“Se os Pontífices rezam nas mesquitas, por que eu não deveria fazê-lo no Vaticano? Eu continuo muçulmano, mas juntos podemos rezar uns pelos outros, pela paz, pelo mundo. E eu, no domingo, fiz isto”.
Na Missa por ocasião do Jubileu dos Encarcerados, celebrada no domingo na Basílica de São Pedro, o Papa Francisco foi assistido por Issam [na foto, o Papa Francisco na sacristia saúda um capelão, com detentos serviram na celebração ao fundo], o primeiro muçulmano a usar as vestes de Ministrante. Auxiliou o Papa a vestir os paramentos para a Solene Celebração, entrou em procissão e tomou seu lugar aos pés do altar. E o fez com grande naturalidade.
“Qual a dificuldade em entender?”, questiona, como resposta sobre o possível medo em ser mal interpretado. “Acredito no diálogo e no respeito. Pedi ao Santo Padre para rezar por mim, pela minha família, por nós detentos. Ele me pediu o mesmo”.
Issam é um detento da Casa Penal de Busto Arsizio. Oito dos apenados foram escolhidos para desenvolver o Serviço Litúrgico, junto a outros provenientes das Prisões de Brescia e de Ucciardone de Palermo.
“Quando do Vaticano me pediram para encontrar detentos para esta tarefa – conta o Capelão de Busto Arsizio, Padre Silvano – avisei que havia um jovem muçulmanos que mostrou-se disponível e me responderam que seria confiado a ele um gesto importante”. Issam, assim, foi encarregado de lavar as mãos de Bergoglio na Sacristia e foi o único a permanecer sozinho com ele antes da Missa.
“Por que quis fazê-lo? Para fazer entender que nós muçulmanos somos diferentes daquilo que alguns querem fazer acreditar que somos. Nós somos pela paz”, afirmou.
O único pedido do marroquino, foi o de levar consigo na viagem da prisão até o Vaticano o próprio tapete para a oração. Fez uso dele antes de chegar na Basílica e novamente na parte da tarde. “Eu continuo muçulmano – afirma – mas acredito no diálogo e no respeito”. Quando disse isto ao Papa, ele o abraçou e o beijou.
Como dom, em nome de todos os detentos de Busto Arsizio, Issam entregou ao Papa a chave de São Pedro feita de chocolate por um confeiteiro da prisão. Queria ter contado a sua história, mas não houve tempo para tal, pois os 34 anos de Issam são densos de acontecimentos tumultuados, como a travessia do Mar Mediterrâneo a partir da Líbia, em meio a outros refugiados. Passaram-se vinte anos desde então.
O jovem, vindo do Marrocos para encontrar os irmãos que se formaram e na Itália e haviam encontrado um trabalho, perdeu-se na droga e no álcool. “Parece estranho dizer – relata – mas na prisão me salvaram. Fui preso há seis anos por uma série de crimes e restam quatro anos para descontar a pena. Por trás das grades fortaleci minha fé muçulmana que tinha desde pequeno e isto me transformou: agora estudo, não me drogo mais, não bebo e encontrei a minha paz interior”.
Issam foi confundido até mesmo com um terrorista. “Há dois anos – conta – morreu a minha mãe e na prisão me pediram para recitar uma oração durante a cerimônia pelo fim do Ramadã. Quando acabei, todos elevaram as mãos ao céu. Quem nos observava, pensou que eu queria rebelar as pessoas. Obviamente não foi assim”.
Tanto que no domingo Issam estava próximo ao Papa: “As suas palavras me tiraram o fôlego – confessa. Ele rezou por nós detentos. Sentimos de não sermos mais os últimos, os excluídos”.
Por Rádio Vaticano