O drama dos desempregados é tema das intenções de oração do Papa Francisco para este mês de outubro. Só no Brasil, o problema atinge cerca de 13,1 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE divulgados no final de agosto.
Quem já sentiu na pele o desemprego lembra da dificuldade de superar o choque inicial e dar a volta por cima.
A universitária Euliny Fernanda Fradique de Oliveira, 23 anos, recorda que em 2015 perdeu seu emprego, o que a abalou tanto financeira, quanto emocionalmente, desenvolvendo um quadro de ansiedade e depressão. “Não conseguia lidar com as contas vencendo sem ter condições de pagar. Isso me perturbava”, lembra.
Apesar de jovem, sua realidade foi sofrida. Pernambucana, mudou-se para o Espírito Santo há três anos, após o suicídio de sua mãe. No início morava na casa de um familiar, mas com o desemprego, precisou desocupar a casa, não tinha o que comer e nem dinheiro para voltar ao seu estado de origem, onde tinha conhecidos que a ajudariam.
Mesmo com as dificuldades, ela destaca as motivações que a ajudaram a driblar o problema: “A esperança de superar os traumas do passado, de dar orgulho pra ‘mainha’, de conquistar meu espaço, de sobreviver dignamente num lugar que mal conheço (…) Deus me deu muita resiliência para enfrentar as dificuldades pelas quais passei estando desempregada”.
A volta por cima veio através de um novo empreendimento. Seu noivo, contabilista, a convidou para abrirem juntos um escritório de consultoria contábil, e mesmo recente, têm conseguido captar novos clientes.
Aos que passam hoje pelo desemprego, Fernanda pede que não se deixem levar pelo medo ou desespero, mas acreditem na vida, pois tudo tem o dedo de Deus. “Ele sabe das nossas dificuldades e aflições, por isso, a saída mais inteligente nessa hora é manter a calma, os pés no chão, fazer sua parte (buscar novas oportunidades, se reinventar) e entregar o que você não pode resolver sozinho nas mão de Deus. Na hora dEle tudo se resolve”, sugere.
Empenho de todos para driblar o problema
Um dos pedidos do Papa, em sua intenção de oração, é que “sejam assegurados a todos o respeito e a tutela dos direitos”.
Sobre isso o mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja, padre Antonio Aparecido Alves, conhecido como padre Toninho, esclarece que a busca dessa proteção não deve ser feita a partir de afirmações simplistas, como por exemplo, colocar a culpa na legislação trabalhista ou invocar o crescimento econômico como gerador de novos postos de trabalho.
Para o especialista, os números do desemprego impressionam porque por trás deles existem pessoas, afrontadas em sua dignidade. Ele indica que os caminhos para o pleno emprego devem ser buscados em uma atitude de diálogo entre governo, empresas, sindicatos e sociedade civil organizada.
Da parte do empresariado, o especialista destaca a necessidade de medidas estruturais que favoreçam o emprego, como investimento no setor produtivo, ao invés do mercado financeiro.
Quanto ao desempregado, o sacerdote diz que este deve manter o ânimo, acreditar que a situação poderá ser melhor e procurar atividades alternativas para geração de renda.
E, por fim, da parte das comunidades, organizar-se em rede de assistência aos desempregados, ajudando-os com a doação de alimentos, pagamentos das tarifas públicas, balcão de empregos onde sejam disponibilizados pelas mídias paroquiais sua oferta de mão-de-obra, entre outras coisas, sugere padre Toninho.
Dignidade do trabalhador
O especialista destaca que há diferença entre trabalho e emprego. Este último refere-se à atividade remunerada por certo número de horas, destinado à produção de bens e serviços. Já o trabalho trata da capacidade criativa do ser humano, desde a criança que transforma tinta da caneta em letra, até o trabalho de um metalúrgico que transforma o aço em um automóvel.
Diante disso, padre Toninho destaca que a “dignidade de trabalhador jamais será tirada da pessoa. É preciso alimentar a autoestima de que se é um trabalhador, mesmo que esteja desempregado”.
Justamente a fim de manter essa dignidade, o Papa pede ainda, em sua intenção de oração, que “seja dada aos desempregados a possibilidade de contribuírem para a edificação do bem comum”.
“São necessárias políticas públicas que possibilitem aos desempregados contribuírem para o bem da sociedade, em frentes de trabalho, onde se assegure o mínimo necessário para sua vida e de suas famílias, bem como ações solidárias nas comunidades que abram espaço para que estas pessoas possam ajudar de alguma maneira, colocando ali seus dons e talentos a serviço de todos”, aponta.
Por Canção Nova