Quero saudar com sentimentos de terna alegria aos presbíteros, religiosos, religiosas, consagrados e consagradas, seminaristas, cristãos leigos, representantes das paróquias, ouvintes da rádio Coração Fiel e internautas.
Este é um dia especial para nós sacerdotes de Jesus Cristo. É o dia em que fazemos memória da instituição do sacerdócio, dom precioso de Cristo para sua Igreja. É o dia de ressignificar nossas vocações lastreadas na Misericórdia da Graça Divina. Como ouvimos no Evangelho cremos que fomos consagrados com a unção do Espírito para anunciar a Boa Nova aos pobres e proclamar a libertação aos cativos. Neste ano somos chamados a sermos anunciadores da misericórdia. A Igreja precisa de evangelizadores misericordiosos.
Nesta Missa do Crisma, os bispos com o seus presbitérios, celebram a unidade da diocese. A unidade que vem de Cristo misericordioso e é solidificada pela graça sacramental. A fraternidade sacerdotal não deve existir só pelos vínculos da amizade, mas sim pela graça do Sacramento da Ordem exercido em comunhão misericordiosa com o Bispo e o Papa. A Misericórdia Divina alcança os eleitos e consagrados de Cristo e eles mesmos se tornam portadores da bondade divina para as pessoas. “À medida que o homem experimenta a misericórdia de Deus, ele entende que Deus é amor e, como tal, perdoa, não castiga” (Coleção Misericórdia Vol. III CNBB- pág. 40).
Neste ano temos a alegria de celebrar o jubileu de ordenação de quatro presbíteros, em nossa Diocese. Três padres estão celebrando o Jubileu de Prata. São eles o Pe. Davi José de Araújo, o Missionário Claretino, Pe. Matias Garcia Gil e o Pe. Antônio Teixeira Sobrinho. Temos a alegria de celebrar o Jubileu de Ouro de Ordenação Presbiteral do Missionário Claretiano, Pe. José Maria Garcia Gil. Todos esses anos sacerdotais que eles viveram foram marcados pela misericórdia. O sacerdote sabe o quanto necessita da misericórdia de Deus e das pessoas. Ele deve se antecipar com gestos de misericórdia em suas ações em meio as ovelhas feridas, empoeiradas, enfermas, arredias, assustadas, cansadas, fatigadas e muitas vezes desesperançadas, como estão nos dias atuais, em nosso país.
O sacerdote com cheiro de ovelhas, tendo por inspiração de vida, o que emana de Jesus Cristo, o Misericordioso Pastor, deve se esforçar para conhecer intimamente o Pai e, transmitir especialmente com o testemunho esse conhecimento às suas ovelhas. Jesus conhece de perto a nossa frágil condição humana e no seu sacrifício na cruz garante a salvação para todos nós. Ele é verdadeiramente o “Rosto da Misericórdia de Deus”. Nele o “Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel” (Ex 34,6) se manifestou plenamente.
“Precisamos contemplar o mistério da misericórdia. Ela é fonte de alegria, serenidade e paz. É condição de nossa salvação” (MV 2). Como é importante nos tornarmos agentes da misericórdia socorrendo os que passam fome, sede, vestindo os nus, acolhendo os peregrinos, visitando os enfermos, os presos e sepultando os mortos. O agir misericordioso nos provoca a ensinar os que não sabem, dar conselho a quem necessita, corrigir as injúrias e perdoá-las, consolar os tristes, sofrer com paciência os defeitos dos outros e rezar pelos vivos e pelos mortos. (Obras de Misericórdia).
O Papa Francisco falando aos Párocos de Roma os exortou a agir com misericórdia. Disse ele: “O sacerdote é chamado a aprender isto, a ter um coração que se comove. Os presbíteros ascetas, aqueles de laboratório, completamente limpos e bonitos, não ajudam a Igreja. Hoje podemos pensar a Igreja como um hospital de campo. É necessário curar as feridas, e elas são numerosas. Existem muitas pessoas feridas por problemas materiais, por escândalos, pela ilusões do mundo. Nós sacerdotes devemos estar ali próximos destas pessoas. Misericórdia significa, antes de tudo, curar as feridas. Quando alguém está ferido tem necessidade não de análise como saber as taxas de colesterol, glicemia… Mas quando há uma ferida curemo-la e depois vejamos a análise. Em seguida façam-se os tratamentos com um especialista, mas antes é necessário curar as chagas abertas. Existem também feridas escondidas, porque há pessoas que se afastam, para que não lhes vejam as feridas. Há pessoas que se distanciam porque sentem vergonha, aquela vergonha que lhes impede de mostrar as chagas”. As palavras do Papa nos inquietam. Conhecemos as feridas dos nossos paroquianos? Conseguimos intui-las? Permanecemos próximos deles?
Ainda nesta fala aos Párocos de Roma, o Papa os pergunta se eles choram, ou perdem lágrimas. Ele recorda uma oração antiga nos Missais. “Senhor, Vós que confiastes a Moisés o mandato de bater na pedra para que dela brotasse a água, batei na pedra do meu coração, para que eu verta lágrimas…”. Ele pergunta: “Quantos de nós choram diante do sofrimento de uma criança, perante a destruição de uma família, diante de tantas pessoas que não encontram o seu caminho?”. São muitos os testemunhos de sacerdotes em nossa diocese que se comovem com o sofrimento das pessoas. Sou conhecedor do testemunho de muitos sacerdotes que se fazem presentes no momento da dor e ajudam a curar as feridas.
O Papa perguntou ainda aos Párocos como eles terminavam o dia. Com o Senhor, ou com a televisão? Recordei-me de Dom Luciano, que perguntava qual era a última luz a os iluminar antes de dormir. A do Sacrário, ou a da televisão? E hoje se pode perguntar também pela do computador, do tablete e do celular?
O Plano de Pastoral da nossa Diocese que hoje é entregue aos senhores nos ajude a abrimos caminhos de misericórdia. O que Deus nos inspirou a fazermos e que acolhemos em nossa Assembleia Diocesana e que consta no PDP seja colocado em prática. Exorto aos Presidentes das Comissões das cinco urgências pastorais a fazerem os encaminhamentos para que nosso Plano seja colocado em prática. Formem as comissões. Nas comunidades de nossa Diocese o Plano seja conhecido e colocado em prática. Deus nos ajude a andarmos nos seus caminhos.
“Nesta Quinta Feira Santa renovaremos as nossas promessas sacerdotais. Ao fazê-lo, desejamos que Cristo, em certo sentido, nos abrace novamente com o seu sacerdócio santo, com o seu sacrifício, com a sua agonia no Getsêmani e morte no Gólgota, e com sua ressurreição gloriosa. Reproduzindo, por assim dizer os passos de Cristo em todos estes acontecimentos de salvação, descobrimos a sua abertura profundíssima ao Pai. E é por isso que, em cada Eucaristia, se renova de algum modo o pedido feito pelo apóstolo Filipe no Cenáculo: “Senhor, mostra-nos o Pai”, e Cristo responde assim: “Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces? (…) Não acreditas que estou no Pai, e que o Pai está em mim?” (Jo 14,9-10)” (Cartas de São João Paulo II aos sacerdotes – Quinta Feira Santa 1999).
É verdade que ainda não conhecemos plenamente a Cristo. E Ele está conosco todos os dias especialmente no Sacramento da Eucaristia. Podemos contemplá-lo e tocá-lo, mas embora esteja há tanto tempo não o conhecemos e não o amamos como deve. Ele permanece conosco para que nele possamos crescer. Ele nos chamou, fez de nós um reino de sacerdotes, nos consagrou com a unção para anunciar a Boa nova aos pobres, para proclamar a libertação aos cativos, a recuperação da vista aos cegos, libertar os oprimidos e anunciar o ano da graça do Senhor. Para anunciar a misericórdia fomos chamados e consagrados.
Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo Diocesano