“As entrevistas, para mim, têm sempre um valor pastoral”, “se não tivesse esta confiança, não concederia entrevistas”.
É o que enfatiza o Papa Francisco no prefácio do livro “Adesso Fate le vostre domande” (“Agora façam as vossas perguntas”), do Padre Antônio Spadaro, apresentado no final da tarde do último sábado na sede da “Civiltà Cattolica”.
Jorge Mario Bergoglio, recorda que quando era Arcebispo em Buenos Aires, “tinha um pouco de medo dos jornalistas” e por esta razão não concedia entrevistas. Como Pontífice, porém, convenceu-se de que as entrevistas são “uma maneira de comunicação” de seu ministério.
E, significativamente, une “estas conversações nas entrevistas com a forma cotidiana das homilias na Santa Marta, que é – digamos assim – a minha paróquia”.
Francisco sublinha que nas entrevistas, assim como nas coletivas com os jornalistas no avião, lhe agrada “olhar as pessoas nos olhos e responder às perguntas com sinceridade”.
“Sei que isto pode me tornar vulnerável, mas – acrescenta – é um risco que quero correr”.
Para mim – prossegue – “as entrevistas são um diálogo, não uma lição”, eis porque “não me preparo”.
O livro traz também duas conversas com os Superiores Gerais. “Conversar – escreve o Papa – sempre me pareceu o melhor modo para encontrar-nos realmente”.
Existem também conversas com os jesuítas, onde – destaca – “me sinto em família e falo a nossa linguagem de família, e não temo incompreensões”.
O Papa conclui o prefácio do livro, reiterando o desejo de uma “Igreja que saiba inserir-se nas conversas dos homens, que saiba dialogar”. “É a Igreja de Emaús – observa Francisco – em que o Senhor entrevista os discípulos que caminham desencorajados. Para mim, a entrevista é parte desta conversação da Igreja com os homens de hoje”.
Sobre o significado das entrevistas para o Papa Francisco, a Rádio Vaticano entrevistou o jesuíta Padre Antonio Spadaro, responsável pela obra:
“Papa Francisco ama as entrevistas porque assim escuta as perguntas das pessoas. Às vezes, os jornalistas fazem o papel de mediadores das perguntas que são importantes para as pessoas, mesmo as pessoas comuns. Por isto o Papa aceitou conceder entrevistas e responder aos jornalistas, porque assim pode falar diretamente às pessoas”.
RV: O Papa diz no prefácio, que não se prepara com antecedência para as entrevistas. A coisa mais importante é olhar-se nos olhos. É a cultura do encontro de que tanto fala?
“Sim. Sobretudo ele escuta as perguntas. No fundo, ama recebê-las, não tanto para dar uma resposta precisa, definida, fechada, mas mais para escutar aquilo que as pessoas têm a dizer. E depois, a sua resposta, é muito atenta à própria pergunta, isto é, o Papa não responde àquelas dúvidas falsas ou àquelas perguntas que na realidade não comunicam uma inquietação; responde à inquietação, aquela verdadeira”.
RV: O senhor entrevistou o Papa Francisco e testemunhou entrevistas e conversações suas. O que mais lhe tocou nestas ocasiões?
“Eu diria, a tempestividade e a capacidade de escuta: isto sim. Ou seja, a capacidade de receber as perguntas e o fato que ele não está interessado em fazer grandes discursos e tanto menos de escutá-los, mas sim abrir um diálogo que seja expressão de um encontro verdadeiro”.
Por Rádio Vaticano