A partir de hoje (17) o Vaticano sedia um simpósio internacional sobre “líderes de empresa, agentes de inclusão econômica e social”. Essa temática já tinha sido abordada no Vaticano em julho de 2014, num encontro sobre o bem comum global.
O Simpósio internacional foi apresentado à imprensa pelos promotores do evento: em nome do Pontifício Conselho da Justiça e da Paz falou o secretário Dom Silvano Maria Tomasi, e pela Conferência Internacional das Associações de Empreendedores Cristãos (Uniapac), entidade presente em mais de 40 países, o presidente José Maria Simone.
O desafio da economia em respeito à dignidade das pessoas
Em entrevista à Rádio Vaticano, Dom Tomasi abordou o bem comum através do pontificado de Francisco.
Dom Tomasi – A procura do bem comum na economia é um dos temas fundamentais das intervenções do Papa Francisco: deseja uma economia que respeite a dignidade de todas as pessoas e que se focalize não no bem de alguns, que acumulam muita riqueza enquanto a maioria é deixada à parte, mas que o bem comum seja respeitado na solução e na procura de novas atividades econômicas. Tudo isso na tentativa de sair da crise que, há alguns anos, também enfrenta a inteira economia mundial que está com dificuldades para passar de uma economia de finança para uma economia real. Dessa forma, diria que são duas as tradições que convergem: aquela que o dicastério está promovendo nestes anos e, sobretudo, o ensinamento inovador de Papa Francisco que fala de uma economia de mercado social, isto é, com regras que equilibrem o ganho justo com o bem de todas as pessoas envolvidas: dos proprietários e chefes da indústria, dos operários e empregados que devem viver uma vida decente.
Economia, diálogo e caminho para a paz
É importante que a Igreja, com a sua influência, entre nesse debate com os gigantes da economia.
Dom Tomasi – Por essa razão a Igreja põe um forte tom sobre o diálogo entre os proprietários e os empregados nas suas várias categorias e situações, de modo que não exista um confronto antagonista ou violento, mas um diálogo que leve ao incremento do bem-estar a todos. Nessa estrada se pode construir um futuro de paz porque, se há uma situação econômica substancialmente positiva que leve o bem a todos, daí se origina a consequência social para a paz e a convivência. Dessa forma acreditamos realmente num futuro mais saudável.
A vocação nobre do empreendedor
Vivemos tempos em que os poderes da economia e da tecnologia digital ditam a agenda das atividades humanas, muitas vezes, direcionado a um número muito restrito de pessoas com alto poder aquisitivo. Segundo José Maria Simone, porém, é um contexto em que os empreendedores podem fazer a diferença.
José Maria Simone – A Evangelii Gaudium e a Laudato Si são muito claras sobre os objetivos pelos quais devemos ter mais consciência, sobre as necessidades que as pessoas têm hoje. Mas o Papa afirma também que a vocação do empreendedor é nobre. Então, se a gente olhar a exclusão que se criou em todos os sentidos, a evolução da economia não foi capaz de administrar essa exclusão porque não foi realmente considerada. Isso de um lado. Do outro, quando sabemos que a nossa é uma “vocação nobre”, não podemos não nos sentir envolvidos no objetivo de tentar concordar esses dois aspectos. Enquanto empreendedores, de fato, somos muito pragmáticos, mas somos muito frágeis perante o social. Devemos, então, aprender como transformar os nossos pontos de vista e levar em consideração o impacto que produzimos na sociedade quando tomamos decisões.
Por Rádio Vaticano