Neste domingo, 13, o Papa Francisco presidiu a Santa Missa na Basílica São Pedro por ocasião do Jubileu dos Socialmente Excluídos. “Se quiseres encontrar Deus, procura-o onde Ele está escondido: nos mais necessitados, nos doentes, nos famintos, nos presos”, disse.
Em seu discurso, o Santo Padre recordou que “neste mundo quase tudo passa, como a corrente da água”, e as riquezas que permanecem, seguramente são duas: o Senhor e o próximo. Os bens maiores que devemos amar”. Neste sentido, observou a lupa da Igreja está apontada ao irmão esquecido e excluído.
“As leituras do dia nos remetem precisamente àqueles que têm confiança no Senhor, que depõem a sua esperança n’Ele, escolhendo-O como bem supremo da vida e recusando-se a viver só para si mesmos e seus interesses. Para eles, pobres de si mas ricos de Deus, brilhará o sol da sua justiça: são os pobres em espírito, a quem Jesus promete o reino dos céus e dos quais Deus, pela boca do profeta Malaquias, declara: são meus”, disse Francisco.
O Pontífice explica que as leituras do dia contrapõe os que colocam a sua esperança no Senhor e os soberbos, aqueles que puseram na sua autossuficiência e nos bens do mundo a segurança da vida. E interpela sobre o sentido último da existência.
“Onde busco a minha segurança? No Senhor ou em outras seguranças que não são do agrado de Deus? Qual é a direção da minha vida, para onde olha o meu coração? Para o Senhor da vida ou para as coisas que passam e não saciam?”, questiona.
Da mesma forma o Evangelho de Lucas fala de conflitos, carestias, convulsões na terra e no céu. Mas Jesus não quer assustar, mas dizer que tudo aquilo que se vê passa inexoravelmente. Mesmo os reinos mais poderosos, os edifícios mais sagrados e as realidades mais firmes do mundo não duram para sempre; mais cedo ou mais tarde, caem.
Diante das palavras de Jesus sobre o final dos tempos, as pessoas ficam curiosas em saber: ‘quando sucederá isto? e qual será o sinal?’: “Sempre somos impelidos pela curiosidade: quer-se saber quando e receber sinais. Esta curiosidade, porém, não agrada a Jesus. Pelo contrário, exorta a não nos deixarmos enganar pelos pregadores apocalíticos. Quem segue Jesus não presta ouvidos aos profetas da desgraça, à futilidade dos horóscopos, às previsões que amedrontam, distraindo daquilo que conta. O Senhor convida a distinguir, dentre as muitas vozes que se ouvem, aquilo que vem d’Ele e o que vem do falso espírito. É importante distinguir entre o sábio convite que Deus nos dirige cada dia e o clamor de quem se serve do nome de Deus para assustar, sustentando divisões e medos”.
Sejais firmes e perseverantes
Diante dos ‘cataclismas de cada época’, Jesus pede a todos para serem firmes e perseverantes no bem, com plena confiança em Deus que não desilude.
“Hoje, no entanto, somos interpelados sobre o sentido de nossa existência. As leituras do dia se apresentam como uma peneira no meio do fluxo de nossa vida”, disse o Papa, e acrescenta que elas lembram que, neste mundo, quase tudo passa, como a corrente da água; mas há realidades preciosas que permanecem, como uma pedra preciosa numa peneira.
“E o que é que resta? O que é que tem valor na vida? Quais são as riquezas que não desaparecem? Seguramente duas: o Senhor e o próximo. Estes são os bens maiores, que havemos de amar. Todo o resto – o céu, a terra, as coisas mais belas, mesmo esta Basílica – passa; mas não devemos excluir da vida Deus e os outros.”
Dia jubilar
Francisco observa que, todavia, neste dia jubilar que fala de exclusão, imediatamente vêm à mente pessoas concretas; não coisas inúteis, mas pessoas preciosas.
“A pessoa humana, colocada por Deus no cume da criação, muitas vezes é descartada, porque se prefere as coisas que passam. Isto é inaceitável, porque o ser humano é o bem mais precioso aos olhos de Deus. E é grave que nos habituemos a este descarte; é preciso preocupar-se quando se anestesia a consciência, já não fazendo caso do irmão que sofre ao nosso lado nem dos problemas sérios do mundo, que se reduzem a um refrão já ouvido nos sumários dos telejornais”.
Dirigindo-se aos socialmente excluídos, o Papa recorda que Deus não se detém nas aparências, mas fixa o seu olhar nos humildes de coração contrito, em tantos pobres Lázaros de hoje. “Como nos faz mal fingir que não nos damos conta do Lázaro que é excluído e descartado!”, adverte.
“Temos um sintoma de esclerose espiritual, quando o interesse se concentra nas coisas a produzir, em vez de ser nas pessoas a amar. Assim nasce a dramática contradição dos nossos tempos: quanto mais crescem o progresso e as possibilidades, e isto é bom, tanto maior é o número daqueles que não lhes podem chegar. É uma grande injustiça que nos deve preocupar muito mais do que saber quando e como será o fim do mundo. Com efeito, não se pode estar tranquilo em casa, enquanto Lázaro jazer à porta; não há paz em casa de quem está bem, quando falta justiça na casa de todos”.
Porta Santa
Ao recordar que este domingo foram fechadas as portas da Misericórdia em Catedrais e Santuários em todo o mundo, Francisco exortou para pedir “a graça de não fechar os olhos perante Deus, que nos olha e o próximo que nos interpela”.
“Abramos os olhos a Deus, purificando a visão do coração das representações enganadoras e pavorosas, do deus da força e dos castigos, projeção da soberba e dos medos humanos. Olhemos com confiança para o Deus da misericórdia, com a certeza de que o amor jamais passará. Renovemos a esperança da vida verdadeira a que somos chamados, aquela que não passará e que nos espera em comunhão com o Senhor e com os outros, numa alegria que durará para sempre, sem fim. E abramos os olhos ao próximo, sobretudo ao irmão esquecido e excluído. Para ele está apontada a lupa da Igreja; que o Senhor nos livre de a voltarmos para nós. Afaste-nos das quimeras que nos distraem, dos interesses e dos privilégios, do apego ao poder e à glória, da sedução do espírito do mundo”.
O Papa diz ainda que de modo particular a nossa Mãe Igreja olha para toda a humanidade que sofre e chora, pois ela sabe que esta lhe pertence, por direito evangélico.
“Por direito e também por dever evangélico, porque é nossa tarefa cuidar da verdadeira riqueza que são os pobres, como bem no-lo recorda uma antiga tradição referente ao mártir romano São Lourenço. Este, antes de suportar um martírio atroz por amor do Senhor, distribuiu os bens da comunidade aos pobres, por ele designados como verdadeiros tesouros da Igreja”.
Que o Senhor nos conceda a graça de olhar sem medo para aquilo que conta, dirigir o coração para Ele e para os nossos verdadeiros tesouros.
Por Canção Nova, com Rádio Vaticano