Tudo começou com a ação de Deus em criar e confiar a criação, ao homem e à mulher, obras primas de suas mãos.
A Teologia da criação apresentada no Gênesis nos fala dos atos criadores de Deus. Ele preparou um jardim para colocar a vida no meio dele. “E Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden para o cultivar e o guardar (Gn 2,15).
Estamos no meio do jardim, mas muitas vezes nos faltam a beleza das flores, pois temos que utilizar as flores de plástico. A natureza vai sendo cada dia mais explorada e cruxificada. Esperamos que a Campanha da Fraternidade ajude na ressurreição dos Biomas Brasileiros. Já não temos tanto cerrado como no passado. O desmatamento e queimadas o destroem e a vida perde sua qualidade. A água que tanto precisamos depende da existência dele.
O Papa Francisco diz que: “A acusação que a ordem de Deus “enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28) favorecia a exploração selvagem da natureza se baseia numa má compreensão do texto. Na encíclica Laudato Si’ ele explica que “cultivar quer dizer lavrar ou trabalhar um terreno, ‘guardar’ significa proteger, cuidar, preservar, velar. Isto implica uma relação de reciprocidade responsável entre o ser humano e a natureza. Ademais o próprio relato da criação indica limites: não é lícito ao casal comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, indicando com isso que o homem não pode dispor da terra a seu bel-prazer” (Gn 2,27) (Texto Base 232).
Tudo era harmonia, mas o pecado entrou na humanidade. Feriu-se a relação com Deus. O casal já não mais vivia em harmonia com Deus no paraíso. Precisou esconder-se. Nasce o desejo de querer ser Deus. Babel. As relações humanas são afetadas e degeneram-se gradualmente: se tornam cúmplice, transfere a culpa para o outro, a violência cresce, Caim mata Abel, em Babel a linguagem se confunde: perde-se a linguagem do amor, Sodoma e Gomorra são destruídas, o Egito sofre as pragas, Nínive é ameaçada, Jerusalém sofre o pecado de Davi (2Sm 24).
Aos Profetas cabe a missão de denunciar o pecado. Cristo vem e restaura a vida e o universo. É a partir de Jesus que nasceu no berço que a natureza pode lhe oferecer, viveu em contato com as pessoas e a natureza, morreu pendurado na cruz que é a árvore da vida e foi sepultado no Jardim e aí ressuscitou. É a partir Dele que hoje nós somos chamados a guardar e cuidar da criação.
A Igreja especialmente nos últimos tempos vem chamando atenção para este aspecto. A exortação apostólica do Papa Francisco “Laudato Si’, é o ponto culminante deste caminho. Ele no início de seu pontificado afirmou que “guardar a criação inteira é um serviço que o Bispo de Roma é chamado a cumprir” (Texto Base 246).
O Beato Paulo VI, na carta Octagesima Advenins em comomoração dos oitenta anos da encíclica Rerum Novarum (Papa Leão XIII) , iniciou a reflexão do magistério pontifício sobre a ecologia.
São João Paulo II falou da ecologia e ética. Em sua encíclica Centésimus Annus, São João Paulo II torna a questão ecológica mais ampla e a liga ao ambiente humano. A vida depende da questão ecológica.
O Papa Bento XVI falou sobre a ecologia humana. Ele foi apresentado por diversas vezes como “o primeiro Papa verde”.
Na encíclica Caritas in Veritate ele afirmou: “A Igreja tem uma responsabilidade pela criação e deve fazer valer essa responsabilidade também em público”.
No magistério do Papa Francisco aparece uma clara visão global, em continuidade com seus antecessores.
O Papa Francisco inclui o tema da ecologia na Doutrina Social da Igreja e produz assim um Documento, a Laudato Si’ na qual quer assegurar que centenas de milhões de pessoas tenham água limpa para beber, ar puro para respirar, possam levar uma vida digna, ter acesso aos bens do desenvolvimento integral, boas condições de saúde e possam continuar se relacionando com a criação, da qual são parte.
Concluo dizendo que o tema dos Biomas Brasileiros recebem uma rica iluminação da Palavra de Deus e do magistério da Igreja. Como cristãos somos verdadeiramente convocados a cultivar e guardar a criação. Defendendo os biomas estamos defendendo a vida. Assim também expressou o Papa Francisco na sua mensagem enviada ao povo brasileiro por essa ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade.
Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo da Diocese de Uruaçu na abertura da Campanha da Fraternidade 2017