Devoção verde-amarela tinge Jardins do Vaticano. Entrevista com Card. Aviz

0
397

Sábado, 24 de junho, os Jardins do Vaticano se tingiram de verde e amarelo quando cerca de 150 representantes das comunidades brasileiras em Roma peregrinaram ao monumento dedicado à Nossa Senhora Aparecida. O evento fez parte da programação que celebra os 300 anos do encontro da imagem no Rio Paraíba.

Em nome da nossa equipe da RV, Jackson Erpen participou do evento, transmitindo-o também ao vivo em nossa página no Facebook. Sob o quente sol da tarde destes primeiros dias de verão, o Cardeal João Braz de Aviz conversou com ele e inicialmente explicou o significado da iniciativa.

“Naturalmente ao lado de Nossa Senhora Aparecida há uma identidade nacional, mas há também uma alma religiosa que está no nosso povo e que está também em todos os brasileiros que estão aqui por Roma estudando, trabalhando, fazendo alguma missão especial nas várias mansões. Eu fiquei muito contente porque organizaram isso muito bem; nós caminhamos pelos Jardins fazendo o terço dos mistérios gozosos com meditações sobre a Campanha da Fraternidade e com um momento de reflexão sobre o nosso país. Foi muito bom”.

Cada mistério foi ligado a uma região do país e a um bioma 

“Isto está muito no espírito do que estamos meditando hoje no Brasil com a Carta (Laudato si, ndr) do Papa. Neste sentido, para nós, é um ‘tomar consciência’, junto com Nossa Senhora, de que nós somos aqueles que administramos a vida como ela, que deixou que o Senhor da vida entrasse nela”.

O que Nossa Senhora Aparecida nos ensina?

“Temos que depurar a política e o comportamento moral, sobretudo o comportamento ético-social. Naturalmente, também o pessoal, porque é do pessoal que vem o comportamento social. Viemos a descobrir agora que aqueles  que deveriam ser para nós os responsáveis  de tudo que é a vida, o esforço, o trabalho de um povo são aqueles que desviaram a maior parte destes bens de um modo violento, violentando todo o nosso povo. Não esperamos um salvador da pátria, porque isto não é necessário para o Brasil. Agora quem tem que tomar à frente é a consciência do povo. Nós precisamos também nos unir; há muita acusação de grupo contra grupo, que muitas vezes não traz perspectivas de solução. Penso que confiar agora numa espécie de ‘novo Messias’ não é o caso, já vimos que não dá. Precisamos que cresça a consciência popular, a participação, o comportamento ético, e preservar como sagrado o que é do nosso povo”.

“Queremos ver nossas escolas funcionar, nossos professores valorizados, nossos hospitais cuidando realmente do doente, precisamos ver nossos médicos não correndo atrás de dinheiro e de enriquecimento, mas da vida humana… e assim por diante. Isto para nós agora é o importante”.

O que é mais exigido do povo brasileiro diante da crise?

“Agora devemos pensar não só na gente, em nosso grupo, mas pensar no país inteiro. É o meu país, é o meu Brasil, é a minha pátria, o lugar onde eu nasci, onde eu estou crescendo e onde eu estou vivendo e realizando minha profissão, etc. É meu ambiente de vida, meu lugar, e é sagrado para mim. Tenho que me identificar com meu povo, que é diversificado. Temos que aprender a colher, como estamos acolhendo tanta gente, não criar facções que prejudicam o caminho. É o momento do olhar comum, do aprender a olhar para fora, olhar para todos. Olhar e ajudar a construir”.

Por Rádio Vaticano