Após o encerramento do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, foi apresentada a Carta Apostólica do papa Francisco “Misericórdia e mísera” (“Misericordia et Misera”). A carta, disponível em português, é dividida em 22 pontos e começa com a explicação do título: misericórdia e mísera são as duas palavras que Santo Agostinho utiliza para descrever o encontro de Jesus com a adúltera. O perdão e a caridade são os dois eixos centrais do documento divulgado nesta segunda-feira, dia 21 de novembro.
No texto, o papa Francisco explica o título que recorda a abordagem de Santo Agostinho da passagem do encontro de Jesus com a mulher adúltera. “Esta página do Evangelho pode ser considerada como ícone de tudo o que celebramos no Ano Santo. (…) No centro, não temos a lei e a justiça legal, mas o amor de Deus. (…) Não se encontram o pecado e o juízo em abstrato, mas uma pecadora e o Salvador. (…) A miséria do pecado foi revestida pela misericórdia do amor”, escreve o pontífice.
Francisco recorda que ninguém pode pôr condições à misericórdia. “Esta permanece sempre um ato de gratuidade do Pai celeste”. Concluído o Jubileu, há o convite para se olhar para frente e compreender como se pode continuar experimentando a riqueza da misericórdia divina.
Alguns pontos foram destacados do texto do papa pela Rádio Vaticano:
Celebração eucarística
Em primeiro lugar, Francisco aponta a celebração da misericórdia através da missa. Dirigindo-se aos sacerdotes de modo especial, o Papa recomenda a preparação da homilia e o cuidado na sua proclamação. “Comunicar a certeza de que Deus nos ama não é um exercício de retórica, mas condição de credibilidade do próprio sacerdócio”, adverte o pontífice. O papa faz algumas sugestões, como de um domingo dedicado inteiramente à Palavra de Deus, em prol de sua difusão, conhecimento e aprofundamento.
Perdão
O pontífice dedica amplo espaço na Carta Apostólica para falar do sacramento da Reconciliação, “que precisa voltar a ter o seu lugar central na vida cristã”. Francisco agradece aos “missionários da misericórdia”, que ele instituiu no início deste Jubileu para aproximar os fiéis da confissão. De fato, determinou que este ministério não termine com o fechamento da Porta Santa, mas permaneça até novas ordens. Aos confessores, o papa pediu acolhimento, disponibilidade, generosidade e clarividência. “Não há lei nem preceito que possa impedir a Deus de reabraçar o filho. Deter-se apenas na lei equivale a invalidar a fé e a misericórdia divina”, escreve, pedindo que seja reforçada nas dioceses a celebração da iniciativa “24 horas para o Senhor”, nas proximidades do IV domingo para a Quaresma.
Absolvição do aborto
Neste contexto, se encontra a grande novidade da Carta Apostólica. A partir de agora, o pontífice concede a todos os sacerdotes a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto. “Aquilo que eu concedera de forma limitada ao período jubilar fica agora alargado no tempo, não obstante qualquer disposição em contrário. Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai. Portanto, cada sacerdote faça-se guia, apoio e conforto no acompanhamento dos penitentes neste caminho de especial reconciliação.”
Fraternidade de São Pio X
Na mesma linha, o papa estende a absolvição sacramental dos pecados aos fiéis que frequentam as igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade de São Pio X, instituída no Ano Santo. “Para o bem pastoral destes fiéis e confiando na boa vontade dos seus sacerdotes para que se possa recuperar a plena comunhão na Igreja Católica, estabeleço por minha própria decisão de estender esta faculdade para além do período jubilar, até novas disposições sobre o assunto, a fim de que a ninguém falte jamais o sinal sacramental da reconciliação através do perdão da Igreja.”
Caridade
Francisco fala ainda da importância da consolação, principalmente na família e no momento da morte, mas é à caridade que dedica outra grande parte da Carta Apostólica: “Termina o Jubileu e fecha-se a Porta Santa. Mas a porta da misericórdia do nosso coração permanece sempre aberta. (…) Por sua natureza, a misericórdia se torna visível e palpável numa ação concreta e dinâmica”.
O papa cita algumas iniciativas deste Ano Jubilar, como as sextas-feiras da misericórdia, para agradecer aos inúmeros voluntários que dedicam seu tempo ao próximo. Mas para incrementar essas iniciativas, o Pontífice pede que se “arregace as mangas”, com imaginação e criatividade. As obras de misericórdia – escreve – têm “valor social” diante de um mundo que continua gerando novas formas de pobreza espiritual e material, que comprometem a dignidade das pessoas.
“O caráter social da misericórdia exige que não permaneçamos inertes mas afugentemos a indiferença e a hipocrisia para que os planos e os projetos não fiquem letra morta”. Para Francisco, com as obras de misericórdia se pode criar uma verdadeira revolução cultural.
Dia Mundial dos Pobres
No final da Carta Apostólica, como mais um sinal concreto deste Ano Santo Extraordinário, o papa Francisco institui para toda a Igreja o Dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado no 33º Domingo do Tempo Comum. “Será a mais digna preparação para bem viver a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, que Se identificou com os mais pequenos e os pobres. Será um Dia que vai ajudar as comunidades e cada batizado a refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho e tomar consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro jazer à porta da nossa casa. Além disso este Dia constituirá uma forma genuína de nova evangelização”, explicou.
Por CNBB, com Rádio Vaticano