caminho para sensibilização e solidariedade.
A Igreja, motivada constantemente pelo Papa sobre a necessidade da vivência da acolhida, do encontro e do cuidado, despertou a criação de uma campanha em nível mundial durante a assembleia geral da Cáritas Internacional. “Temas vivenciados por vários países foram levantados e discutidos, mas a problemática da migração e dos refugiados foi a que trouxe maior reflexão e sensibilização”, afirmou o diretor-executivo da Cáritas Brasileira, Luiz Cláudio Lopes da Silva, popularmente conhecido por Mandela.
São milhões de famílias que saem de suas terras e os principais motivos apontados por Irmã Lourdes seriam a guerra, desemprego, fome, miséria e a exclusão. A saída e a entrada dos migrantes nos países são apontados pela religiosa como o primeiro problema enfrentado por eles, sendo o trânsito livre entre os países, direito à moradia e emprego, dificuldades posteriores. Os preocupantes dados migratórios e a existência de rejeições de imigrantes são pontos que precisam ser banidos do histórico dos refugiados, de acordo com a Irmã.
A campanha no Brasil, que será desenvolvida pela Cáritas Brasileira, terá duração de dois anos — início em 2017 e término em 2019 — e tem como dois grandes objetivos centrais a construção da consciência e sensibilidade da sociedade mundial sobre a problemática dos migrantes e refugiados – necessidade de acolhimento nas cidades, estados e países – e a incisão sob o pacto mundial sobre as migrações e refúgios, que será assinado no próximo ano, 2018, pelas Nações Unidas. “Neste momento, os países estão discutindo esse documento preliminar, e a ideia é que nós também consigamos incluir proposições ao Governo brasileiro e que ele as leve como proposições de sua autoria”, afirmou Mandela.
“Compartilhe a viagem”
Segundo a vice-presidente da Cáritas Brasileira, o tema da campanha “Compartilhe a Viagem”, escolhido junto ao Papa, é um chamado para que todos sejam solidários em compartilhar a viagem dos que saem sem rumo e chegam sem norte. “São irmãos que fazem parte deste mundo, nossa casa em comum, e querem um espaço apenas para sobreviver com dignidade” comentou a religiosa.
“Compartilhar a viagem, estar junto na viagem, tem a ver com uma nova percepção quanto à viagem dos migrantes que deixam sua vida, cultura e país e estão se introduzindo em outras sociedades com ideias e costumes muito distantes das deles”, afirmou Mandela.
Para o diretor-executivo da Cáritas Brasileira, a ideia de compartilhar a viagem, tradução do termo “Share the Journey”, é estar junto e vivenciar a experiência dos migrantes e refugiados a partir das experiências por eles compartilhadas.
A coragem e profetismo do Papa Francisco são apontados pelos membros da Cáritas Brasileira como grande exemplo a ser seguido dentro da própria Igreja Católica, movimentos, pastorais sociais e também pelos poderes públicos. “Imaginar-se em outro país sem saber para onde ir é colocar-se no lugar, na viagem do outro, dos refugiados. Este tipo de atitude, com certeza sensibiliza e abre corações, caminhos e solidariedade para acolher quem precisa”, finalizou Irmã Lourdes.
Ações da Campanha
No Brasil, as ações projetadas para os dois anos da campanha contam com mobilizações, seminários e atividades diagnósticas espalhadas por todo o país. Para o final do ano de 2017, será realizado um intenso movimento nas redes sociais com as hashtags #sharejourney e #compartilheaviagem, com incentivo a fotos que suscitem o tema e o compartilhamento de histórias de vida e realidades enfrentadas pelos migrantes e refugiados que se encontram atualmente no Brasil.
Em 2018, o Brasil sediará o Fórum Social Mundial e a Cáritas, aproveitando a ocasião, enviará a proposta da realização de um grande seminário sobre o tema migração. Será solicitado também que cada Estado, juntamente das Cáritas locais, pastorais e da CNBB, realizem novas discussões, atividades e diagnósticos da vida dos migrantes para serem apresentados em uma feira de cultura, saberes e sabores no Rio de Janeiro ou em Brasília.
As iniciativas visam movimentar a sociedade brasileira com discussões de histórias e resultados provenientes de estudos da problemática da migração em território nacional, e em um panorama internacional.
O embaixador da Campanha no Brasil
As Cáritas dos mais de 200 países espalhados nos cinco continentes do mundo ficaram responsáveis pela escolha de pessoas, de preferência formadores de opinião ou figuras populares, para representarem a campanha. Chamados embaixadores, as personalidades estamparam a parte gráfica da campanha de seus países, além de estarem ativamente envolvidas e relacionadas às ações da campanha.
No Brasil, a escolha dos membros da Cáritas, que já realizam trabalhos com migrantes e refugiados, foi diferente. Identificado como o grande embaixador não só do Brasil, mas da América Latina, em uma perspectiva de acolhida e de braços abertos, o Cristo Redentor foi eleito como o maior representante da iniciativa.
“Ele também foi refugiado, também foi migrante e é símbolo nacional de acolhida. Todas as pessoas que vão ao Rio de Janeiro, querem conhecê-lo. Não tem outro embaixador para a campanha do Brasil, que não seja o próprio Cristo Redentor de braços abertos esperando pelos migrantes e refugiados” concluiu o diretor-executivo da Cáritas Brasileira.
Papel da Cáritas Brasileira
Há 40 anos desenvolvendo ações de apoio aos migrantes, a Cáritas Brasileira destaca o país como bastante acolhedor no abrigo de haitianos, africanos e senegaleses, e contabiliza a soma de 78 nacionalidades diferentes presentes no Brasil. Parceira histórica da Cáritas, o alto comissariado das Nações Unidas para os refugiados, ACNUR, é uma das principais organizações que trabalham com esta temática no país.
A medida que crescem o número de pessoas buscando refúgio, a Cáritas expande seu trabalho social com migrantes e refugiados, prioritariamente realizado nas arquidioceses de São Paulo e do Rio de Janeiro, em um processo de acolhida, reinserção social — desde a chegada dos refugiados em solo brasileiro —, contribuição no processo de formação na língua e na cultura, até a introdução socioeconomicamente no país.
“Praticamente todas as Cáritas em todas as dioceses têm alguma introdução no atendimento a pessoas em situação de migração e refúgio. Nosso trabalho vai desde a acolhida, compreensão da história de vida das pessoas, até a conquista da reintrodução social”, disse Mandela.
O diretor-executivo da Cáritas Brasileira afirma que socialmente, o papel do organismo da CNBB, não é cumprir um papel que é do Estado, mas sim trazer à tona discussões e problemáticas que atingem diretamente o país, para que juntos desenvolvam estudos e meios de lidar com temas como este.
“Queremos fazer uma discussão com o Governo Federal e Órgãos Estatais para envolvê-los nessa e em futuras campanhas. A ideia é que consigamos realizar diálogos, seminários, audiências públicas em todas as estâncias do Governo relacionadas ao tema e a problemáticas de nível nacional e mundial”, concluiu Mandela.
Por Canção Nova