As histórias que remetem à criação do Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 08 de março dão conta de que a data teria surgido a partir de um incêndio em uma fábrica têxtil em Nova York, onde mais de 130 operárias morreram carbonizadas. O incidente marcou a trajetória das lutas feministas ao longo do século 20, mas foi somente nos anos 60 que o movimento feminista ganhou corpo e em 1977 o “8 de março” foi reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas.
O bispo nomeado de Lages (SC) e presidente da Comissão para a Ação Social Transformadora, dom Guilherme Werlang afirma que é preciso lembrar sempre a origem do Dia Internacional da Mulher. Para ele, desde o princípio, a mulher reivindicou dignidade e respeito no seu trabalho, que era praticamente um “trabalho escravo”, “opressor”. “Diante da reação das mulheres no passado é que se pode hoje homenagear a todas em um dia exclusivo”, disse.
No Brasil, as movimentações em prol dos diretos da mulher surgiram no início do século 20 e como nos demais países, as mulheres buscavam por melhores condições de trabalho e de vida. A luta em si ganhou força com o movimento das sufragistas, nos anos de 1920 a 1930. Foram elas que lutaram e conseguiram o direito ao voto, que se estende até os dias atuais. “Gostaria de prestar minha homenagem às mulheres por sua coragem de indignação, por sua organização e por sua luta para superar, para vencer toda forma de violência, de injustiça, de discriminação”, salienta dom Guilherme.
Violência contra a mulher
Após a conquista do direito ao voto no Brasil, a partir dos anos 80 as mulheres embarcaram numa nova luta: a luta contra a violência às mulheres. Neste contexto, dom Guilherme afirma que apesar de todos os avanços que foram dados no passado, as mulheres ainda passam por muitas situações “vexatórias” e “machistas” atualmente. “Ainda temos muito predomínio de uma ideia machista e, isso, parte as vezes de lideranças políticas, econômicas, religiosas e acho que tudo isso deveria ser superado. Devemos nos unir e juntos devemos vencer isso”, completa o bispo.
Outra questão que ainda precisa ser vencida, de acordo com o bispo é a discriminação entre o gênero humano (masculino e feminino). Para ele ainda hoje são dados direitos e liberdades para o sexo masculino que o feminino não contempla. “Se quisermos mesmo mudar a nossa sociedade deveríamos começar pela educação, especialmente a infantil, ainda se reproduz o mesmo sistema de desigualdade entre homens e mulheres, quer dizer, crianças meninos e meninas. Temos que mudar completamente a educação na primeira infância, seja nas famílias, nas creches para podermos de fato mudar a sociedade onde o homem e a mulher tenham de fato direitos e dignidades iguais”, defende.
Ações Concretas da Igreja – Frente à violência sofrida por mulheres diariamente, a Pastoral da Mulher Marginalizada, ligada ao Setor de Pastoral Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem desenvolvido um trabalho de acompanhamento e promoção das mulheres que se encontram em situação de prostituição, de fragilização social e são vítimas de tráfico humano. “Ao longo dos 50 anos de existência, a Pastoral tem desenvolvido ações de enfrentamento ao abuso e exploração sexual de mulheres e tem se posicionando frente às injustiças estruturais que causam sofrimento a vida das mulheres”, afirma a coordenadora nacional da Pastoral, irmã Elizangela Matos dos Santos.
Não só no Dia Internacional da Mulher, mas em todas as ações durante o ano a coordenadora explica que a Pastoral desenvolve trabalhos e traça agenda de atividades com temas atrelados a suas ações. “A Pastoral atende diariamente mulheres com demandas que muitas das vezes não estão em nosso poder de decisão. Ainda existe outros agravantes a serem enfrentados no nosso dia a dia que é a questão das drogas, gravidez na adolescência, aliciamentos e tantos outros tipos de violência que são vivenciados no contexto social”, explica a irmã.
No ano em que a Igreja coloca como tema da Campanha da Fraternidade: “Fraternidade e Superação da Violência”, a Pastoral continua sua missão de atender, acompanhar, orientar e encaminhar mulheres em situação de risco prezando pelo desenvolvimento de suas autonomias. “Nesse Dia Internacional da Mulher ofereço a nossa homenagem e reforço o direito da mulher reivindicar de fato a sua dignidade e que juntos sejamos construtores da cultura da Paz”, finaliza dom Guilherme.
Por CNBB