O que a dona Rosa Lopes Neves (45) segura nas mãos não são apenas pacotes de açaí; são as chaves que a libertaram das correntes da miséria. Com sérios problemas na coluna, ela não conseguia mais trabalhar na lavoura. Desempregada, chegou ao extremo de não ter o que comer em casa. Quando os vicentinos souberam das dificuldades de dona Rosa, a primeira medida foi a doação de cestas básicas semanais para ela e o filho. “É como diz o ditado: ‘saco vazio não para em pé’”, analisa a consócia (nome dado às mulheres vicentinas) Antônia Arlene de Moura Pereira. Certificados de que a família não passaria mais fome, os vicentinos começaram a atuar em outra frente de trabalho: a criação de uma fonte de renda para promover socialmente a assistida. Eles estudaram muito a situação e perceberam que o melhor caminho seria a doação de uma máquina para o processamento do açaí, já que o fruto tem em abundância na região onde ela mora e é muito apreciado pelos paraenses.
Os membros da Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) criaram um projeto e solicitaram recursos ao Conselho Nacional do Brasil – Unidade que administra os trabalhos da SSVP no país – e conseguiram o dinheiro para comprar os equipamentos. Com a venda do açaí, ela ganha em média R$50 por dia. Dá para comprar alimentos e, o que sobra, guarda em prol da concretização de um sonho. “Eu sou muito grata a Deus por ter esta casa de pau a pique, mas eu queria muito morar numa casa de alvenaria, onde não entrassem bichos e a gente não tivesse problemas com as goteiras”, chora.
Dona Rosa é uma das 1,5 milhão de pessoas que recebem a assistência da SSVP no Brasil. Mais de uma tonelada de alimentos são distribuídos semanalmente. Mas a cesta básica não é o mais importante: “ela significa apenas um pretexto para que os vicentinos possam entrar nas casas dos Pobres, entender os dramas que os afligem e motivá-los a terem esperança; a sonharem e acreditarem com um futuro melhor”, explica o confrade (nome dado aos vicentinos homens) Carlos Henrique David no livro A mística da visita aos Pobres (Coleção Vicentina), que expõe de forma detalhada como funciona o trabalho dos vicentinos.
SSVP
A Sociedade de São Vicente de Paulo foi fundada pelo confrade e bem-aventurado Antonio Frederico Ozanam e mais seis amigos em 1833, na França, para ajudar as pessoas Pobres. Como a fome é um problema mundial, a SSVP se espalhou pelo mundo. Hoje, ela está presente em 153 países. O Brasil é o maior em número de membros: cerca de 150 mil.
Trabalho
Além das visitas semanais com a distribuição de cestas básicas, os vicentinos administram 751 Obras Unidas, que são educandários e principalmente Instituições de Longa Permanência (ILPIs), a exemplo de asilos. Neles, os idosos recebem alimentação, remédios, cuidados e carinho.
A promoção social no meio vicentino recebe o nome de Mudança Sistêmica.
“Nós, os vicentinos, não somos apenas entregadores de cestas básicas. Somos verdadeiros vocacionados e discípulos do Evangelho de Jesus Cristo, servindo sempre aos ‘pequeninos’ do Reino. Escrevemos a palavra Pobres com inicial maiúscula, porque acreditamos que ao servi-Los, estamos servindo ao próprio Cristo” – confrade Cristian Reis da Luz, presidente nacional da SSVP
Seja parte da Rede de Caridade
Se você é leigo e quer praticar a caridade em nome de Jesus, seja um (a) vicentino (a). Procure uma Conferência na sua Paróquia e ajude a aumentar esta rede de amor, esperança e serviço aos Pobres.
*Matéria publicada na primeira edição da revista CNBB Social/2019
*Com informações da Sociedade São Vicente de Paulo Brasil (SSVP)