Francisco assinou a 3 de outubro de 2020 a sua nova Encíclica: “Fratelli tutti”, “Todos irmãos”. Com esta expressão, o Papa recorda o Santo de Assis e propõe “uma forma de vida com sabor a Evangelho”.
Francisco de Roma deixou-se inspirar por Francisco de Assis e colocou-se na esteira do futuro propondo um caminho de fraternidade. Desde o primeiro dia do seu pontificado, que o Papa Francisco se apresentou ao mundo com a palavra “irmãos”. Logo ali na noite da sua eleição, em Roma, a 13 de março de 2013: “Irmãos e irmãs, boa noite!” – disse.
E lançou um desafio: “Comecemos este caminho, bispo e povo, um caminho de fraternidade e de confiança entre nós.”
Depois da Encíclica “Lumen Fidei”, em 2013 e da “Laudato Si”, em 2015, Francisco dirige-nos um grande desafio. O desafio da fraternidade proposta por Jesus: amar o próximo como a mim mesmo.
Anseio mundial de fraternidade
A Encíclica “Fratelli tutti”, “Todos irmãos”, terceira do pontificado de Francisco, é um texto dedicado à fraternidade e à amizade social que procura acender uma luz de esperança numa humanidade sofrida. Especialmente neste tempo de pandemia.
O Papa refere-se, precisamente à Covid-19, logo no número 7 da sua Encíclica afirmando que esta doença “irrompeu de forma inesperada” tendo deixado “a descoberto as nossas falsas seguranças”. “Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade” – escreve o Papa.
Cada vida é vida em comum
Foram vários os bispos portugueses dos quais recolhemos comentários e reflexões sobre a nova Encíclica do Papa Francisco. Recordamos aqui dois pequenos apontamentos. Para o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, esta Encíclica tem um significado especial em tempo de pandemia, uma conjuntura na qual “cada vida, é vida em comum, é vida de uns com os outros”:
“Estamos todos dolorosamente separados uns dos outros, tememos os contactos. Temos medo de entrar em relação. A vulnerabilidade está patente aos olhos de todos. Assim como também a precaridade mostra a verdadeira condição humana. E a ciência confessa também os seus limites. E é um pouco nesta situação do limite que nós reconhecemos que teremos que ser solidários. Nesta conjuntura verificamos que cada vida, é vida em comum, é vida de uns com os outros. É vida de uns para com os outros. A minha vida não depende só de mim, somos parte integrante da humanidade e a humanidade é parte de nós mesmos. Somos um corpo, somos uma família, vivemos e interpretamos a fraternidade.”
Parábola do bom samaritano é fio condutor
Para o bispo de Bragança-Miranda, a parábola do bom samaritano é o “fio condutor” da Encíclica do Papa Francisco. D. José Cordeiro considera que em tempo de pandemia é bom exercitar a reflexão sobre a questão: ‘quem é o meu próximo?’
“No tempo de pandemia, o uso da máscara exercita ainda mais o ouvir e o olhar. E o Papa Francisco cita Santo Agostinho para sublinhar esta contribuição peculiar de todos e de cada um. O ouvido vê através do olho e o olho escuta através do ouvido. E neste tempo de pandemia, em que revalorizamos a família, a comunidade e tantos valores que pareciam estar mais esquecidos é também a oportunidade desta questão fundamental do próximo: ‘Quem é o meu próximo?’. E a parábola do bom samaritano é aqui o fio condutor desta Encíclica social. Porque não se avança sem memória, como diz o Papa, olhando para Cristo como Bom Pastor. Nós somos também desafiados a perguntar: de quem é que eu me aproximo?” – perguntou o prelado.
Precisamos mais do que nunca de fraternidade
No Dia de Natal de 2020 o Papa na sua Mensagem e Benção Urbi et Orbi referiu-se de maneira especial ao período difícil que estamos a viver com a pandemia de Covid-19. Um “momento histórico” onde a solução chama-se fraternidade – disse Francisco:
“Neste momento histórico, marcado pela crise ecológica e por graves desequilíbrios económicos e sociais, agravados pela pandemia do coronavírus, precisamos mais do que nunca de fraternidade. E Deus oferece-a, dando-nos o seu Filho Jesus: não uma fraternidade feita de palavras bonitas, ideais abstratos, vagos sentimentos… Não! Uma fraternidade baseada no amor real, capaz de encontrar o outro diferente de mim, de compadecer-me dos seus sofrimentos, aproximar-me e cuidar dele mesmo que não seja da minha família, da minha etnia, da minha religião; é diferente de mim, mas é filho de Deus meu irmão, é minha irmã. E isto é válido também nas relações entre os povos e as nações. Todos irmãos” – declarou o Santo Padre.
Na sua Encíclica “Fratelli tutti”, “Todos irmãos”, o Santo Padre indica um caminho a percorrer, por uma fraternidade a procurar. Um caminho que é esperança para o futuro da humanidade.
Laudetur Iesus Christus