“Onde houver laços humanos, ali a Igreja deve se fazer presente”

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O bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ) e secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Joel Portella Amado, falou sobre os desafios de implementação das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) – 2019-2023, aprovadas na 57ª Assembleia Geral dos Bispos, realizada em Aparecida (SP), em maio. Ele destaca, sobretudo, a necessidade de fortalecer os lanços humanos, a exemplo de São Paulo Apóstolo, tendo em vista a criação de novas comunidades eclesiais missionárias. “Em uma pequena comunidade missionária, o vínculo de relacionamento é muito importante”, disse. Veja, abaixo, a íntegra da entrevista publicada originalmente na edição nº 28 da Revista Bote Fé.

O que as igrejas particulares e as comunidades precisam fazer para implementar as DGAE aprovadas na 57ª Assembleia Geral? Qual o caminho a percorrer agora?

As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora 2019-2023 têm duas referências insiapensáveis: comunidade e missão. Para as comunidades, foi cunhado o termo comunidades eclesiais missionárias e para a missão nós ficamos com o “ad gentes”, ou seja, ir ao encontro dos outros. O que se pede da Igreja hoje é presença das comunidades eclesiais em todos os ambientes e que elas sejam acolhedoras, mas também missionárias. A imagem da casa nas DGAE fala muito dos pilares. Mas também é possível trabalhar com a ideia da porta, pois ela nos permite trabalhar com o acolhimento e a missão. É aqui que está a implementação.

O que fazer? Primeiro, no campo da missão, reconhecer que o “ad gentes” não é mais uma questão de geografia, mas que muitas vezes você tem ao seu lado, ao alcance da sua mão, uma pessoa para quem Jesus Cristo não significa mais nada. Hoje isso é global. As dioceses são chamadas à dimensão missionária de diversas maneiras. Entre elas, se sobressai a ideia de ter clareza que as posturas precisam ser “paradigmaticamente missionárias”, como diz o papa Francisco. Ou seja, tem que se preocupar com quem está fora. A prática mais comum no Brasil é a visita missionária, também chamada de missão popular ou Santas Missões.

É necessário encontrar formas de visitas missionárias que não sejam apenas para chamar para matriz. Mas que seja para dizer: “nós viemos te visitar e com você vamos fundar uma comunidade eclesial”. Não basta ter uma igreja numa grande área, mas é preciso ter presença de Igreja onde as pessoas vivem e estão. Por isso, que existe a conexão entre missão e comunidades eclesiais. Existem experiências como as de escolas católicas, nas quais em torno do carisma do (a) fundador (a) os pais se reúnem em comunidade.

Qual é o papel da CNBB nesse processo?

O grande papel é de animadora e estimuladora. Porque cada diocese, além do seu jeito de ser na sua cultura, da sua história, das suas tradições, tem autonomia total para implementar as diretrizes. A CNBB não intervém nem obriga ninguém a executar uma orientação. Mas ela pode ajudar as dioceses a trocarem experiências, compreender o que está por trás das entrelinhas das DGAE e refletir. É isso que a gente vai tentar fazer. Já estão sendo realizados alguns seminários.

Porque a aposta em pequenas comunidades missionárias?

Porque a Igreja acima de tudo é comunidade e missão. É uma configuração que é solicitada desde a IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano realizada em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992 e com V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, ou Conferência de Aparecida, em 2007 se tornou claríssima. Onde houver laços humanos “naturais”, ali a Igreja deve ser fazer presente. Lembro-me de São Paulo. Ele ia às cidades e descobria os laços humanos naturais e em cima deles fazia o processo evangelizador. Em uma pequena comunidade missionária, o vínculo de relacionamento e muito importante.